Má fase da McLaren Honda abre batalha por milionário quinto lugar no Mundial de Construtores da F1

Enquanto a McLaren começa a dar sinais de crescimento depois dos primeiros pontos conquistados na temporada, a Toro Rosso aposta na dupla mais jovem da F1 para chegar ao seu objetivo de terminar 2015 como a quinta força do grid e faturar um prêmio que pode chegar aos R$ 200 milhões. Mas as inconstantes Lotus e Force India ainda podem incomodar, enquanto a Sauber depende do talento de Felipe Nasr

Ao menos nas quatro primeiras posições, o jogo de forças da F1 para a temporada 2015 parece bem definido. Assim como já aconteceu no ano passado, a Mercedes surge como a prima-dona do grid e só perde para ela mesma, visto o que aconteceu em Mônaco no último domingo (24). A Ferrari come pelas beiradas: depois de um 2014 catastrófico, a lendária equipe de Maranello conta com Sebastian Vettel e Kimi Räikkönen e um carro capaz de lutar por pódios e, com uma dose de sorte aqui e ali, até pode brigar por vitórias, como foi em Sepang com Vettel. A Williams, mesmo sem ter os lampejos de brilho como no ano passado, se mantém sólida, ao menos por enquanto, como o terceiro melhor time da F1, enquanto a Red Bull tenta dar um olé nas deficiências de potência do motor Renault para se estabelecer como quarta força.

E a quinta melhor equipe? Aí o cenário se mostra bastante cinzento depois de seis etapas no Mundial 2015. É uma disputa que envolve muito dinheiro. A título de comparação, a McLaren, que finalizou a temporada 2014 exatamente em quinto lugar, embolsou, pela colocação, o equivalente a R$ 191 milhões em prêmios distribuídos pela FOM (Formula One Management), empresa que detém os direitos comerciais da F1. E é a McLaren, que vive um momento de grande transição na sua equipe, a responsável, ainda que indiretamente, por embolar a disputa pela última vaga no seleto top-5 da F1.

Longe dos tempos de glória que a colocaram como uma das maiores equipes de todos os tempos da F1, a McLaren busca se reerguer pouco a pouco, mas tem contra si, nessa disputa pelo melhor time do pelotão intermediário em 2015, quatro escuderias que vivem mometos distintos: a Toro Rosso, que no início do ano traçou como meta principal exatamente terminar em quinto lugar; a Lotus, que a partir deste ano conta com os ótimos e confiáveis motores Mercedes; a Force India, que enfrenta grave crise de orçamento e trabalha para colocar um novo carro na pista a partir do GP da Áustria, e a Sauber, muito dependente do talento de Felipe Nasr.

A Manor Marussia, por sua vez, sequer poderia ser elencada como uma postulante ao quinto lugar tamanha sua fragilidade de desempenho, com Roberto Merhi e Will Stevens muitas vezes andando em ritmo inferior aos carros da GP2.

Na luta pelo top-5 da F1, a Toro Rosso tem a McLaren como grande concorrente (Foto: Toro Rosso/Facebook)

A seguir, o GRANDE PRÊMIO traz o panorama da disputa pelo quinto lugar do Mundial de Construtores e, equipe por equipe, estabelece uma projeção para as próximas etapas da temporada com base no conjunto que cada uma dispõe.

Mundial de Construtores, temporada 2015, a partir do quinto lugar:

5   SAUBER FERRARI     21
6   FORCE INDIA MERCEDES     17
7   LOTUS MERCEDES     16
8   TORO ROSSO RENAULT     15
9   McLAREN HONDA     4
10   MANOR MARUSSIA     0

McLaren Honda

Depois de 20 anos de parceria com a Mercedes para fornecimento de motores, a McLaren decidiu olhar para o futuro resgatando um vitorioso casamento com a Honda para recolocar no grid uma das uniões mais incríveis da história da F1. Ainda que os resultados em pista em termos de pontos não sejam dos mais animadores, a evolução no desempenho do MP4-30 de Jenson Button e Fernando Alonso tem sido notória. Na primeira corrida do ano, em Melbourne, Button terminou em 11º e último, tomando duas voltas do vencedor, Lewis Hamilton. Na sexta etapa do campeonato, em Mônaco, o mesmo Button somou os primeiros quatro pontos da equipe ao terminar a prova num bom oitavo lugar. Alonso, contratado a peso de ouro pela McLaren, também pontuaria não fosse a pane no câmbio sofrida no domingo.

Fernando Alonso chegou para liderar na pista o projeto da McLaren Honda (Foto: McLaren/Facebook)

Obviamente, Mônaco é uma pista onde a potência do motor não é tão importante: o traçado monegasco favorece mais aos chassis mais equilibrados do grid, como é o caso do MP4-30, e essa foi uma das razões para a McLaren ter andado bem em Monte Carlo. Em teoria, o cenário deve ser um pouco distinto ao menos nas próximas três corridas da temporada: Canadá, Áustria e Inglaterra, mas a Honda prepara atualizações na sua unidade de força para chegar a Silverstone em condições de alcançar uma meta extremamente ousada traçada pelo seu comandante, Yasuhisa Arai: brigar pelo pódio. Embora tal objetivo possa parecer pretensioso demais, a história diz que não se deve duvidar dos japoneses jamais.

Por outro lado, Alonso, meio que jogando a toalha sobre 2015, prefere ignorar a classificação da equipe neste ano ao focar totalmente na temporada 2016, quando acredita que o projeto McLaren Honda, mais maduro, terá mais chances de lutar em igualdade de condições com as equipes de topo e não apenas brigar no pelotão intermediário. "Por que não colocar o foco no ano que vem? Todos os problemas que tivemos neste ano são boas notícias porque não vão se repetir no ano que vem", declarou o espanhol, que considerou em Mônaco o MP4-30 "muito frágil".

Mesmo atualmente em nono lugar, com quatro pontos conquistados no Mundial de Construtores, a McLaren desponta como grande força para ao menos igualar o quinto lugar conquistado no ano passado, uma vez que, mesmo sem contar com um patrocinador máster, o time de Woking tem orçamento muito maior que das suas adversárias diretas pela última vaga no top-5. A diferença para a atual quinta colocada nem é tão grande. A tabela, aliás, mostra uma disputa bem embolada pelo milionário quinto posto do Mundial.

Toro Rosso Renault

Liderada por Franz Tost, a Toro Rosso surpreendeu o mundo do esporte ao formar a dupla de pilotos mais jovem da história da F1. Com média de idade de apenas 18 anos e meio, o duo composto pelos talentosos e rápidos Carlos Sainz Jr. e Max Verstappen vem mostrando muito potencial com um bem-nascido STR10, cujo projeto é chefiado por James Key. Entretanto, os jovens ainda terão de lidar por um bom tempo com a falta de experiência e maturidade, sobretudo Verstappen, que aos 17 anos, pulou direto da F3 Europeia (fez apenas uma temporada depois que saiu do kart) para a F1. Prova dessa falta de maturidade foi vista no seu acidente sofrido em Mônaco, ainda que Romain Grosjean tenha atrasado a freada. Tudo é um pouco parte do aprendizado.

Carlos Sainz Jr. faz uma boa temporada de estreia como piloto de F1 (Foto: Scuderia Toro Rosso/Facebook)

Mas o carro vem se comportando bem nas últimas etapas e oferece a Sainz Jr. e Verstappen chances de chegar aos pontos com frequência. O bom piloto espanhol, por exemplo, fez grande corrida em Monte Carlo: depois de largar do pit-lane após sofrer uma punição, Carlos conseguiu terminar num ótimo décimo lugar, considerando todas as condições difíceis de Mônaco. Não fosse a sanção por ter ignorado a pesagem no Q1 em Mônaco, Sainz Jr. poderia somar ainda mais pontos.

Após as primeiras corridas da temporada, Tost reiterou a meta para 2015 antes de dar um próximo e grandioso passo. "Queremos terminar em quinto, e nosso próximo passo seria trabalhar em conjunto com uma montadora ou então ser equipe de fábrica para nos tornarmos realmente postulantes ao topo".

Mas para alcançar tal objetivo, pesa contra a Toro Rosso, além da inexperiência dos seus pilotos, a duvidosa confiabilidade da unidade de força Renault que empurra o STR10. Falando apenas sobre o motor de combustão interna (ICE), Verstappen já chegou ao limite de quatro usados, enquanto Sainz Jr. usou três. Considerando que as próximas corridas do calendário serão muito mais exigentes para os propulsores, a dupla da Toro Rosso vive sob um risco iminente de punição — perda de dez posições no grid a partir do uso do quinto motor.

Lotus Mercedes

Pode-se dizer que a Lotus tem algumas características opostas em relação à Toro Rosso. A começar pela confiabilidade e potência dos seus motores Mercedes, que ainda não apresentaram problemas neste primeiro terço de temporada. E diferente de Sainz Jr. e Verstappen, a dupla da Lotus é muito mais ‘cascuda’: os experientes e campeões da GP2 Romain Grosjean e Pastor Maldonado guiam o E23 em 2015, embora ambos vivam situações bem distintas durante o ano. O franco-suíço vem fazendo uma temporada bem razoável, pontuando com frequência no Mundial, e só não o fez mais uma vez em Mônaco por causa do acidente com Verstappen na entrada da curva Sainte Dévote.

A Lotus mostra ter bom conjunto, mas inconsistência de Maldonado atrapalha planos de luta pelo top-5 (Foto: Beto Issa)

Maldonado, pelo contrário, atravessa uma fase terrível. Contando com o fim da temporada passada, já são oito corridas sem chegar aos pontos. O venezuelano mostra arrojo ímpar na pista, apresenta bom ritmo, sobretudo em classificações, e por vezes se encarrega de ser o showman da F1 atual, como aconteceu no GP da Espanha, mas não consegue tirar de si a nuvem negra que insiste em acompanhá-lo.

É certo que Pastor voltará a pontuar — potencial e capacidade do carro não lhe faltam —, mas esse resgate da confiança perdida pela falta de resultados pode levar algum tempo. Enquanto isso, a Lotus fica dependente exclusivamente da constância de Grosjean, o que parece pouco para abrir vantagem em relação às outras equipes postulantes ao quinto lugar na F1. Ainda que tenha um carro bem razoável e o melhor motor da F1, a escuderia de Enstone não dá mostras de que conseguirá ser a quinta força do grid. Talvez sua luta mais realista, ao menos por agora, seja para melhorar a oitava posição conquistada em 2014.

Force India Mercedes

Diante de uma crise financeira que atrasou muito o projeto de concepção do novo carro, a Force India até que vem fazendo um Mundial bem razoável considerando o cenário atual. A ótima e sólida dupla formada por Nico Hülkenberg e Sergio Pérez disputa essa primeira fase do campeonato com um VJM08 carente de atualizações enquanto espera ansiosamente pela estreia da especificação B, prevista para ir à pista pela primeira vez na Áustria ou, no máximo, em Silverstone. Caso o debute do carro seja mesmo em Spielberg, a Force India só terá condições de levar um chassi atualizado na pista, e vai decidir na moedinha, no famoso cara-e-coroa, quem terá a chance de pilotar o bólido novo pela primeira vez.

A Force India de 'Checo' Pérez trava disputa direta com a Lotus no pelotão intermediário (Foto: Force India/Facebook)

Enquanto o novo carro não vem, o jeito é se virar com o que tem e pontuar aqui e ali. A dupla de pilotos é bastante talentosa, embora Hülkenberg, reconhecidamente um grande piloto, dê sinais cada vez mais evidentes de que está atraído pelos novos horizontes no WEC e, ao mesmo tempo, enfadado e sem o mesmo tesão pela F1, correndo sempre por equipes que não são capazes de lhe dar um carro competitivo. Depois de somar pontos no esvaziado GP da Austrália, ainda que em oitavo, Nico jamais voltou ao top-10. ‘Checo’ Pérez, por sua vez, vem tendo performances mais sólidas, como por exemplo o excelente desempenho no GP de Mônaco, onde alcançou seu melhor resultado no ano, sétimo lugar.

Mas a falta de recursos da Force India, o atraso na concepção e desenvolvimento do novo carro e a queda de rendimento de Hülkenberg deixam o time chefiado por Vijay Mallya um pouco mais longe do quinto lugar no Mundial de Construtores. É esperado que a especificação B do VJM08 possa representar um importante salto de qualidade, mas é impossível sequer prever, antes de ir à pista, se o time de Silverstone terá condições de se manter na luta pela última vaga no top-5 contra times em ascensão como a McLaren, ou com projetos já consolidados, como o da Toro Rosso. Nesse sentido, a Force India corre bem por fora no momento, mas está num patamar um pouco superior ao da Sauber, momentaneamente a quinta força do grid, ao menos na tabela dos Construtores.

Sauber Ferrari

Parece claro que a Sauber é muito dependente do talento de Felipe Nasr. Afinal, o novato brasileiro é responsável por 16 pontos da escuderia de Hilwil, dez deles conquistados no GP da Austrália, onde terminou num excepcional quinto lugar. Claro que a corrida em Melbourne, considerando todas as condições, foi atípica, mas a larga pontuação serviu para dar um fôlego ao time que zerou em 2014. Mas sem contar com um grande orçamento para manter o desenvolvimento do C34 — empurrado pelo ótimo motor Ferrari —, a Sauber parece ter poucas condições de manter o quinto lugar no Mundial de Construtores. 

Nasr é a grande arma da Sauber na luta contra as equipes do pelotão intermediário da F1 (Foto: AP)

As últimas performances da Sauber mostram que a equipe já está num patamar atrás em relação aos outros times. Foi no GP da China a última vez que a escuderia suíça foi ao Q3, com Nasr e Marcus Ericsson, que terminaram a corrida em Xangai em oitavo e décimo, respectivamente. Depois, a dupla enfrentou dificuldades com um carro que ficou para trás em termos de desenvolvimento e só voltou aos pontos em Mônaco, com Felipe conquistando um baita resultado na sua estreia no GP de Mônaco.

Pouco antes do GP de Mônaco, o brasiliense de 22 anos falou que grandes atualizações no C34 estão previstas apenas para depois das férias da F1, no verão europeu, em agosto. "Nossa principal limitação ainda é o lado aerodinâmico, estamos limitados em downforce, já que temos o mesmo pacote do início do ano."

O nono lugar de Nasr em Monte Carlo é emblemático e representa bem o atual quadro da Sauber, que depende demais do trabalho do brasileiro para alcançar suas melhores posições, mas também depende do infortúnio das suas concorrentes diretas no pelotão intermediário para ir pontuando aqui e ali. Com uma perspectiva maior de crescimento, sobretudo de McLaren, Toro Rosso, Lotus e, talvez, Force India, será quase impossível ao time helvético sustentar essa quinta colocação, mesmo contando com a capacidade de Nasr.

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