Análise: com dificuldade, Piquet vai ver combo Mercedes/Hamilton da F-E

Nelsinho Piquet viu todo o seu otimismo cair por terra logo após ter a primeira percepção competitiva do que será o carro da China para a temporada 2015/16. Jogando a toalha, Piquet verá uma e.dams embalada pelos poderes da Renault impulsionar Sébastien Buemi ao que deve ser uma temporada glorioso no mesmo passo que a Mercedes e Lewis Hamilton na F1

Nada que a Nextev e a China fizeram nessa intertemporada – à exceção de manter Nelsinho Piquet e trazer Oliver Turvey a bordo – parece ter surtido qualquer efeito quando o carro entra na pista. Era esquisito que Piquet estivesse mostrando uma confiança muito natural de que poderia brigar pelo título mesmo com a terrível pré-temporada. Pequim desfraldou a situação.

 
É verdade que no ano passado a China também andou mal em sua corrida caseira. Não tanto, mas ainda marcou menos pontos. Chegaremos aí num momento. A situação, agora, é bem diferente. Em confiabilidade e desempenho, o time parece um tanto quanto irremediavelmente atrás. Um regresso enquanto outras tantas equipes avançaram mares.
 
Em 2014, com o o chinês Ho-Pin Tung ocupando um espaço que poderia ser melhor aproveitado, Piquet foi oitavo e anotou quatro pontos. Neste ano, apesar do abandono de Nelsinho, Turvey conseguiu o sexto lugar e oito pontos. Olhando apenas para o resultado final, talvez não pareça tão ruim. Mas, acredite, é bem ruim.
Nelsinho prevê "ano muito difícil" na defesa do seu título da F-E (Foto: FIA F-E)
Turvey deu sorte. Não há muito a acrescentar. Claro, é um bom piloto e se aproveitou disso. Mas estava longe da briga por pontos quando entrou nos boxes com o último grupo para trocar de carro. Neste momento, o safety-car entrava na pista por conta da batida de António Félix da Costa em Jacques Villeneuve. Quando voltou, Turvey estava no meio da festa. Piquet também estava, mas seu carro simplesmente parou de funcionar voltas depois – ele religou e seguiu andando, mas já ficara muito para trás.
 
O ritmo fraco pode ser mapeado desde os treinos livres até a corrida. Usemos como comparação os mais rápidos das sessões que não tenham sido Sébastien Buemi ou Nicolas Prost para uma comparação mais justa com Turvey, mais rápido que Nelsinho e seus problemas que persistiram por todo o sábado.
 
TL1:
 
3º – Loïc Duval – Dragon – 1min37s8
 
9º – Turvey – 1min40s9
 
Diferença – 3s1
 
 
1º – Lucas Di Grassi – Audi ABT – 1min37s2
 
11º – Turvey – 1min41s0
 
Diferença – 2s8
 
 
2º – Jean-Éric Vergne – Virgin – 1min38s0
 
15º – Turvey – 1min39s7
 
Diferença – 1s7
 
Corrida
 
Turvey teve a terceira pior volta mais rápida entre os dez primeiros colocados. Piquet até fez uma volta mais forte, mas o julgamento de ambos é difícil porque apenas eles dois e Sam Bird ganharam a potência extra do FanBoost. Mas o ritmo nunca pareceu forte. A China mostrou que tem condição de competir com os trens de força padrão da Andretti e Aguri. A Venturi tem desempenho melhor, mas teve um dia problemático e o ritmo de corrida ainda precisa de um trabalho árduo; a Virgin certamente é muito mais forte, mas gasta energia em excesso. Bird acabou deixando a sexta posição para Oliver de bandeja para que conseguisse chegar ao fim da prova sem crises. 
Nelsinho Piquet tem jornada difícil em Pequim na abertura da segunda temporada da F-E (Foto: FIA F-E)
É o suficiente para beliscar pontos aqui e acolá, mas apenas um trocado para um dos primeiros times a desvendar a parceria e quem seria a responsável por desenvolver seu trem de força.
Em entrevista ao GRANDE PRÊMIO na semana anterior ao início da temporada, Piquet disse o seguinte: "A gente acha que tem chances de ser bons igual aos outros. A diferença deve ser muito pequena entre as equipes. Mesmo ano passado, quando os carros não tinham diferença, nós conseguimos fazer uma diferença nós mesmos de andar na frente. Nós temos a mesma equipe e o mesmo potencial de andar na frente".
 
Após a corrida, no entanto: "A equipe estava muito mais otimista, e eu estava menos preocupado antes desse fim de semana. Achava que os problemas que tivemos antes eram normais. Mas realmente nosso carro está para trás nesse momento. Vai ser um ano muito difícil. Vou precisar controlar os ânimos e trabalhar bastante para tirar o máximo que eu posso desse carro". 
 
Foi assim que Nelsinho basicamente jogou a toalha no ano em que a equipe deveria dar a ele condição de brigar pelo título. A decisão de ficar com a China foi louvável, mas no fim das contas vai custar ao campeão um ano.

O oposto e o paralelo

 
Do outro lado de uma China que de cara mostra que não vai conseguir acompanhar a briga por vitórias e pódios, que dirá por títulos, uma e.dams que dispara na frente como se tivesse um FanBoost contínuo patrocinado pela Renault. Enquanto na F1 o estrago que a montadora francesa sofreu pode ser, segundo Alain Prost, irreparável – os motores são ruins, a parceria tetracampeã com a Red Bull chegou ao fim e a única forma de ficar na F1 é assumir controle completo de uma escuderia -, na F-E a Renault acerta todas as campainhas.
 
Quando o desenvolvimento do Spark-Renault SRT_01E começou e a marca foi anunciada parceira tecnológica, levando o 'know-how' de tecnologia EV assim como o da F1, e depois se acertou como parceira da e.dams, ficou explícito que a equipe francesa teria uma vantagem. Primeiro, porque era a grande montadora com maior envolvimento junto a uma equipe; depois, porque logo começaria um processo de criações próprias.

Este processo aconteceu por completo na fábrica da Renault Sport F1 em Viry-Châtillon, cidade ao sul de Paris. Um ano adiantada no processo e com expertise em tecnologia EV, a montadora saltou na frente das rivais de maneira quase brutal – mesmo da Citroën, grande rival francesa e agora parceira da Virgin. Com os carros na pista, a diferença é clara. Na pré-temporada, ficara óbvio que a Renault e.dams tinha um trem de força bem superior – apesar da fábrica ter decidido não utilizar o plano original de dois motores para este ano. Mas não tanto quanto ficou evidenciado em Pequim.

Buemi e o belo troféu entregue no pódio em Pequim:será normal (Foto: Divulgação)

Na contramão do que vivem na F1, os franceses têm, na F-E, um poderio completamente superior. Se na mais badalada categoria de monopostos do mundo sofrem com a falta de potência, de confiabilidade e uma incompetência atroz para desenvolver os V6 turbo instituídos para 2014, na F-E a Renault aponta na reta e força a um paralelo com a rival que atropela e mal deixa anotar a placa no Mundial de F1: a Mercedes.

 
Saindo antes no desenvolvimento do V6 turbo, a fábrica de Stuttgart evoluiu de um ano para outro a ponto de, após dois anos de títulos, vislumbrar uma dinastia. Ao que tudo indica e os pilotos esperam, é isso que a Renault promete nesta fase de transição da F-E: um domínio indelével.

Quando Di Grassi, um piloto altamente versado nas questões técnicas, insiste que só pode esperar um terceiro lugar – atrás dos carros franceses -, há que se levar em consideração. A visão em torno da categoria, hoje, é exatamente essa. Na transição, a e.dams vai sair na frente e que se corra atrás. 
 
Nessas condições, é Buemi quem surge como um potencial campeão dominador. O Lewis Hamilton da F-E.
 
Claro que ainda é muito cedo e muita água pode rolar, e a equipe francesa até pode perder a sua vantagem em alguma das complicações intrínsecas a um campeonato de tecnologia tão pueril no mundo automotivo, mas é difícil imaginar que Buemi sofra grandes ameaças do companheiro de equipe Prost. Mais completo, mais vitorioso e definitivamente mais talentoso, o suíço fez, em Pequim, o que dele se esperava: dominou de ponta a ponta classificação e corrida – com direito a volta mais rápida.
Sébastien Buemi (Foto: F-E)
Campeão do Mundial de Endurance, dono de alguns resultados interessantes na F1 e vice-campeão da temporada inaugural da F-E, Buemi tem talento, atitude e equipamento de sobras para sair do quase que o assombrou na rodada final de Londres, quando terminou a temporada de abertura com um único ponto de desvantagem para Piquet.
 
E Nico Prost vai emular o xará Rosberg ou terá outra atitude, tentando compensar a desvantagem para Buemi com boas estratégias, força mental e atitude vencedora? Bom, Nicolas não é só o filho do chefe Alain. É um piloto rápido e que vive seus momentos. No eP de Miami, por exemplo, mostrou que pode escapar e ir embora se tiver a chance. Ali, com mais da metade de temporada já decorrida, chegou a liderar o campeonato inicial. Se sofrer de algo, não será de apatia, como Rosberg em 2015.
 
Em Pequim, voltou a mostrar. Largou mal, errou e rapidamente se viu atrás de Lucas Di Grassi e Nick Heidfeld. 
 
Um parênteses aqui para mostrar que isso pode ser um ponto positivo para todas as equipes. Em ritmo de corrida, quando se vê atrás das rivais, a e.dams não passa automaticamente. O que reforça a tese de que a e.dams não vencerá todas as provas do ano – Dragon, Audi ABT e Virgin parecem ter cacife para beliscar de algum lado. Mas ao partirem na frente, o que será absolutamente natural com o ritmo de classificação devastador que a equipe tem, a e.dams vai ter o suficiente para vencer e vencer sem parar. 
 
Voltando a Prost, então. Quando se livrou de Heidfeld e chegava a Di Grassi para atacar, acabou excedendo sua própria velocidade e acertou o muro. Por isso, ficou fora e não pontuou. Mas no que diz respeito a brigar, será um incômodo para Buemi em diversas provas da temporada. Fato é que é difícil imaginar Prost mantendo uma regularidade como a de Buemi – visivelmente melhor em todas as áreas. 
 
Depois de uma corrida, ao contrário do ano passado, muito dá para notar dessa nova versão da F-E. A primeira e mais importante, é que segue divertida. As seguintes, que Buemi sai como um favorito assustador aos rivais, enquanto a e.dams vive seu ano de bicho-papão. As versões elétricas de Mercedes e Hamilton – em corridas bem mais divertidas. Enquanto isso, Piquet sabe que vai precisar se preparar para não viver um ano depressivo como Sebastian Vettel em 2014.

Normalmente, reagir desta forma como se olhasse o futuro num balde d'água, tal qual fazia Nostradamus, após uma semana, seria um absurdo. Mas a F-E vive um momento de transformação que a faz funcionar de forma um pouco diferenciada.

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