Análise: saída da Red Bull representa desejo de Vettel iniciar novo ciclo na F1

Sebastian Vettel tem pela frente cinco corridas para se despedir da equipe que o tornou um tetracampeão mundial de F1: a partir de 2015, o alemão vai respirar novos ares na categoria

15 anos, 45 pole-positions, 39 vitórias, quatro títulos mundiais. Cara de um, focinho de outro. Sempre foi impossível dissociar a imagem da Red Bull no Mundial de F1 da imagem de Sebastian Vettel. E o símbolo do projeto da empresa de bebidas energéticas no automobilismo vai vestir outras cores em 2015 — ao que tudo indica, o vermelho da Ferrari.

Hora de buscar novos ares.
A história de Vettel na Red Bull é comparável a outros relacionamentos de sucesso categoria, como Michael Schumacher e a Ferrari ou Lewis Hamilton e a McLaren: cria-se uma ligação tão forte que se torna difícil imaginar que aquilo, um dia, vai mudar. Mas um dia muda, exatamente como ocorreu com os dois exemplos citados.

Desde que Dietrich Mateschitz decidiu investir na F1, deixou claro que não era um passatempo. O negócio era sério, como ficou claro quando ele comprou a Jaguar em 2004 e, depois, ao tirar o consagrado projetista Adrian Newey da McLaren. Enquanto preparou sua escuderia na elite do esporte, foi preparando também aqueles que representariam sua marca ao redor do mundo através da criação do Red Bull Junior Team, chefiado por Helmut Marko.

Marko pode ser polêmico e tomar decisões nem sempre populares, mas é bom no que faz. E achou Vettel nas corridas de kart na Alemanha, viu potencial no garoto, então com 12 anos, e assentiu que aquele poderia ser o cara. O que aconteceu depois, o mundo sabe.

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  BOMBA DO ANO
Red Bull anuncia saída de Vettel e escolhe Kvyat como substituto para 2015
   
  FLAVIO GOMES
Porque tudo acaba, como acabou para Hamilton na McLaren. Pilotos são assim
   
  VICTOR MARTINS
Resposta da saída de Vettel é como a gente cansado de viver no casulo dos pais
   

Quem já o acompanhava, sabia do talento de Vettel, mas a vitória no GP da Itália de 2008 foi o grande cartão de visitas. Trata-se de uma das maiores apresentações de um piloto na história da F1. Até 36 meses antes, a Toro Rosso se chamava Minardi e aquele garoto nem na categoria estava, mas ele dominou uma corrida disputada sob chuva forte no circuito mais rápido do calendário. De quebra, fez a festa dos tifosi ao permitir-lhes lembrar de Schumacher enquanto escutavam soar por Monza os hinos da Alemanha e da Itália — combinação que o heptacampeão fez tocar nada menos que 72 vezes entre o GP da Espanha de 1996 e o GP da China de 2006.

Mas aquele foi somente um marco em uma carreira extremamente vitoriosa. Vettel, aos 27 anos, já é o quarto maior vencedor da história do Mundial de F1. Perde apenas para Schumacher, Alain Prost e Ayrton Senna. Em termos de títulos, está empatado com Prost e atrás de Juan Manuel Fangio e Schumacher. Apesar disso, muita gente ainda o questiona com base em um argumento: ele só venceu tendo em mãos o melhor carro. O “carro do Newey”.

Há um dado que ajuda a reforçar a tese: Vettel jamais foi ao alto do pódio sem ter largado nas três primeiras posições do grid.

Todavia, é equivocado — e especialmente injusto — desmerecê-lo assim. Vários grandes pilotos sempre disseram que largar na frente é o primeiro passo para se vencer. E mais: Vettel sempre trabalhou demais para ter o carro mais rápido e ter a chance de garantir boas posições de largada.

Não é coincidência que, em três de seus quatro títulos, a segunda metade da temporada tenha sido melhor do que a primeira. Ou seja, não foi o caso de se começar o ano forte e ir administrando. Na verdade, ele e a equipe tiveram de se esforçar muito para aprimorar o carro, crescer na reta final e vencer três dos últimos quatro GPs em 2010, virar para cima de Fernando Alonso com quatro triunfos seguidos em 2012 e disparar para as nove vitórias em sequência de 2013.

Sim, Vettel tinha o melhor carro, mas Newey, o pai das máquinas, nunca escondeu seu encantamento pelo alemão. Os dois desenvolveram uma relação de extrema afinidade que contribuiu demais para todas as conquistas.

Mas tudo chega ao fim um dia. No caso, não a afinidade entre Vettel e Newey. O que está se encerrando é um ciclo.

Festa de Sebastian Vettel na Índia, em 2013, após a conquista do tetra (Foto: Getty Images)

Na história da F1, os ciclos vitoriosos costumam durar cerca de cinco anos. Um pouco mais, um pouco menos. A Lotus dos anos 1970, a McLaren entre 1984 e 1991, a Williams de meados da década de 1990, a Ferrari de Jean Todt, Ross Brawn e Michael Schumacher. A Red Bull de 2010 a 2014.

Newey, agora, quer se afastar da categoria. Já fez o que tinha para fazer e está frustrado pelas restrições cada vez maiores impostas pela FIA nos regulamentos técnicos. O carro do ano que vem vai ser o último cujo projeto ele liderará. Depois, passa o bastão para seus ‘aprendizes’.

E, diante da superioridade das unidades de força V6 turbo da Mercedes em relação a Renault e Ferrari, está na cara que a tendência é ver as Flechas Prateadas na frente por mais algum tempo — pelo menos um ou dois anos.

Vettel sabe de tudo isso. E guiar para a Ferrari pode não ser um sonho de dez entre dez pilotos, mas sem dúvida alguma um convite para defender o time de Maranello balança dez entre dez pilotos.

Se vai ser preciso ter paciência para voltar a vencer com a Red Bull, talvez seja mesmo a hora de arriscar. De buscar um novo desafio — o grande desafio de recolocar a Ferrari no topo da F1.

Confirmando-se o destino do tetracampeão, é um novo ciclo que se começa. E bem ao estilo de Vettel: sem grande alarde. Claro, notícia que diz respeito a ele é impactante, mas lembrem-se que ele nunca esteve no olho do furacão nesta silly season — esse papel pertencia a Alonso até algumas horas atrás. Vettel tratou tudo com discrição nos bastidores. A decisão foi pessoal — nem empresário ele possui — e respeitada pela Red Bull, como Christian Horner deixou transparecer.

Vettel deixa a Red Bull pela porta da frente.

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