Coluna Apex, por Andre Jung: Carma nessa hora

Diante de um momento complicado, em que os baixos índices de audiência começam a incomodar os gestores da categoria no mundo todo e no qual nosso país acaba de tirar as primeiras duas fases da classificação da grade do principal canal aberto, a segunda saída consecutiva do piloto da casa, ainda na primeira volta, joga mais água fria nessa brasa

O Japão é um país exemplar em diversos aspectos da vida social e privada. Há pouco deixaram perplexos torcedores do mundo todo ao recolherem o lixo que foi produzido em seu setor nos estádios em que a seleção nipônica jogou.
 
Na área do direito os japoneses tem uma importante prerrogativa que também pode ser exemplar na hora de avaliar prejuízos: o percentual de culpa. Lá, a  Dna. Culpa além de não fica solteira pode muito bem ter dois cônjuges. O juiz delibera a responsabilidade de cada um em percentuais. Me parece uma justiça mais precisa do que o nosso “maniqueísmo"da culpa.
 
Assim, quando um acidente de trânsito ocorre nas movimentadas vias japonesas, os motoristas envolvidos tem sua conduta no acidente avaliada para ver o quanto ela em si contribuiu para o desfecho, e assim recebem sua parcela de responsabilidade.
 
Esse é meu ponto de partida para analisar os recentes infortúnios de Felipe Massa. Afinal, quanto de responsabilidade podemos por na conta do destino (sorte, azar, acaso, zica, sina, carma . . .) e quanto podemos por na conta do risco presumido, nos percalços do nosso solitário representante na Fórmula 1?
 
Alguns colegas defendem que o piloto não pode se eximir dos riscos que assumiu em algumas ocasiões, entre elas a do GP da Alemanha – é muito difícil que um piloto saia aberto e consiga fazer tangência na primeira curva de um GP, salvo seja ele o líder isolado sempre haverá um otimista freiando o mais tarde possível e jogando o carro por dentro.
 
Mas o que é corrida de automóvel sem o risco? A questão é que o cara está numa maré daquelas em que se alguma coisa pode dar errado ela vai dar. Houve ocasiões em que ele foi co-responsável? Acho que sim, mas ele não tem arriscado mais do que qualquer outro. O nível de prejuízo é que espanta.
 
Diante de um momento complicado, em que os baixos índices de audiência começam a incomodar os gestores da categoria no mundo todo e no qual nosso país acaba de tirar as primeiras duas fases da classificação da grade do principal canal aberto, a segunda saída consecutiva do piloto da casa, ainda na primeira volta, joga mais água fria nessa brasa.
Ilustração: Marta Oliveira
Um paradoxo: apesar do domínio dos carros da Mercedes e do polêmico barulho (ou falta de) dos novos motores turbo, as corridas tem produzido excelentes pegas e as maçantes procissões que tantas vezes tivemos de assistir em tempos recentes não acontecem mais, nem em Barcelona. Em Hockenheim, o baixo público no país que há tempos vem dominando a categoria, impressionou. As equipes estão sem dinheiro e a categoria vive um momento bastante complexo.
 
A súbita proibição dos sistemas de suspensão interligados, que começaram a ser utilizados ainda em 2008, deveria ter prejudicado mais a Mercedes – só que não. Rosberg passeou e Hamilton, sem auxílio de safety-car (o da primeira volta foi um des-auxílio), teve carro para ser segundo, mesmo saindo da 20ª posição.
 
Bottas fez mais uma prova perfeita, extraindo o máximo das oportunidades, com direito a segurar Hamilton nas dez voltas finais. Vettel dessa vez chegou na frente do companheiro, mas foi graças ao acidente da primeira curva,  ainda assim voltou a brilhar num belo pega com Alonso. O chassi da Red Bull é nitidamente muito bom e o ambiente com a Renault não pode deixar de estar ruim.
 
A resiliência de Felipe Massa impressiona, já foi comprovada diversas vezes, e esse é mais um dos momentos de prová-la. A velocidade está lá, o carro também, a equipe gosta e confia nele, o grande número de fatores positivos simultâneos hão de ajudá-lo a virar essa página.
 
Ele é um cara de sorte, está há anos no topo do automobilismo, sobreviveu a um acidente terrível sem sequelas, deixou a Ferrari e quando já avaliava o que fazer fora da F1 conseguiu vaga na Williams. Vinda do pior ano de sua história a equipe dá uma volta por cima espetacular e torna-se forte candidata a vice-campeã de construtores. Muita sorte.
 
Enquanto isso . . .
 
. . . o calvário da Sauber não tem fim . . .
 
. . . sem dinheiro e sem poder de reação, o time parece ter investido muito para conseguir a boa reação da segunda fase da temporada passada . . .
 
. . . em detrimento do carro de 2014, lento e frágil, incapaz de produzir um ponto até aqui . . .
 
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