Opinião GP: primeiro ePrix da história é marco para esporte e revela arestas que F-E tem de aparar para alcançar sucesso
Chegando com toda a expectativa de ser o futuro do automobilismo, a F-E começou no último sábado (13), em Pequim, mostrando que ainda tem muito arestas a aparar antes de ser sucesso absoluto que pretende
A primeira revisão precisa ser na fórmula da classificação. Num mundo onde se precisa prender a atenção do telespectador e seu controle remoto insano e sempre a mão, é difícil que a grande audiência fique presa por uma longa hora assistindo a um formato que tem a intenção de manter o suspense até o fim, mas que teve, no entorno do Parque Olímpico de Pequim, apenas quatro grupos completamente enfadonhos andando por dez minutos cada um.
Outro ponto interessante: Takuma Sato vinha atrás no pelotão, com chances ínfimas de pontuação. Então, fez uma volta muito mais rápida do que todos os outros na pista. Pouco depois, sua Amlin Aguri #55 parou na pista, aparentemente com o fim da bateria. Nas regras da F-E, Sato recolhe dois pontos pela volta mais rápida da prova.
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Pode valer a pena sacrificar uma corrida, alguém que estiver posições atrás da zona de pontuação, gastando a bateria aos últimos suspiros, com o objetivo de pontuar com o melhor giro do dia? A matemática implica que sim. O problema aí passaria a ser ético.
O formato de competição, com todas as sessões de treino e corrida no mesmo dia — e sempre no sábado —, ainda vai precisar de algumas provas para que a categoria se convença de que acertou ou errou. De fato, atraiu uma atenção bastante grande, mas não contou com grandes ameaças. A possível decisão do DTM era a principal rival, contudo a F-E ainda foi favorecida pelo horário chinês — manhã na Europa.
Mas o espaçamento entre a primeira sessão livre e a corrida, e mesmo entre a classificação e a largada, requer muito tempo do espectador comum, tanto o que vai ao autódromo quanto ao que assiste pela TV. Para acompanhar todo o dia, o fã tem de ficar atento por 9h. Entre início da classificação e o fim da prova, 5h. Em 2014, é improvável encontrar uma multidão que tenha cinco horas de seu dia para 'perder' na sala de sua casa, olhando para a televisão esperando uma corrida. E a F-E não quer apenas os aficionados: quer multidões.
Ao mesmo tempo, a condensação da programação é uma novidade que a organização quer fazer pegar e uma forma de reduzir o impacto dos eventos no cotidiano dos moradores das cidades por onde passa — afinal, a proposta é realizar corridas nos centros de grandes cidades, acordos que não são tão simples de serem costurados devido ao caos que provocam.
No entanto, as zebras altas devem ser repensadas. E não só para a F-E. A batida do germânico seria forte de qualquer forma, mas o voo alçado e o pouso — quase que — de cabeça para baixo deveriam ter sido evitados.
Se a segurança está boa, a confiabilidade dos carros é o que urge por melhora mais urgente. Bruno Senna aparecia como bom candidato à vitória, mas sofreu. Primeiro com um defeito na bateria que o impediu de participar da classificação; depois, na corrida, passou por cima de uma zebra alta logo na largada e teve suspensão quebrada. Da classificação para a corrida, quatro pilotos trocaram o câmbio: Michela Cerruti, Stéphane Sarrazin, Sébastien Buemi e Ho-Pin Tung.
Tung não conseguiu alinhar e tentou sair dos boxes. Largou, mas duas voltas depois, parou porque o carro da equipe China não pegava. Jarno Trulli sequer largou, já que não conseguiu fazer o motor elétrico funcionar. Buemi sofreu o dia inteiro: uma batida no TL2, uma relada no muro na classificação, uma troca de câmbio antes da corrida e, logo o suíço precisou ir aos boxes durante o eP para tentar descobrir o que tinha seu carro. Voltou sem resolver o problema e com três voltas de defasagem para o pelotão.
É natural que carros novos apresentem falhas técnicas, ainda mais em um campeonato tão inovador. Mas, em alguns momentos, as máquinas pareceram um tanto frágeis — especialmente no caso de Senna. Daí a necessidade de atacar com urgência o problema — algo que equipes, pilotos e organização sabiam desde o início que poderiam ter de contornar já nos primeiros dias.
Em suma, foi uma semana em que os bólidos elétricos foram o centro do automobilismo mundial. Uma curiosidade acumulada desde que a categoria foi anunciada, dois anos atrás. Conforme o sentimento de novidade for se esvaindo para os fãs e as arestas forem sendo aparadas pela categoria, saberemos mais e mais sobre uma F-E que pode — e deve — mudar bastante nos próximos meses.
A pressão de ser o futuro é enorme e, que fique claro, definir em que pé está a F-E. Não é por ser o futuro que já é o top entre corridas de carro. Ainda não é. E também não é um desastre por não ter atendido todas as irreais expectativas logo de cara. Não é um problema sem solução, nem uma solução sem problema. Mas está claro que há potencial e energia para ser excelente. Já é um bom começo.
O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.
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