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Depois de um longo inverno traduzido em muito trabalho e preparação nos bastidores, a F1 vai ‘pegar fogo’ a partir desta quarta-feira (17), quando a Red Bull vai lançar a pintura do seu novo carro para 2016. Dois dias depois, vai ser a vez de a Ferrari apresentar o carro com o qual vai tentar bater a Mercedes e, no domingo, a McLaren mostrará ao mundo o MP4-31 para apagar o vexame de 2015. Na segunda, dia do início da pré-temporada, muitas equipes — Haas, Manor, Red Bull, Williams, Toro Rosso e Mercedes — vão lançar seus respectivos modelos antes da abertura das atividades de pista no circuito Barcelona. Enfim, vão ser dias bem intensos para quem estava com saudades de ver os carros de F1 na pista.
Mas a pergunta que não quer calar é uma só: 2016 vai representar um novo ciclo de domínio da Mercedes na F1? Ou a Ferrari finalmente vai voltar ao topo do grid, posição que não ocupa desde 2007? Nos últimos meses, o
mundo do esporte debateu com muito afinco sobre o atual momento da categoria, dominada pela cor prateada desde o começo da nova ‘Era Turbo’, a partir de 2014, com muitos fãs da F1 sonhando com o fim da supremacia da Mercedes. Entretanto, o regulamento quase intacto em relação ao ano passado não permite dizer, ainda, que vai haver uma mudança significativa na ordem de forças da F1.
A Mercedes deu as cartas na F1 nos últimos dois anos. E tem tudo para seguir dominando o esporte em 2016 (Foto: Getty Images)
As outras oito equipes do Mundial mantiveram suas respectivas duplas para 2016, apostando na continuidade dos trabalhos deste último ano antes da revolução no regulamento técnico prometida para a próxima temporada.
Perspectiva de domínio da Mercedes
A mesma continuidade em termos de piloto na maioria das equipes também deve se repetir no que diz respeito aos novos carros, sobretudo na Mercedes. Apostando firme e forte no velho chavão ‘em time que se está ganhando não se mexe’,
a equipe bicampeã do mundo teve contar com poucas mudanças visualmente significativas no W07, mas “com um ou dois conceitos interessantes”. Mas o motor, uma das grandes forças do time e que já assombrou o mundo da F1, sobretudo do GP da Itália em diante, vem ainda mais forte: fala-se, inclusive, em uma unidade de potência acima dos 900 cv.
Sem muito o que inventar diante de um regulamento quase imutável, cabe à Mercedes fazer o feijão com arroz para manter seu domínio na F1. Afinal, foram nada menos do que 32 vitórias em 38 GPs realizados nos últimos dois anos. E aí, prevalecendo a lógica, vai ser interessante ver como seus pilotos vão se comportar. Entre ‘tapas e beijos’,
Lewis Hamilton e Nico Rosberg vêm protagonizando uma rivalidade meio fake nos últimos anos. Nada que se compare aos duelos entre Ayrton Senna e Alain Prost ou, para usar o exemplo mais recente, nem chega aos pés da efervescente treta entre o próprio Hamilton e Fernando Alonso em 2007, na McLaren.
Resta saber como Hamilton e Rosberg vão lidar com a possibilidade de um novo confronto neste ano (Foto: Getty Images)
A Ferrari como desafiante real
Não é exagero dizer que a Ferrari entra em 2016 sob pressão. Afinal, desde quando Kimi Räikkönen conquistou o título mundial em 2007 que a escuderia de Maranello não sabe o que é soltar o grito de campeã. Sergio Marchionne, ávido por uma nova conquista, chegou a afirmar que
“seria uma tragédia” ver a Ferrari passar dez anos sem um título. De fato, um jejum de tamanha envergadura não condiz com a história do maior e mais importante time da F1.
Mas é uma missão pra lá de ingrata. Se a Mercedes conta com Hamilton no auge da forma e Rosberg louco para batê-lo, a Ferrari tem em Vettel seu grande nome para tentar acabar com a supremacia prateada. Seb teve um ano incrível em 2015 e resgatou a autoestima da Ferrari e de si próprio ao voltar a vencer três vezes. O tetracampeão vestiu de vez a camisa da equipe, como fizera o mestre Michael Schumacher na década passada e, incansável,
vai buscar de todas as formas engrossar a disputa com Hamilton e Rosberg.
O mesmo não se pode dizer de Räikkönen. Muito longe dos bons tempos de McLaren, Ferrari — na década passada — ou mesmo na Lotus, em 2012 e 2013, Kimi teve dois anos bem apagados no seu retorno a Maranello. Ainda assim,
a equipe apostou na sua experiência e lhe deu mais uma temporada de sobrevida na carreira. A Ferrari precisa do finlandês em grande forma para ter dois carros em condições de lutar contra a Mercedes. Resta saber como vai estar a motivação do ‘Homem de Gelo’ naquele que pode ser seu ano derradeiro na F1.
A luta pelo posto de terceira força da F1
Parece claro que, até mesmo pelo poderio financeiro muito superior às demais, Mercedes e Ferrari vão estar alguns degraus acima do resto do grid na F1, como foi no ano passado. A diferença da Ferrari, vice-campeã do mundo, para a Williams, terceira colocada, foi de enormes 171 pontos. Diante de uma configuração semelhante em 2016, nada aparenta que a diferença vá diminuir de forma drástica.
Mas a batalha pelo terceiro lugar tem tudo para ser bem interessante. A dona da posição nas duas últimas temporadas foi a Williams, que conta com a dupla de pilotos mais equilibrada do grid, formada por Felipe Massa e Valtteri Bottas, e o excelente motor Mercedes. Só que isso não basta.
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Só que esta prometida melhora tem de vir rápido, porque duas outras equipes aparecem com um grande potencial para desbancar a Williams do top-3 do Mundial de Construtores: Red Bull e Force India.
Mas a esperança da Red Bull é que a nova unidade de potência construída em Viry-Châtillon seja melhor que a do ano passado — um dos casos em que vai ser difícil ser pior. E aí, se o conjunto chassi+motor encaixar, os competentes Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat vão ter condições de realizar um belo trabalho neste ano, como o próprio Ricciardo fez em 2014 ao vencer três corridas, ou como o jovem russo, que mostrou grande evolução no ano passado, seu primeiro pela Red Bull. Não é nada impossível.
E depois de um ano incrível, a Force India também começa 2016 sonhando em avançar no grid. Obviamente,
o discurso da cúpula do time de Silverstone é cauteloso, afinal, criar expectativas demais nesta época em que os carros sequer foram à pista é ser ousado demais. Mas, impulsionado pelo histórico quinto lugar no Mundial de Construtores de 2015, obtido depois de uma grande reação no segundo semestre com a especificação B do VJM08, não é de se duvidar que o novo carro seja ainda melhor, considerando também que haverá mais dinheiro em caixa neste ano.
Vale lembrar que a Force India começou 2015 atrasada, colocando na pré-temporada o carro do ano anterior, e mesmo a primeira versão do VJM08 não contava com todas as atualizações previstas, apesar do forte motor Mercedes. Mas a partir do GP da Bélgica, o time anglo-indiano pontuou em todas as nove corridas seguintes, feito só igualado pela Mercedes — com uma pontuação bem maior, obviamente. Mas com um bom carro, o melhor motor da F1 e a ótima dupla formada por Sergio Pérez e Nico Hülkenberg, a Force India desponta, sim, até mesmo para lutar de igual para igual com Williams e Red Bull pelo top-3 do Mundial. Vai ser uma briga boa.
As incógnitas: Renault e Toro Rosso
Depois de cinco anos de ausência como equipe de fábrica, a Renault está de volta ao grid da F1. A escuderia diamante põe de novo sua marca no Mundial num momento em que o mais importante é resgatar sua autoestima na categoria. Não é exagero dizer que a
Renault foi humilhada pela Red Bull ao longo do ano passado devido aos problemas crônicos do seu motor. E Carlos Ghosn, presidente da montadora, nunca escondeu que jamais morreu de amores pela F1. Mas o brasileiro nascido em Porto Velho foi convencido a efetuar a compra da Lotus e voltar à F1 como equipe.
A Renault está de volta à F1 como equipe de fábrica (Foto: Getty Images)
Mas, ao menos nesta abertura do seu terceiro ciclo como time de fábrica no Mundial, a tarefa da Renault não vai ser das mais fáceis. Embora tenha um grande orçamento — estimado em
€ 300 milhões (R$ 1,3 bilhão) — por temporada, o time francês vai ter de lidar com dificuldades no seu novo RS16, cujo início do desenvolvimento foi feito ainda pela Lotus, que vivia às voltas com muitos problemas financeiros, e terá um grande ponto interrogação: como vai se comportar o novo motor Renault?
Em teoria, 2016 começa diferente para a
Toro Rosso, que volta a usar motor Ferrari. Contudo, até que os carros entrem na pista, vai ser difícil avaliar qual o potencial do novo STR11, que vai ser empurrado pela versão de 2015 da unidade de potência de Maranello. Com um desenvolvimento do motor bastante limitado, o ganho de confiabilidade adquirido nesta fase inicial do ano pode prejudicar muito os trabalhos da jovem dupla ao longo do campeonato. Mas se o novo chassi for tão eficiente quanto o do ano passado, o talento de Verstappen e Sainz pode compensar este déficit.
A McLaren e um ano que só pode ser melhor
Diante de toda a expectativa gerada pela retomada da vitoriosa parceria entre McLaren e Honda, 2015 tinha tudo para ser um ano inesquecível. E foi, de certa forma, mas pelo aspecto negativo. Em quatro décadas, jamais a equipe havia feito uma temporada tão ruim quanto a do ano passado. Resultado de um motor ainda muito cru para a F1 que resultou em quebras e num sem número de punições no grid a Jenson Button e Fernando Alonso. Foram míseros 27 pontos (16 de Button e 11 de Alonso) e o nono lugar no Mundial de Construtores, só à frente da Manor, zerada.
Impossível, evidentemente, saber o quanto o novo motor da Honda melhorou, mas a promessa de Yasuhisa Arai, chefe esportivo da marca japonesa, é de que o problema crônico no sistema de reaproveitamento de energia esteja definitivamente corrigido, com o time, enfim, conseguindo avançar.
A falta de potência causada pela deficiência do ERS foi a principal responsável por Alonso e Button virarem presas fáceis nos trechos de alta velocidade ao longo do ano passado, causando um considerável déficit de até 160 cv.
A esperança da McLaren é deixar no passado o vexame vivido em 2015 (Foto: Getty Images)
De fato, a McLaren se mexeu, inconformada e incomodada com um ano que tinha tudo para ser inesquecível, mas que só vai poder mesmo ser lembrado como um ponto de virada, tal qual aconteceu com a Williams no começo da década, antes de o time de Grove voltar a ser uma das potências da F1. Se a McLaren vai ter o mesmo destino, é só o tempo que vai dizer, mas jamais se deve menosprezar a capacidade de trabalho de uma equipe 20 vezes campeã do mundo.
O que esperar de Sauber, Manor e Haas?
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Se a luta pelo topo da F1 aponta para um desfecho mais ou menos previsível em 2016, não se pode dizer o mesmo do outro extremo do grid. No ano passado, sem a concorrência da Caterham, a Manor ocupou frequentemente as últimas posições e foi a única equipe a não marcar pontos na temporada. Mas é bem possível que tal quadro mude de forma significativa para este ano. Não apenas por que a Manor conta com um pacote técnico melhor e motores Mercedes, mas também pela estreia da Haas, uma espécie de Ferrari B, as duas com expectativa de lutar por pontos neste Mundial. Quanto à Sauber, tudo ainda é uma grande incógnita.
A equipe de Felipe Nasr e Marcus Ericsson vai começar atrás de todas as suas oponentes.
O C35, carro com o qual vai disputar a temporada 2016, só vai ser apresentado em 1º de março e terá apenas quatro dias de testes em Barcelona antes de embarcar para a estreia em Melbourne. Um período muito curto para que seus pilotos possam entender o novo modelo e acumular uma quilometragem adequada nesta época.
A Haas chega à F1 com a expectativa de não fazer feio no seu ano de estreia (Foto: Getty Images)
O motor Ferrari é a grande arma da Sauber para não fazer feio em 2016, mas só motor razoável não é o suficiente. Em 2015, faltou dinheiro para um desenvolvimento adequado do carro, e isso se refletiu nos resultados obtidos por Nasr e Ericsson, sobretudo no segundo semestre do ano passado, quando as outras equipes cresceram e a Sauber estagnou.
A Haas conta com um pacote confiável, compreendendo motor e câmbio desenvolvidos pela Ferrari. A questão diz respeito ao chassi, que está sendo desenvolvido em parceria com a Dallara, que teve uma última experiência bem ruim na F1 ao trabalhar na concepção do primeiro carro da HRT na F1, o F110, um projeto que foi sinônimo de fracasso. Mas tem em seu favor a
experiência e o talento de Grosjean para ter um ano de estreia bem-sucedido.
Sobre Gutiérrez, é preciso esperar. O mexicano teve dois anos bem ruins na F1 pela Sauber e tem uma chance de ouro para finalmente mostrar do que é capaz.
Assim como se espera uma Haas competitiva logo de cara, dá para esperar um panorama semelhante ao da Manor. No rol das piores equipes desde quando ingressou na F1, ainda como Virgin, em 2010, o time seguiu no fundo do grid quando virou Marussia e assim continuou até o ano passado, quando correu com um carro adaptado de 2014 e também com um motor Ferrari de especificação antiga.
Mas o DNA de time pequeno ainda segue colado à Manor. Prova disso é que a equipe é a única, ao menos até o momento, que não fechou sua dupla para 2016. Enquanto
Wehrlein está garantido, a escuderia cogita
revezar três pilotos no segundo carro ao longo do campeonato. Em termos de dinheiro, talvez seja uma solução plausível, mas que não deve acrescentar muita coisa em termos de performance e mesmo sobre o crescimento do time em si. De qualquer forma, a expectativa é de que até a Manor tenha um ano melhor em 2016.
Sendo assim, algumas das perguntas começarão a ser respondidas a partir da próxima segunda-feira em Barcelona. Mas é sempre bom ter cautela com os resultados e tempos de volta que, na pré-temporada, nem sempre costumam refletir a realidade. De modo que só mesmo a partir do fim de semana do GP de abertura do Mundial, na Austrália, entre 18 e 20 de março, o fã da F1 vai ter uma real noção de como vai ser a dinâmica da categoria em 2016, prometendo ser bem mais agitada do que foi o modorrento ano passado.
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