Conta-giro: Ricciardo está mais perto do que parece, mas Red Bull só supera Mercedes quando rival tem problemas

Daniel Ricciardo está 60 pontos atrás de Lewis Hamilton com 150 ainda em disputa na temporada 2014. Considerando que o GP de Abu Dhabi valerá 50 pontos, ele está mais vivo do que parece na batalha — mas precisa continuar torcendo pelos infortúnios dos pilotos da Mercedes

Daniel Ricciardo foi o único piloto que derrotou a Mercedes em 2014 — e em três oportunidades. Mais grata surpresa da temporada, o australiano venceu até mesmo onde menos se esperava: no veloz circuito de Spa-Francorchamps, pista na qual a Red Bull chegou falando em minimizar o estrago. E, a cinco provas do fim do campeonato, o garoto-sorriso está mais vivo na disputa pelo título do que muita gente pensa.

60 pontos são mais do que duas corridas, mas há neste campeonato um elemento extra: a pontuação dobrada do GP de Abu Dhabi. Logo, 150 pontos ainda estão em disputa neste ano.

Claro, não dá para negar que Ricciardo corre por fora. Tão por fora que, em uma pista de atletismo, seria como se Lewis Hamilton e Nico Rosberg estivessem nas raias 1 e 2 e o australiano na 6.

Mas, afinal, qual a real chance de o dono do carro #3 conquistar o título de 2014?

Daniel Ricciardo é quem mais se aproxima de Rosberg e Hamilton (Foto: Getty Images)

Desde que o atual sistema de pontuação foi introduzido, em 2010, sempre se falou que quem deseja ser campeão precisa sempre alcançar dois dígitos por corrida — ou seja, ser pelo menos quinto. Isso, Ricciardo está fazendo: das 14 corridas disputadas até o GP de Cingapura, cumpriu essa tarefa em dez. Ainda foi desclassificado de um incrível segundo lugar no GP da Austrália e perdeu a quarta colocação no GP da Malásia após um erro da Red Bull em seu pit-stop. Desempenho, dele ou da equipe, só faltou mesmo na Áustria e na Alemanha.

Como tantas vezes já se falou, nem mesmo o próprio Ricciardo e a Red Bull esperavam um desempenho tão bom. Dentro dos quartéis-generais da marca de bebidas energéticas, já se sabia que ele tinha potencial. Porém, enquanto piloto da Toro Rosso, jamais demonstrou tanto potencial assim. Não só provou que merecia o voto de confiança como tem mais pontos que os pilotos da Ferrari somados — Fernando Alonso e Kimi Räikkönen, campeões mundiais que chegaram a ser sondados pela RBR no verão de 2013. 181 a 133 e 45, respectivamente.

Os ótimos números incluem um fator: o excelente aproveitamento de cada uma das oportunidades. Ricciardo não cometeu erros até aqui. Sua média de resultados em classificações é 4,5; de chegada, 3,3. Nisso, não se pode deixar de mencionar a excelência da Red Bull como equipe. Os tetracampeões possuem, provavelmente, a melhor operação dentre as escuderias que estão na F1 atualmente. Tanto que souberam se recuperar de uma pré-temporada assombrosa para subir o pódio em oito GPs. Nas corridas, sabem se colocar no lugar certo, na hora certa — e foi por isso que venceram no Canadá, na Hungria e na Bélgica.

Destas três, a prova cujo resultado foi o mais surpreendente, sem dúvida, foi a da Bélgica. Levando em conta que o V6 turbo da Renault não é lá muito potente, embora tenha melhorado bastante desde o início do ano, a Red Bull fez mágica. O time técnico de Adrian Newey confiou no downforce natural do carro e preparou um pacote aerodinâmico com pouquíssimo arrasto. Foi possível superar a Williams, que sonhava com uma vitória em Spa, e se colocar como a equipe mais forte para capitalizar em cima do toque de Rosberg em Hamilton na segunda volta da corrida.

O GP da Itália também pode ser dado como exemplo: não tinha como acompanhar Mercedes e Williams, mas a Red Bull tratou de terminar em quinto e sexto, batendo equipes que tinham mais potencial para andar bem em Monza, como a McLaren, a Force India e a Ferrari.

Curioso é notar que, nas três corridas disputadas desde as férias da F1, Mercedes e Red Bull estão empatadas com 86 pontos. Hamilton e Ricciardo somaram 50 pontos cada, ao passo que seus companheiros marcaram 36.

Não é por ter chances de título que Daniel Ricciardo sorri, mas ter chances realmente faz com que o australiano sorria ainda mais (Foto: Getty Images)

O empate coincide com o aumento do número de problemas mecânicos enfrentados pela Mercedes no campeonato. Em Spa, aconteceu o já mencionado toque. Em Monza, embora tenham feito a dobradinha, Hamilton e Rosberg perderam uma sessão de treinos cada por causa de defeitos no carro. Em Cingapura, Rosberg bem que tentou insistir após ficar parado no grid na volta de apresentação, mas abandonou já em seu primeiro pit-stop.

O otimismo que o desempenho puro pode passar vai por água abaixo quando se coloca na balança o peso que tem o carro — e o F1 W05 Hybrid da Mercedes é infinitamente melhor. Tão melhor que em Cingapura, um lugar em que a RBR sonhava com uma oportunidade, Hamilton foi capaz de ganhar com 13s de vantagem e fazendo uma parada a mais nos boxes.

Não é à toa, portanto, que ao se fazer uma projeção das corridas que restam no campeonato se coloque a Mercedes como favorita em todas elas. A Red Bull é que tenta encontrar razões para ficar animada para uma ou outra — especialmente aquelas em que possui um histórico bastante favorável, como Suzuka, daqui a duas semanas.

A equipe austríaca já falou que espera andar perto de Hamilton e Rosberg no GP do Japão. Quer fazer valer a eficiência aerodinâmica do RB10 em uma pista bastante fluída e repleta de mudanças de direção — especialmente no primeiro setor. Também já venceu em Austin, Interlagos e Yas Marina — destes, talvez o autódromo paulistano seja o mais promissor. E ainda tem o GP da Rússia, novidade para todos, mas um traçado urbano que normalmente favorece carros com boa pressão aerodinâmica.

No fundo, o segredo para se manter vivo na briga — e buscar reduzir a vantagem para o resto depende de Ricciardo e a Red Bull seguirem tirando o máximo de cada oportunidade que pintar.

Ao longo do ano, a Red Bull somou o mesmo número de pontos ou mais que a Mercedes em cinco: Canadá (40 a 18), Inglaterra (25 a 25), Hungria (31 a 27), Bélgica (35 a 18) e Cingapura (33 a 25). O denominador-comum entre todas elas: Hamilton e Rosberg enfrentaram algum tipo de contratempo na classificação ou na corrida.

Se a Mercedes conseguir dar um jeito na confiabilidade do F1 W05, também não custa nada para Ricciardo torcer por um acidente entre Hamilton e Rosberg. Numa dessas, ele tira 25 pontos dos dois de uma vez só.

E, por enquanto, nada de ordens de equipe. Não enquanto Sebastian Vettel seguir com chances matemáticas e as chances de título de Ricciardo parecerem remotas, como esclareceu Christian Horner. “Seria errado interferir na situação em que eles estão. Se houvesse uma chance realista de Daniel vencer, e Sebastian estivesse matematicamente fora do campeonato, então é claro que faríamos o melhor possível pelo time”, asseverou.

De todo modo, chegar em terceiro lugar em um campeonato dominado por uma equipe não é nenhuma vergonha para Ricciardo. Na verdade, terá sido um ano do qual ele tem muitos pontos positivos para extrair e tentar se fortalecer para o próximo. Encarar a pequena chance que ele tem de forma mais incisiva, inclusive, pode servir como um grande aprendizado para o futuro de um cara que, no futuro, pode se tornar campeão da F1.

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