Coluna Rookie Text, por Gabriel Araújo: Em 20 minutos (ou em um ano) tudo pode mudar

Com boa vontade, doses cavalares de sorte para determinados pilotos e uma boa pitada de chove-não-molha, é possível um bom GP na pista de Budapeste

Há exatamente um ano escrevi uma coluna neste espaço lotada de números que justificavam o motivo de, na Hungria, o treino classificatório importar mais do que a própria corrida. Citei que era um circuito sem pontos de ultrapassagens, apesar da memorável de Piquet em Senna em 1986, e que em 25 dos 27 GP’s até então realizados em Mogyorod o vencedor largou nas duas primeiras filas.
 
Ok, grande clichê para comentar as provas húngaras, mas que deu certo em 2013: Lewis Hamilton largou na pole, Lewis Hamilton venceu. Sem maiores intercorrências, foi uma corrida tranquila sob qualquer ponto de vista. Mais uma vez, a história se repetia e as estatísticas se confirmavam.
Fernando Alonso, Daniel Ricciardo e Lewis Hamilton brigaram pela vitória na Hungria até o fim (Foto: Ferrari)
Errei, porém, por um ano. Em pouco mais de 365 dias, tudo mudou, e a coluna de 24 de julho de 2013 entrou para os arquivos como um amontoado de números que provava a monotonia dos GP’s da Hungria. Mas que deixava uma margem aberta: a chuva pode mexer com a situação. Como em 2006, quando Jenson Button, de Honda, venceu tumultuada corrida.
 
Há exatamente um ano encerrei a coluna pedindo algo mais emocionante das próximas vezes. Foi o que houve no último domingo. O chove-para-molha-seca embaralhou a carreira. Acidentes com Marcus Ericsson, Romain Grosjean e Sergio Pérez causaram duas entradas do safety-car, que praticamente resolveram a corrida: Daniel Ricciardo acertou na estratégia e superou Fernando Alonso nas últimas voltas para vencer.
 
Todos já comentaram que o australiano da Red Bull é um excelente piloto. Duas corridas sem vitória da Mercedes no ano, duas de Ricciardo. Como todos já elogiaram Alonso demasiadamente, após o espanhol levar a carroça da Ferrari sem pneus ao pódio. Assim como encheram a bola de Hamilton, terceiro colocado depois de largar dos boxes e macho para não acatar ordens da equipe pró-Rosberg, quarto colocado na pista e ainda líder do Mundial.
 
E é justamente Hamilton quem prova que as desculpas para as chatas provas na Hungria são esfarrapadas. O treino do inglês foi um desastre, sequer marcou tempo por conta de um vazamento de combustível. A largada do pit seguida por uma rodada logo no começo apontaram: não era o dia dele. Ou era? Corrida de recuperação fantástica para mostrar que, sim, com boa vontade, doses cavalares de sorte para determinados pilotos e uma boa pitada de chove-não-molha, é possível um bom GP na pista de Budapeste – e que destaquemos, também, o salto gigante de Kimi Räikkönen, mais um a provar o contrário do normal: de 17º para sexto – seu melhor resultado num péssimo ano.
 
À corrida da Hungria, não bastou ser excelente – completando boa sequência de provas interessantes. Decretou, no meio do campeonato, que a fantástica disputa Rosberg x Hamilton tem a luz mais acesa do que nunca. A vitória de Ricciardo é um sopro de ânimo para o Mundial, que tende a ser competido pau a pau até seu encerramento. E quem sabe o moço do sorriso não vai cavando sua vaguinha de leve por ali? Muito difícil, quase impossível, perto do domínio da estrela de três pontas, mas não custa acreditar…
 
E há exatamente um ano, apenas para completar, escrevi que a televisão aberta mostrava, em meio à visita do Papa, quando a missa de Francisco foi priorizada e a corrida transmitida ao vivo somente em canal pago, a melhor parte do fim de semana: a qualificação.
 
Que coisa, não? Justamente uma temporada depois, sem Chico no Brasil, a Rede Globo corta pela segunda vez seguida – e assim continuará sendo – Q1 e Q2, exibidos somente no SporTV, e apresenta apenas o Q3. Menos mal que a classificação não definiu quase nada. Quedas e avanços na tabela ficaram para a corrida, essa sim exibida na íntegra. Ainda assim, mostra a falta de popularidade da F1 no Brasil hoje em dia. Pontos módicos no Ibope, rendem um evento tão longo quanto a categoria. Como muitos já disseram, logo se tornará um produto unicamente de TV fechada.
 
O que tinha de ser comentado sobre a questão TV-F1, porém, já foi dito. Não me alongarei mais, ainda que me coce para lamentar a omissão de Galvão Bueno quanto ao meio segundo que Felipe Massa vinha tomando “desde ontem” no áudio vazado. Carlos Eduardo é um exímio locutor, mas o pachequismo do canal do Brasil-brasileiro beira o ridículo e, assim, o telespectador é privado dos fatos no fio da navalha em que Bueno vive dizer andar como “vendedor de emoções”. Quem assiste não merece ser tratado como trouxa.
 
No mais, pelo menos em 2014, refletindo em cima da coluna do ano passado, é evidente que a Hungria é o lugar onde a corrida importa mais. Que em 2015 a situação se repita. Mais emoções, por favor. Não quero voltar a escrever “Onde o treino importa mais” como título de coluna, Budapeste.
 
Porque em um ano, como em 20 minutos, tudo pode mudar.
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