CBA e FPA dizem que prefeitura de Carpina desrespeitou lei ao dar aval a “evento pirata”

CBA e FPA garantiram que não tinham conhecimento da corrida de kart que matou rapaz em Carpina, classificaram evento como pirata e prometeram acionar responsáveis na Justiça. Fonte ouvida pelo GRANDE PRÊMIO, porém, contesta o alegado desconhecimento das autoridades desportivas

A etapa de Carpina da Copa Interiorana de Kart, realizada no último domingo (2), não tinha o aval das autoridades que comandam o automobilismo em Pernambuco e no Brasil. A prova, disputava nas ruas da pequena cidade de pouco mais de 75 mil habitantes e localizada a 50 km de Recife, ganhou as manchetes por conta de uma tragédia: a morte do piloto Fernando Lopes, de 32 anos, depois de um forte acidente


Lopes perdeu o controle de seu kart e foi de encontro a um poste nos limites da improvisada e insegura pista de rua. Os pneus, usados como barreira de proteção, não foram suficientes para conter o impacto. O kartista chegou a ser atendido ainda no circuito e foi transferido para uma unidade de saúde, onde não resistiu aos ferimentos e morreu.

As imagens do atendimento, do acidente e do próprio evento chocam pela total precariedade. Claramente, nem público e nem pilotos estavam em um ambiente de condições mínimas de segurança. O GRANDE PRÊMIO foi atrás de quem dita as regras e de quem tem o dever de cuidar do esporte a motor no Brasil para explicar o que aconteceu em Carpina. Com exclusividade, o presidente da Federação Pernambucana de Automobilismo, Waldner Bernardo, conhecido como Dadai, afirmou que não tinha conhecimento da corrida e que só ficou sabendo da morte do piloto por meio da imprensa.
Corrida de kart em Carpina, que resultou num acidente fatal, foi clandestina, dizem FPA e CBA (Foto: Reprodução)

"Na realidade, com relação a essa prova de Carpina, eu só soube que existiu por conta do falecimento. Eu não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Foi uma ação da prefeitura de Carpina, junto com alguns promotores de lá. Procuramos fazer agora uma pesquisa e não tinha nenhum piloto filiado, são pessoas até que estão fora do meio do kartismo regional", garantiu Bernardo ao GP.

O dirigente ainda classificou o evento como "pirata". "A informação chega para a imprensa de forma unilateral. Muitas vezes, as pessoas ficam meio que pagando a conta de certas coisas que elas não têm 100% da culpa. Era um evento pirata, a gente não tinha nenhum conhecimento da realização do evento", declarou.

"Aqui, só temos dois campeonatos de kart homologados: um que acontece no kartódromo do Tamboril, que é um kartódromo totalmente homologado, e temos um campeonato de kart indoor, que acontece em uma pista de kart indoor, porque a outra, inclusive, a gente acha que não tem a segurança necessária. Essa outra prova, se não acontecesse essa fatalidade, eu não saberia que estava acontecendo", completou.

"É o segundo ano. No ano passado, os caras fizeram algumas provas no interior do estado. Nós estamos falando de um estado que tem, de ponta a ponta, mais de 800 km. Muitas vezes, as coisas acontecem e a informação não chega para você. Eu pesquisei agora e soube que já tinha acontecido, em Timbaúba, uma primeira etapa deste campeonato, e eu não tinha conhecimento nenhum", emendou.

E Bernardo novamente culpou a prefeitura de Carpina pela realização do evento sem o conhecimento da FPA, alegando que, para que um evento automobilismo aconteça em um local urbano, é necessário seguir o Código de Trânsito Brasileiro, que diz que, basicamente, a corrida precisa do aval da CBA, a Confederação Brasileira de Automobilismo, ou de sua filiada.

"Ou seja, a própria Prefeitura está indo contra a legislação. Ela não poderia nunca fazer um evento desses sem consultar a federação. E se consultasse, não teria alvará para isso. A própria Prefeitura está ferindo a lei do Código de Trânsito nacional", ressaltou.

Ainda insistindo no não conhecimento do evento, Bernardo também reafirmou que vai acionar na Justiça os responsáveis e, de novo, jogou a bola para a prefeitura de Carpina. "A federação vai apoiar no que for possível para que sejam encontradas as pessoas responsáveis. Na notícia que eu vi, que todo mundo está vendo, tem um cara que se intitula promotor do evento, um tal de Diego [Mendonça]. O secretário de Turismo da cidade diz que realmente cedeu espaço [para a realização da prova]. Eles tinham conhecimento do que estava acontecendo", reiterou. 

"Estou tendo uma reunião com o nosso jurídico para saber quais são os meios legais para  acionar judicialmente o poder público estadual e noticiar a prefeitura, ou o que quer que seja, e dar o apoio à família no sentido de dar um respaldo jurídico. Porque, infelizmente, a coisa já aconteceu. Se a gente tivesse conhecimento disso antes, a gente podia até ter notificado a Prefeitura de que era um evento pirata. Imagino eu, inclusive, que se a gente tivesse feito isso, ele não deixaria acontecer. A gente não tem o poder de mandar prender nem de mandar fechar, nem nada. A gente tem o poder esportivo. Vamos ver o que é possível fazer para que isso não se repita novamente, porque é difícil, não é fácil controlar. Repito: se não tivesse acontecido o acidente, a gente não estava sabendo de nada. Nem eu, como federação, nem a própria imprensa", acrescentou.

De fato, em entrevista ao GRANDE PRÊMIO nesta segunda-feira (3), Maicon Ribeiro, que responde pela Secretaria de Cultura e Esportes no município de Carpina, revelou que autorizou o evento. Entretanto, Ribeiro afirmou que a prefeitura não realizou a inspeção para avaliar a segurança do local e nem sabe informar quem a fez. "Para te falar a verdade, não sei lhe informar quem fez a inspeção. Foi uma fatalidade, houve falhas tanto de um lado quanto de outro. A prefeitura emprestou o local do evento, eles só pediram para organizar o evento ali", disse.
Cleyton Pinteiro falou ao GRANDE PRÊMIO sobre o trágico evento em Carpina (Foto: Fernanda Freixosa/Vicar)

O GP também ouviu o presidente da CBA. Cleyton Pinteiro foi na mesma linha do colega dirigente e classificou o evento em Pernambuco como "pirata". Disse que o que houve em Carpina foi um "absurdo" e reiterou que ambas as entidades do esporte a motor não tinham conhecimento da corrida de rua.

"Essa prova não foi autorizada pela Federação Pernambucana, foi uma prova pirata, porque o Código Nacional de Trânsito é claro: qualquer prova de automobilismo em via pública tem de ter o aval da CBA ou de sua filiada. E em nenhum momento foi pedido à CBA e nem à Federação Pernambucana licença para realizar essa prova. Isso foi de uma responsabilidade muito grande de quem permitiu fazer", afirmou Pinteiro, que prometeu também ir atrás dos responsáveis e acionar a Justiça. O dirigente viu o episódio também como um crime.

"Mas eu vou atrás disso aí porque é um absurdo. Você sabe que quando se fala em automobilismo, isso joga lama em todo mundo, não é verdade? Quem fez a coisa errada vai ter de assumir civil e criminalmente e quem autorizou a corrida, também", completou.

Federação sabia das corridas e ameaçou punir pilotos filiados

O GRANDE PRÊMIO apurou que a FPA tinha, sim, conhecimento de eventos realizados fora de sua chancela pelo estado de Pernambuco e que indicou punição aos pilotos filiados que participaram de tais corridas, mas que depois voltou atrás na decisão. "Não era novidade para ninguém, inclusive para a FPA, que as corridas estavam acontecendo em algumas cidades do interior do Estado", disse uma fonte ao GP.

"Logo no início da Copa (primeira etapa), quando a FPA soube da realização desse tipo de evento, ameaçou 'punir' os pilotos federados que participaram. Ameaçou porque puniu, mas voltou atrás e passou a fazer 'vistas grossas'”, completou a mesma fonte, que indicou que pelo menos dois pilotos filiados e em atividade no Campeonato Pernambucano de Kart de 2013 competiram em Carpina.
Questionado, o presidente da FPA negou a informação. "Desafio esta fonte a provar isso", afirmou. “Se ela alega que houve uma punição e depois voltamos atrás, vocês, mais do que ninguém, sabem que punições em automobilismo são dadas por escrito. Não existe punição de 'boca'”, completou Waldner.
 
O dirigente acrescentou que “estamos novamente apurando se tínhamos realmente pilotos filiados”, mas que há dificuldade porque “se trata de uma prova sem nenhum tipo de registro". "Não existe fichas de inscrição ou folha de tempo de cronometragem que nos dê esta prova física, muito menos temos denúncias formais ou fotos destes pilotos.”
 
“Não tenha dúvida de que, se tivermos como identificar algum piloto participando desta prova, nós o faremos, e estes serão devidamente punidos”, ressaltou Dadai. “Nas imagens que temos, todos estão de capacete. Estamos procurando identificar por similaridades com o mesmo utilizado em nosso campeonato ou com o kart usado na competição”, finalizou.

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