Conta-giro: F1 mantém obsessão por segunda corrida nos Estados Unidos e bola da vez é Las Vegas

Após tentativas fracassadas em Long Beach e Nova Jersey, o novo desejo de Bernie Ecclestone é fazer a F1 voltar para Las Vegas. A cidade que recebeu a principal categoria do automobilismo mundial em 1981 e 1982 pode retornar 30 anos depois, em trajeto feito em Strip, a zona nobre da cidade de Nevada

NO QUE DEPENDER de Bernie Ecclestone, o GP dos Estados Unidos irá ganhar uma companhia conterrânea no calendário da F1. Segundo o chefão, a cidade construída no meio do deserto em Nevada está pronta para receber a categoria. Para voltar a receber, na verdade, já que lá foi para decidir as temporadas de 1981 e 1982. Não existe um prazo, mas há um local: a Strip, seção mais glamorosa do Las Vegas Boulevard.

A Strip é uma zona nobre da cidade. Entre 6.700 kms de cassinos e hotéis famosos, como Casino Royale, o Bellagio e o MGM Grand, a F1 veria algo bem diferente de quando passou lá a primeira vez. Na época, os carros rodaram num traçado centrado no estacionamento do Ceasars Palace, sem agradar. Mas, agora, levar a F1 a uma cidade que prima pelo brilho de seus letreiros para arrecadar no interior de cassinos luxuosos, talvez seja o perfeito exemplo para uma categoria que também se enxerga envolta em luz própria, mas tem dificuldades em se reciclar e encontrar o século XXI.

A pista idealizada para a F1 deve ficar próxima ao icônico cassino do Bellagio em Las Vegas (Foto: Getty Images)

A trajetória de Las Vegas na F1 não é das mais ricas. Foram apenas duas corridas na história, ambas em um improvisado circuito de rua. As provas aconteceram em 1981 e 1982. Na primeira edição da etapa, última prova do Mundial de 1981, a vitória ficou com o australiano Alan Jones, campeão mundial de 1980. O pódio ainda teve Alain Prost, que fazia apenas a sua segunda temporada na principal categoria do automobilismo mundial e que fechava um ano um tanto esquisito. Das 15 provas disputadas, Prost abandonou nove e concluiu seis. Todas as seis no pódio. O italiano Bruno Giacomelli fechou o pódio.

Carlos Reutemann, que havia feito a pole-position, chegou apenas na oitava colocação, sem pontos e com uma volta de atraso para Jones. Entre os brasileiros, Nelson Piquet ficou com a quinta colocação após largar em quarto. Chico Serra sequer conseguiu classificar-se para a prova.

Contudo, o resultado para Piquet foi espetacular. Com a combinação de resultados, o brasileiro bateu o argentino Reutemann por apenas um ponto e sagrou-se campeão mundial pela primeira vez na carreira.

Em 1982, Las Vegas viu a primeira vitória da carreira de Michele Alboreto, a bordo da Tyrrell. John Watson ficou com a segunda colocação, enquanto Eddie Cheever foi o terceiro. Prost, que havia feito a pole, concluiu a prova na quarta colocação. Campeão mundial da temporada, Keke Rosberg encerrou o ano na zona de pontos, se garantindo na quinta colocação.

Raul Boesel foi o melhor brasileiro, chegando na 13ª posição, com seis voltas de atraso para Alboreto. Piquet teve problemas nas velas e abandonou ainda na primeira metade da prova. Serra, como em 1981, não conseguiu se classificar para a disputa da etapa.

Ecclestone já tentara uma incursão para incluir uma nova prova americana no calendário, junto ao atual GP texano, em Austin. O anúncio de que Jersey seria a sede da F1 na Costa Leste foi feito com pompa, em 2011. Na coletiva, até o governador Chris Christie se juntou ao homem forte do Mundial. No entanto, os investidores nunca conseguiram arrecadar os R$ 200 milhões necessários para colocar o projeto em prática. E dessa forma, o sonho de estar ao lado de Nova York caiu por terra.

O jornal britânico 'The Independent', que divulgou agora a história, disse até mesmo que Hermann Tilke, o homem que faz autódromos aparecerem, já foi ao local por duas vezes, testar o terreno onde terá de fazer sua mágica para que os globos gigantes e as torres iluminadas virem apenas um pano de fundo dos carros de corrida.

Prova de 1981 em Las Vegas (Foto: Bob Harmeyer/Getty Images)

E o que isso significa para o resto da F1? Inicialmente, o aumento do calendário. Para 2015, o GP do México transforma em 20 o número de provas; no ano seguinte, o GP da Europa é quem retorna, desta vez, sediado no emergente Azerbaijão. E Bernie não parece disposto a enxugar o número de compromissos, ao menos por enquanto. "É mais provável que passe de 20 corridas com Baku do que a gente perca uma corrida", disse ao jornal.

Isso, durante uma temporada em que se fala em controle de custos e em luta para a sobrevivência de equipes menores. O aumento de compromissos e gastos, enquanto a saúde financeira faz equipes naufragarem rumo à fossa abissal do oceano da F1, onde várias outras equipes ficaram em outros momentos da história.

"O alongamento do campeonato é algo que deveria ser analisado pelas equipes. Pois isso aumenta os nossos investimentos?, falou o chefe da Ferrari, Marco Mattiacci, ainda em julho.

Com o calendário para 2015 já divulgado e o projeto ainda muito atrasado para entrar em vigor em 2016, é provável que Las Vegas seja um objetivo apenas para além disso, mesmo que a cidade esteja "pronta", nas palavras do chefe. Mas uma coisa é certa: o que quer que aconteça em Vegas, antes que fique em Vegas, será amplamente discutido entre as equipes, sempre contrárias ao aumento no número de corridas do Mundial. Por isso, apesar da obsessão que Ecclestone parece ter pelos EUA, uma nova incursão por lá vai demandar muita negociação ainda. 

F1 em Las Vegas
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