Por evolução, SKB faz mudanças que aproximam kart brasileiro do europeu. CBA pode acompanhar

A nona edição do Super Kart Brasil viu a estreia de regras que diminuem a diferença existente entre o kart da Europa e do Brasil para permitir que os pilotos daqui possam chegar no velho mundo competindo em alto nível. Comissão Nacional de Kart ressalva, mas não descarta adotá-las no futuro

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A temporada de 2013 do kartismo brasileiro começou no último fim de semana, em Interlagos, com novidades que agradaram quem disputou o Super Kart Brasil. A introdução do pneu do tipo verde, mais macio, nas provas da categoria Graduados, e a adoção do regulamento internacional para a categoria Shifter, rebatizada como KZ2, foi aprovada pelos pilotos, que viram no Brasil uma competição mais próxima da que existe na Europa.

Mas, a princípio, é somente o SKB que usará tais regras. Só que o campeonato, organizado por sete consagrados pilotos (André Nicastro, Danilo e Dennis Dirani, Paulo Carcasci, Renato Russo, Ruben Carrapatoso e Sérgio Jimenez) pode ser pioneiro e ver sua atitude se espalhar por outros, até mesmo os que são organizados pela Comissão Nacional de Kart, braço da CBA responsável pelo kartismo.

Mais de 150 pilotos correram em Interlagos neste fim de semana (Foto: Fabio Oliveira)

Pneus “verdes” na Graduados

“Qual foi a última vez que você andou com pneu verde?”, perguntou a reportagem do Grande Prêmio aos pilotos em Interlagos. “Acho que você nem era nascido”, respondeu André Nicastro. “Talvez na Copa Brasil em Toledo, 2001. Acho!”, falou Sérgio Jimenez. “Caaara, na última vez que eu andei de pneu verde eu fui campeão brasileiro! 2005, acho que Sudam Júnior, lá em Ipatinga. Que eu lembro!”, puxou pela memória Felipe Guimarães. “Nunca andei”, negou Olin Galli.

Faz tanto tempo que os pilotos mal lembram da última vez. Os pneus do tipo verde são os mais macios fabricados pela única fornecedora de pneus do kartismo brasileiro, a MG, mas caíram em desuso nos últimos anos, quando predominaram os “amarelos” (médios). Mais aderentes, os compostos são mais semelhantes aos usados nas competições europeias, centro do esporte a motor como um todo, incluindo o kart.

O regulamento particular SKB 09 permitiu que os pilotos da categoria Graduados voltassem a ter contato com o pneu verde no Brasil. “A ideia é deixar um pneu um pouco mais próximo da Europa. O foco do piloto que busca a F1 é andar na Europa. Vai ter que andar de kart lá para aprender. Então a gente busca estar o mais próximo possível”, declarou Jimenez, hexacampeão brasileiro de kart e um dos organizadores do Super Kart Brasil.

Guimarães foi desclassificado de uma, mas dominou as duas provas em que foram usados pneus verdes no SKB 09 (Foto: Fabio Oliveira)

Na parte técnica, este tipo de pneu exige uma tocada mais inteligente por parte dos kartistas. “É um pouco mais macio, vira mais rápido e tem um desgaste um pouco maior. É para o piloto ver que não adianta só acelerar, tem que ter um pouquinho de cabeça e cuidar também do pneu”, explicou Jimenez. “O pneu verde prende um pouco mais o kart, então dá para você forçar mais, você tem acelera antes, tem uma guiada mais tranquila, consegue poupar melhor o pneu, então dura mais durante a corrida, apesar dele gastar mais”, falou Guimarães, campeão da categoria Graduados no SKB 09. “Achei bom, porque o amarelo só tem uma volta boa. Com o verde, as oito primeiras voltas são boas”, contou Olin Galli, vencido somente por Guimarães.

A iniciativa foi tão bem aceita que pilotos já pediram aos organizadores do Super Kart Brasil que a categoria KZ2 também utilize pneus do tipo verde. Antes disso, porém, testes precisarão ser realizados para avaliar o comportamento dos compostos nos karts com marchas, mais potentes.

Shifter internacional: a KZ2

A adoção do regulamento CIK-FIA da KZ2 para a Shifter Kart rendeu uma mudança importante na dança das cadeiras do kartismo brasileiro. Danilo Dirani, que há mais de uma década era piloto da Kart Mini, agora corre utilizando chassi Tony Kart e motor Vortex (que pertence ao mesmo conjunto e podia ser usado no Brasil desde 2012; Danilo já o fazia, inclusive). Um dos principais nomes dos karts com marcha no país, o mais velho dos irmãos Dirani já trabalhara com a Tony nos Estados Unidos e na Europa entre 2007 e 2009, e se mudou definitivamente para a marca com vistas no Mundial de Kart.

O acordo foi possível porque, a partir de 2013, Danilo pode competir no Brasil com o chassi da fabricante italiana, que não possui selo de homologação da CNK. “A liberação da categoria KZ2 no SKB abriu a porta para que eu me juntasse com uma fábrica europeia para poder ter chance de disputar o Mundial”, contou à reportagem.

Danilo Dirani na chuva com o Tony Kart (Foto: Fabio Oliveira)

A princípio, o piloto de 30 anos fará somente as etapas do Super Kart Brasil previstas – a participação em outros campeonatos, como a Copa São Paulo Granja Viana, dependerá da liberação dos organizadores, o que ainda não está certo. “Cada um segue a linha que deseja e vê o que é melhor para o seu campeonato. A gente achou importante não só para o SKB, mas também para o kart ter a liberação das categorias tops, a Graduados e a Shifter, ter todo tipo de equipamento e o cara poder se desenvolver como piloto e com as fábricas também”, disse. “Espero que eles liberem porque aí eu posso correr lá!”

Após essa primeira competição, Dirani destacou como os equipamentos produzidos aqui estão próximos dos importados – ele acabou na terceiro colocação depois de sofrer uma quebra na corrente na corrida final e ver o título escapar de suas mãos. O campeão, Guilherme Salas, competiu com um chassi 100% nacional, o Techspeed. “Isso é sensacional para o nosso kart. As nossas fábricas aqui não devem em nada para as importadas, mas é sempre bom ter o kart aqui para você saber o que eles estão usando lá fora. Se o pessoal está andando perto aqui é porque a gente está perto do melhor nível do mundo do kart”, avaliou.

A questão dos motores

“A KZ2 é idêntica a que corre lá. Nossa intenção é fazer o mesmo na Graduados. O único problema é o motor, que é muito caro, pesado até para eles lá”, comparou Jimenez. Com os motores sem marchas, é um pouco mais complicado acompanhar o ritmo dos europeus.

Os motores da Shifter são os mesmos do exterior, só que isso não acontece com a Graduados. O problema está no custo. Em 2007, a Comissão Internacional de Kart desenvolveu o motor KF, de 125cc com partida elétrica e limtador de giros em 16 mil rpm, que é mais durável, mas também muito mais duro para os cofres. Assim, os dirigentes do kartismo brasileiro sentiram a necessidade de seguir outro caminho.

Sérgio Jimenez trouxe para o Brasil o motor Italsistem (Foto: Fabio Oliveira)

Jimenez, que em 2013 passou a atuar no âmbito dos motores representando a italiana Italsistem, comentou a disparidade: “Hoje, infelizmente, o KF é um motor muito caro, não compensa, não dá para trazer para o Brasil por causa dos impostos. Então a gente tenta equalizar o máximo possível com o que a gente consegue. Essa é a ideia do SKB”.

A fórmula dos motores já foi semelhante no passado. Na década de 1990, motores de 100cc eram usados tanto aqui quanto lá. “A minha geração teve muita gente que foi para a Europa. Se puxar o histórico, a gente sempre andou bem porque tinha o equipamento de lá aqui”, acrescentou.

A importância da relação próxima com a Europa na formação de novos pilotos

Embora os pilotos entrevistados tenham feito ressalvas em alguns pontos, uma mesma linha de pensamento foi seguida por todos: é preciso aproximar o kartismo brasileiro do europeu para que novos bons pilotos surjam com frequência.

O curitibano Gabriel Dias, 22, foi à Europa no ano passado, com a CRG Brasil. Lá, disputou a Copa do Mundo – transformada neste ano em Mundial de KZ1. Essa não foi a sua primeira vez: em meados dos anos 2000, ele era figura constante nas provas internacionais, experiência que recomenda sempre que lhe perguntam. “Recomendo que vá o mais cedo possível. Vá dar a cara para bater e sinta a dificuldade, então, quanto mais cedo você se adaptar, mais terá chances de sucesso”, afirmou.

“Quando o piloto formado aqui vai para a Europa e encontra uma categoria semelhante, apesar do pneu mudar, apesar de ser muito diferente, é muito importante, até pelo nome dos brasileiros lá fora”, considerou. “Tem que chegar o mais próximo possível de lá, porque se não fica muito longe. Até aprender, gasta dinheiro e perde um ano aprendendo para depois andar bem”, avaliou Jimenez.

Guimarães destacou que o mais importante não é a velocidade. “O cara ter um pneu parecido com o nível de lá, um kart parecido com o de lá, com certeza vai andar bem. Você consegue ser rápido. O negócio é ser constante, saber correr. É técnica, desenvolvimento, dedicação…”, enumerou.

Galli, que nunca teve a oportunidade de correr em pistas europeias, também vê a aproximação com bons olhos. “Tem que ser mais perto, para a gente ter uma noção e, quando for pra fora, não ser surpreendido e tomar pau”, falou.

O que pensa a Comissão Nacional de Kart?

Presidente da Comissão Nacional de Kart, Rubens Gatti não esteve presente no SKB 09. Contudo, o dirigente atendeu ao Grande Prêmio nesta segunda-feira e se mostrou inteirado sobre o que aconteceu no Kartódromo de Interlagos. Com relação às mudanças que aproximam o kartismo brasileiro do europeu, Gatti foi cauteloso, mas se mostrou disposto a estudar as novidades.

“É um teste. Se for positivo, é algo que pode ser adotado. Vamos analisar os resultados e ver o que podemos fazer”, declarou. “Não, não descarto [aplicar essas mudanças ao Campeonato Brasileiro de Kart]. Veja bem, isso tem que ser testado. Não é uma prova que vai dar um feedback para a gente. Precisamos ter alguns testes, ver se é bom e aí podemos adotar”.

Rubens Gatti não fez oposição às novidades do SKB (Foto: Divulgação)

O paranaense, porém, chamou a atenção para a questão dos custos de introduzir essas diretrizes ao Regulamento Nacional de Kart. “A gente tem uma realidade no nosso kartismo diferente do europeu. Nem tudo que tem na Europa a gente pode fazer aqui, até por uma questão de custo e outros fatores”, observou Gatti.

Opinião

Historicamente, o kartismo brasileiro alterna fases boas com fases complicadas. A década de 1970, por exemplo, foi muito boa e revelou uma geração talentosa, que incluiu Ayrton Senna e Nelson Piquet. A década seguinte, ou década perdida, como está nos livros de história, foi ruim também para o esporte, que voltou a ficar forte nos anos 1990 – a geração de Jimenez e Nicastro.

Naquele tempo, kartistas brasileiros – e até mesmo equipes – compareciam em peso às competições na Europa e aos Mundiais. Dois foram campeões: Gastão Fráguas, em 1995, e Ruben Carrapatoso, em 1998. Os adversários? Jenson Button e Fernando Alonso, respectivamente. O equipamento que se tinha no Brasil era do mesmo nível que o europeu, o que foi um pouco facilitado pelo momento econômico e pela cotação do dólar, que favoreciam importações. O problema dessa geração foi a transição para os carros, mas que ela foi das boas, foi.

Virou o milênio e veio uma nova época de vacas magras para o kart. Só nesses últimos anos que a vida parece melhorar, apesar dos problemas de administração e organização. E é preciso aproveitar o momento. Se a coisa está melhorando, tem que pegar no tranco, fazer acontecer. O pessoal do SKB está tentando. Talvez eles precisem puxar a fila para os demais seguirem.

Um acerto da atual gestão do kart foi não adotar o KF, que está em crise na Europa e não se sabe até quando vai durar. Mas, no resto, é importante que se alinhe tudo ao máximo em relação ao que existe lá, para que os garotos possam sair daqui e andar de igual para igual com os representantes das maiores fábricas do mundo, os que podem ser os grandes da F1 daqui a oito ou dez anos. Há uma década que os sucessos dos brasileiros no kartismo da Europa são esporádicos. Eles precisam ser mais frequentes. Consertar o kart é o primeiro passo para fazer o automobilismo crescer novamente.

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