Conta-giro: Comparação dos títulos de 2008 e 2014 reflete amadurecimento de Hamilton ao longo da carreira

A temporada 2014 de Lewis Hamilton não teve os mesmos erros e oscilações da 2008, a do primeiro título. Embora tenha ficado a maior parte do campeonato atrás de Nico Rosberg, o inglês apresentou-se sempre em altíssimo nível na campanha do bi

11 triunfos, 16 pódios e um título conquistado com vitória em Abu Dhabi. Uma campanha bem diferente daquela que, em 2008, deu a Lewis Hamilton o primeiro título do Mundial de F1. A comparação entre as conquistas reflete, principalmente, o amadurecimento do piloto inglês com o passar do tempo.

Há seis anos, disputando somente sua segunda temporada na categoria, Hamilton estava sob uma pressão enorme. Ele tinha de ser campeão e retribuir à McLaren o investimento feito em sua carreira desde os tempos de kart e o apoio que recebera no ano anterior em meio à briga com Fernando Alonso.

Como se sabe, Hamilton deu conta do recado, mas não foi nada fácil. Foram cinco vitórias em 18 provas, erros típicos de um competidor inexperiente e um duelo extremamente apertado contra Felipe Massa. Tudo resultou na final mais emocionante da história.

Em 2014, mesmo passando a maior parte do campeonato em desvantagem em relação a Nico Rosberg, não havia como questionar a sua performance. Ele estava guiando de modo que ficava claro que ele estava em desvantagem por causa dos abandonos que sofrera nos GPs da Austrália e do Canadá.

Aos 29 anos, Hamilton está pilotando melhor que nunca (Foto: AP)

Título cheio de altos e baixos

Os fatos do campeonato de 2008 foram uma continuação do campeonato de 2007. Hamilton ganhou na McLaren um novo companheiro de equipe, Heikki Kovalainen, que claramente tinha o status de segundo piloto. O time de Woking queria colocar ordem na casa e garantir que não enfrentaria distrações em sua busca pelo primeiro título desde 1999. Era preciso, também, superar o escândalo do SpyGate e recolocar a McLaren nas manchetes de forma positiva.

Ao longo do ano, Hamilton fez algumas provas excelentes. Destaque para as vitórias na Austrália, na Inglaterra, na Alemanha e na China. A da Inglaterra, sem dúvida, foi a mais marcante de todas.

Em Silverstone, debaixo de muita chuva, o inglês foi sublime. Quarto no grid, quase pulou para primeiro na largada, chegando a tocar com o pole-position Kovalainen na Copse. Pouco depois, fez uma ultrapassagem linda sobre o finlandês para assumir a ponta e foi disparando, disparando, disparando e disparando. Venceu com mais de um minuto de vantagem para o alemão Nick Heidfeld, da BMW.

Na mesma medida, o inglês também cometeu erros que, com a conquista, acabaram menos lembrados. Um deles, em Mônaco, virou foi vitória. Em segundo, tocou no muro na quinta volta e teve um pneu furado. O pit-stop fora de hora se transformou em uma vantagem imensa quando, três voltas mais tarde, David Coulthard bateu e acionou o safety-car. Quando Felipe Massa e Robert Kubica fizeram suas paradas, ele assumiu a liderança e não largou mais.

Trapalhada no GP do Canadá de 2008 foi a mais marcante da carreira de Hamilton (Foto: Reprodução)

Mas Hamilton perdeu pontos importantes por causa de erros próprios em três corridas. No Bahrein, após uma péssima largada, envolveu-se em um toque ainda na primeira volta e precisou trocar a asa dianteira. Terminou em 13º. No Canadá, abandonou uma prova que ia dominando ao acertar a traseira de Kimi Räikkönen no fim do pit-lane em uma rodada de pit-stops em regime de safety-car. Esse acidente provocou uma punição de dez posições no grid de largada da corrida seguinte, no travado circuito de Magny-Cours. Lá, tentando se recuperar, recebeu um drive-through por cortar uma chicane para ultrapassar Sebastian Vettel. Novamente não pontuou.

Esses erros acabaram compensados pelas falhas da Ferrari no segundo semestre. Principal adversário, Felipe Massa começou o ano mal — não pontuou nem na Austrália nem na Malásia. Também fez um GP horrível — em que pese o fato de a F2008 ser precária no molhado — em Silverstone, rodando cinco vezes. Mas o brasileiro, com a vitória na França, já havia se recuperado do início fraco.

Massa teve duas oportunidades claríssimas para assumir a liderança do campeonato: na Hungria, em agosto, liderou até seu motor explodir a três voltas do final; em Cingapura, em setembro, também liderava quando ocorreu o fatídico pit-stop em que recebeu o sinal para acelerar antes de o reabastecimento ser concluído.

Hamilton entrou na reta final como líder, mas foi muito mal em duas de três provas. No Japão, errou na primeira curva e foi punido por causa disso. Para piorar, rodou após ser acertado por Massa e caiu para fora da zona de pontuação. No Brasil, foi medíocre. Precisando ser quinto, jamais teve ritmo para brigar pelo pódio e quase ficou fora do top-5. Sorte a dele que a chuva apertou na última volta e tornou a situação insustentável para Timo Glock, que tinha pneus para pista seca. Na Junção, 23s após Massa cruzar a linha de chegada como campeão, ele passou pela Toyota, retomou a quinta posição e assegurou o título.

Campeão só com pontos positivos

Em 2008, Hamilton não sofreu nenhum abandono por falha mecânica. Na verdade, a primeira quebra de sua carreira foi na última corrida de 2009, sua terceira temporada. Em contrapartida, confiabilidade foi justamente o ponto fraco da Mercedes em 2014 — e Hamilton demorou poucos segundos para perceber isso.

Na largada da primeira corrida do ano, na Austrália, seu motor não gerava toda a potência que deveria. Um cilindro não estava funcionando, e ele logo teve de abandonar. Tornou a se retirar de uma prova no Canadá, dessa vez por conta de uma falha nos freios. Além disso, deixou de pontuar na Bélgica, onde foi tocado por Nico Rosberg na segunda volta da corrida.

Exceção feita a esses três casos, Hamilton completou todas as outras corridas no pódio — até mesmo na Alemanha, largando do fim do grid, e na Hungria, partindo dos boxes. Nessas duas ocasiões, a posição desfavorável de largada foi determinada por problemas no carro no treino classificatório.

Claro que o fato de o F1 W05 Hybrid ser um carro extraordinário, recordista de vitórias em uma mesma temporada no Mundial de F1, colaborou para o excelente aproveitamento de Lewis. Mas o que chama a atenção, mesmo, é a comparação com Rosberg. O alemão deu conta de vencê-lo em apenas três confrontos diretos por uma vitória: em Mônaco, na Áustria e no Brasil. Hamilton liderou as outras oito dobradinhas da Mercedes.

O desempenho acachapante de Lewis na maioria das corridas refletiu o grau de maturidade que ele atingiu em 2014. Aos domingos, cometeu pouquíssimos erros. Mas não é que se tornou um Jenson Button, que parece conduzir o carro sempre na ponta dos dedos. Ele continua demonstrando ser extremamente rápido e arrojado a todo momento, capaz de tirar o máximo do carro ao mesmo tempo que administra o desgaste de pneus ou a vantagem que tem.

Em suma, é um Hamilton mais tranquilo que, desta forma, consegue dar mais de si nas corridas.

Essa atitude tem a ver com o Hamilton que se acertou na vida pessoal. Aproximou-se novamente do pai — os dois pareciam um pouco mais distantes depois que Anthony deixou de gerenciar sua carreira —, reatou com a namorada Nicole Scherzinger após muitas idas e vindas e deixou de se incomodar com fatores extra-pista. Sua reação aos confrontos com Rosberg — especialmente ao toque em Spa — indicou isso. O estado de espírito o deixou plenamente focado em algo que, desde a pré-temporada, estava mais do que claro que estava ao alcance: o bicampeonato mundial. Tal comportamento já era elogiado por Toto Wolff desde o início do ano.

O próprio Hamilton faz essa análise. “Em 2007, foi uma experiência muito ruim perder o campeonato. Fui ao fundo do poço, e em 2008 eu dei a volta por cima, brigando pelo título. Eu era imaturo. Não tinha o conhecimento que tenho agora. Não abordava as corridas do jeito que faço hoje. Hoje eu entrei… Normalmente você vai com um frio na barriga, um pouco nervoso. Hoje eu comecei a corrida pensando ‘estou extremamente calmo’, o que é realmente estranho. Isso é uma coisa boa ou uma coisa ruim? Obviamente era uma coisa boa”, disse após o GP de Abu Dhabi do último domingo. Estava mesmo.

Seis anos depois, a comemoração foi igual (Foto: AP)
HAMILTON × ROSBERG
AS 100 MELHORES IMAGENS

Lewis Hamilton entrou no último domingo (23), em Abu Dhabi, para o seleto grupo de bicampeões da F1. Com uma vitória segura na derradeira etapa da temporada 2014, o inglês da Mercedes derrotou o companheiro de equipe Nico Rosberg, com uma vantagem de 67 pontos. Mas o campeonato deste ano foi bem mais acirrado do que essa diferença indica.

O GRANDE PRÊMIO fez uma seleção das 100 melhores imagens dessa intensa batalha. A galeria especial conta a história de como Hamilton conseguiu vencer o Mundial pode ser vista aqui.

BATENDO CARTÃO

A Red Bull pode ter vetado a presença nos testes coletivos, mas não impediu que Sebastian Vettel fizesse sua primeira aparição nos boxes da Ferrari, marcando, assim, sua estreia como piloto de Maranello. À paisana, o alemão esteve nesta terça-feira (25) na garagem da equipe italiana para acompánhar o modus operandi do seu novo grupo de trabalho.

Vettel foi apresentado pelo diretor-esportivo, Massimo Rivola, aos integrantes, conversou com engenheiros e já colocou o fone de ouvido para entender a troca de informações entre a equipe e Kimi Räikkönen, que anda com o carro #7.

Leia a reportagem completa e veja a galeria de imagens no GRANDE PRÊMIO.

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