Mercedes faz Red Bull descer um degrau e Ferrari sucumbir em 2014. E provoca mudanças a rodo para 2015

Antigas protagonistas, Red Bull e Ferrari viveram um ano de revés em 2014. As duas foram dominadas e ofuscadas pela Mercedes. Enquanto a primeira desceu um degrau, a segunda se viu em uma crise interna. Como resultado, os dois times promoveram mudanças profundas para o campeonato que começa em março de 2015. E é disso que trata a quarta parte da RETROSPECTIVA F1 2014 do GRANDE PRÊMIO nesta quinta-feira

Protagonistas nas últimas temporadas da F1, Red Bull e Ferrari foram ofuscadas pelo domínio acachapante da Mercedes em 2014. A equipe alemã atropelou as duas adversárias, não deu qualquer chances e fechou o Mundial de Construtores na ponta, com 296 pontos de vantagem para o time austríaco, ainda vice-campeão, e incríveis 485 para a escuderia italiana, que ficou apenas na quarta colocação. Enquanto a esquadra das bebidas energéticas desceu um degrau, a escuderia italiana se viu em meio a uma grave crise interna.

A tetracampeã ainda conseguiu vencer, é verdade, mas o fez se valendo de uma de suas melhores características: a de se aproveitar muito bem das oportunidades. Aqui, também é justo falar de Daniel Ricciardo. O jovem australiano não sentiu a pressão de correr ao lado do multicampeão Sebastian Vettel e foi além. Faturou três GPs — Canadá, Hungria e Bélgica — e exibiu um desempenho sólido e consistente ao longo do Mundial neste ano.

Já em Maranello o ano foi para esquecer. Longe de triunfos e da disputa do título, os vermelhos conquistaram apenas dois pódios em 2014, ambos com Fernando Alonso. Muito pouco para um time com a história e o peso da equipe do Cavallino Rampante.

Portanto, como resultado de um campeonato bastante irregular e decepcionante, mudanças foram necessárias em ambas. Na Red Bull, a estrela da equipe, Vettel, decidiu que seu ciclo havia acabado e foi procurar uma nova motivação, curiosamente na Ferrari. Para o lugar do alemão, a marca de Dietrich Mateschitz trouxe o novato Daniil Kvyat, que andou muito bem na Toro Rosso em sua temporada de estreia.

Na escuderia italiana, Vettel vai assumir o posto que já pertenceu a Alonso, que, por sua vez, também optou por deixar as garagens ferraristas após cinco campeonatos e nenhum título. A decisão de sair de Vettel e Alonso não chegou a surpreender, mas foi emblemática, porque ambos ainda possuíam mais um ano de contrato com suas respectivas equipes. As mudanças ajudaram a movimentar a ‘silly season’ da F1 e agitaram o mercado de pilotos.

Depois de muita embromação, o espanhol finalmente escolheu apostar no projeto McLaren-Honda e vai voltar a defender a esquadra britânica em 2015. Quanto à Ferrari, as mudanças ultrapassaram o cockpit. Praticamente todo o staff técnico e o comando foram alterados para tentar tirar o mais famoso time da F1 do buraco. 

Red Bull e Ferrari viveram um 2014 nada fácil na F1 (Foto: Getty Images)
Início problemático 

A Red Bull se viu em apuros logo na primeira semana de testes em Jerez de la Frontera. Ainda no sul da Espanha, ficou muito claro que o RB10 tinha problemas crônicos, inclusive de projeto, mas muito em função da adaptação à unidade de força fabricada pela Renault. Na verdade, o grande calcanhar de Aquiles foi mesmo o V6 construído pela montadora francesa.  O conjunto carro-motor dos austríacos era muito lento no início e, nos 12 dias de atividades, os pilotos pouco andaram, enfrentando falhas diversas, especialmente Sebastian Vettel.

Aí veio Melbourne. E a marca dos energéticos acabou mostrando que as semanas de intervalo entre os treinos coletivos e a Austrália foram bem aproveitadas.

Em meio a uma classificação tumultuada e marcada pela chuva, Daniel Ricciardo, que se tornaria o homem da Red Bull mais tarde, se colocou em segundo no grid, apenas atrás de Lewis Hamilton com a poderosa Mercedes. O dono da casa também não desapontou na corrida e foi ao pódio com o segundo lugar, mas uma falha no fluxo de combustível o desclassificou da prova.

Vettel também não teve sorte melhor. Abandonou por problemas de motor. É, o começo não foi nada fácil para o time que estava acostumado a ditar as regras na F1.

Na etapa seguinte, o alemão reagiu e cravou o segundo tempo do grid. Ricciardo foi o quinto. Mas a corrida em Sepang se mostrou bem mais complicada. Seb foi ao pódio, enquanto Daniel enfrentou problemas com uma falha na asa e teve de abandonar.

No Bahrein, onde a Red Bull costumava dar as cartas, a vida não foi das mais fáceis. O tetracampeão foi apenas o décimo no grid e o sexto na corrida, sendo, no fim, ainda superado por Ricciardo, que terminou em quarto depois de largar apenas em 13º. Aí a F1 viajou para a China e lá o desempenho foi mais consistente. Daniel se colocou na segunda colocação no grid, sendo o quarto na prova. Seb saiu de terceiro, para cruzar a linha de chegada em quinto. Apesar da melhora e da constante permanência na zona de pontos, a equipe continuava longe da Mercedes.

O GP da Espanha marcou o começo da temporada europeia. E um esboço de virada para os austríacos. Os dois se mantiveram na zona de pontos, sendo que Vettel foi o quarto, enquanto Ricciardo subiu novamente ao pódio, com o terceiro posto. Em Mônaco, Ricciardo repetiu o pódio, enquanto o alemão abandonou.

Sebastian Vettel viveu uma temporada complicada em 2014 (Foto: Getty Images)

A primeira vitória 


Depois do Principado, o calendário levou as equipes e pilotos para o Canadá e lá surgiu a primeira grande chance dos energéticos. Pela primeira vez no ano, a Mercedes sucumbia com ambos os carros, ainda que Nico Rosberg tenha conseguido permanecer na proba, a Red Bull identificou rapidamente a chance e colocou Ricciardo à frente. Foi a primeira vitória do australiano na F1. Vettel ainda terminou em terceiro.

De volta à Europa, Ricciardo continuou com seu desempenho regular, andando sempre no pelotão dos pontos entre as etapas da Áustria e da Alemanha, mas ai duas novas chances de vitória bateram à porta da Red Bull.

Ainda que não pudesse duelar de igual para igual com a esquadra alemã, a equipe chefiada por Christian Horner tratava de aproveitar muito bem todas as chances, e isso aconteceu na Hungria, em uma prova tumultuada e marcada por erros de estratégia dos adversários. Acertando na tática, o time austríaco devolveu Ricciardo na parte final da corrida em condições de lutar pelo triunfo, e o jovem não desperdiçou com lindas ultrapassagens em ninguém menos que Lewis Hamilton e Fernando Alonso.

Na Bélgica, a Red Bull ousou ao mudar a configuração aerodinâmica de seu carro e foi recompensado. Mais que isso, ainda soube se beneficiar do choque entre os dois postulantes ao título na segunda volta. Daniel, sempre ele, era quem estava pronto e no caminho do triunfo.

Como resultado, o dono do sorriso mais largo da F1 saiu de Spa com mais uma conquista no bolso e uma chance improvável ainda de brigar pelo título. Já Vettel continuava em uma fase de coadjuvante, mas sempre na zona de pontos.

Só que as oportunidades não surgiram mais no restante da temporada. Mesmo assim, a Red Bull foi contabilizando pódios e pontos. Se na pista, a equipe vinha conseguindo lidar bem com a diferença para a Mercedes e administrando os prejuízos, fora dela já tinha de lidar com a saída de Vettel.

O alemão, de fato, viveu um ano bastante complicado, em que não mostrou adaptação ao carro e ficou longe das vitórias, sendo ainda ofuscado pelo companheiro de time. Assim sendo, Sebastian acabou realizando um sonho antigo e assinou com a Ferrari ainda antes do término da temporada. É ele quem vai substituir Fernando Alonso em 2015.

No fim das contas, apesar de não ter tido condições de brigar com a Mercedes, a Red Bull se manteve como a melhor do resto. Terminou 2014 como vice-campeã e única a bater os carros prateados. Nada mal para quem começou o ano sem nem conseguir completar as primeiras voltas.

Daniel Ricciardo celebra vitória em Spa (Foto: Getty Images)

Início discreto

Para 2014, a Ferrari optou por ter dois campeões mundiais em suas garagens. A equipe italiana, que havia dispensado Felipe Massa no ano anterior, resolveu apostar suas fichas em Kimi Räikkönen para formar dupla com Fernando Alonso. Duo dos mais fortes, sem dúvida. A história contaria um capítulo diferente, entretanto.


A F14T nasceu discreta e assim foi nos testes de pré-temporada. Quase não apresentou problemas técnicos, mas ficou evidente que os italianos deixaram a deseja com relação ao motor e ao chassi. Ainda assim, o modelo primou pela confiabilidade. E disso ninguém pode reclamar em Maranello. O desenvolvimento do carro, entretanto, não aconteceu ao longo do ano, o que dificultou bastante a vida de Alonso e, principalmente de Räikkönen, que não se acertou com o manhoso projeto ferrarista e acabou ofuscado pelo colega espanhol.
Kimi Räikkönen voltou à Ferrari em 2014 (Foto: Getty Images)

As primeiras provas do ano serviram para mostrar que a Ferrari não teria mesmo condições de entrar em uma disputa nem com a Mercedes e nem com a Red Bull. Nos três GPs iniciais do ano – Austrália, Malásia, e Bahrein -, a equipe exibiu um desempenho apenas discreto. Alonso foi duas vezes quarto e nono em Sakhir. Raikkonen, por sua vez, foi sétimo, 12º e décimo. A performance fez surgir a luz amarela em Maranello e com ela veio a primeira grande mudança na cúpula do time.

Stefano Domenicali, que chefiava a escuderia desde o fim de 2007, renunciou ao cargo e abriu caminho para a chegada de Marco Mattiacci, executivo de prestígio da marca nos EUA, mas sem qualquer ligação com a parte esportiva. De qualquer forma, foi ele o escolhido por Luca di Montezemolo e companhia para tentar salvar a equipe de um fracasso.

Logo depois da troca de comando, ainda em abril, a F1 desembarcou na China. Lá, Alonso conseguiu o primeiro de seus dois pódios em 2014. Kimi foi só oitavo. Daí em diante, os dois passaram a brigar apenas por posições intermediárias, com Alonso sempre à frente do finlandês. Raras foram as oportunidades em que o espanhol foi superado pelo colega.

O bicampeão teve apenas um momento de brilho mesmo, que foi na Hungria. Devido às intempéries e erros de tática dos rivais, o espanhol se viu na liderança. Apostou uma estratégia arriscada. Não conseguiu ficar com a vitória, mas subiu ao pódio. Foi a última grande conquista com a Ferrari também.

Só que isso não foi suficiente para apagar os incêndios em Maranello. A equipe ainda patinava por resultados melhores e sucumbia aos poucos. Diante desse cenário, a cúpula da Fiat agiu e tratou de dispensar um dos nomes mais icônicos da marca italiana. Logo depois do GP da Itália, a empresa vermelha anunciou a saída de Luca di Montezemolo da presidência. Sergio Marchionne, diretor-executivo do grupo Fiat-Chrysler, assumiu o cargo.

Evidentemente a alteração não mudou nada na pista, e o calvário ferrarista permaneceu na segunda parte da temporada. E tanto Fernando quanto Kimi nada conseguiram além de papeis secundários. Iam marcando pontos como podiam.

Neste mesmo ponto, começaram as especulações sobre um acordo entre Alonso e a McLaren. Os rumores e as negativas de ambas as partes durante até depois da temporada, quando finalmente a equipe inglesa anunciou a contratação do espanhol, que se viu cansado em Maranello.

Fernando Alonso puxou a listas dos profissionais fora da Ferrari (Foto: AP)

No fim, a esquadra italiana fechou a temporada 2014 apenas na quarta colocação, sem nenhuma vitória. Foi a primeira vez desde 1993 que a escuderia terminou um ano fora do top-3. Por isso, uma reestruturação interna foi iniciada após o fim do campeonato. As semanas que se seguiram ao derradeiro GP de Abu Dhabi viram a saída de Marco Mattiacci e a chegada do executivo Maurizio Arrivabene. Mais tarde, a equipe ainda anunciou a dispensa dos diretores Nikolas Tombazis e Pat Fry, responsáveis pela parte técnica nas últimas temporadas, além do engenheiro pela performance dos pneus, Hirohide Hamashima.

Aposta da Ferrari para 2015 é a reorganização geral de sua casa. A equipe não vence um Mundial de Construtores desde 2008 e precisa urgentemente voltar ao topo ou vai reviver os anos amargos do início da década de 90.

JUNTOS EM 2014, MASSA E WILLIAMS RENASCEM NA F1
A RETROSPECTIVA 2014 do GRANDE PRÊMIO relembra nesta quarta-feira (17) como Felipe Massa e a Williams foram capazes de dar a volta por cima para tornar a lutar por pódios e vitórias com frequência na F1. Mais do que nas vitórias de Daniel Ricciardo, o único momento em que a Mercedes apareceu sem a máscara da invencibilidade foi mesmo no treino classificatório para o GP da Áustria.

Leia a terceira parte da Retrospectiva F1 2014 no GRANDE PRÊMIO. 

 
DUELO ENTRE HAMILTON E ROSBERG F1 2014 ANO DA MONOTONIA
O segundo capítulo da RETROSPECTIVA 2014 do GRANDE PRÊMIO trata da disputa interna dos dois pilotos da Mercedes. Dá para dizer que o Mundial viu uma boa batalha pelo título entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Não chega a ser uma das maiores da história, mas certamente foi boa o bastante para agradar quem a acompanhou.
 
RETROSPECTIVA F1 2014:
HISTÓRIAS QUE VÃO ALÉM DA MERCEDES

O GRANDE PRÊMIO dá início nesta segunda-feira (15) à RETROSPECTIVA 2014 e começa a mergulhar outra vez no que foi a temporada do Mundial de F1 — um ano de uma equipe só.
 
A Mercedes e Lewis Hamilton foram os grandes destaques graças às marcas que alcançaram. A equipe se tornou a recordista de vitórias em um único campeonato graças a um acerto primoroso no desenvolvimento dos novos motores V6 turbo. O inglês se sagrou bicampeão e tornou-se o mais vencedor britânico da história da F1 e o segundo mais vitorioso dentre os pilotos em atividade — atrás só de Sebastian Vettel.

Leia a reportagem completa no GRANDE PRÊMIO.

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