Na Garagem: Williams viu Piquet vencer e não gostar. Ele estava de saída da equipe

Há 28 anos, Nelson Piquet vencia pela segunda vez o GP da Hungria de F1. Foi uma vitória que colocou de vez o brasileiro no caminho do tricampeonato. Mas ao menos para a Williams, sua equipe à época, o triunfo foi indesejado. A preferência era pelo piloto da casa, Nigel Mansell

O GP da Hungria de 1987, em 9 de agosto, marcava o início da segunda metade da temporada naquele ano. Quando a F1 chegou a Budapeste para a nona etapa do campeonato, a tabela mostrava Nelson Piquet com 39 pontos e Nigel Mansell com 30. Entre eles, estava Ayrton Senna, com 35 pontos, fazendo a sua melhor temporada na F1 até então. Alain Prost, apesar das vitórias no Brasil e na Bélgica, tinha apenas 26 pontos até ali.

Por dividir forças entre seus pilotos, a Williams perdeu o campeonato de 1986 para Alain Prost, da McLaren, por um ponto. Prost sofria com a confiabilidade do seu motor Porsche e abandonou três das oito primeiras etapas. Apesar do início de temporada promissor do francês, Prost só liderou o campeonato até Mônaco, a quarta etapa.

Senna, fazendo um campeonato muito regular, tinha duas vitórias e outros três pódios, mas não tinha equipamento para lutar contra Piquet e Mansell, que contavam com o forte pacote Williams Honda. Apesar de ter emendado nove corridas seguidas nos pontos, o piloto da Lotus só ponteou a tabela até Silverstone, sétima etapa. Nada tiraria o campeonato da Williams dessa vez.

Mansell liderou o Mundial apenas após uma etapa, em San Marino, na segunda das 16 corridas. Mas foi uma liderança enganosa. Depois disso, o inglês jamais estaria na ponta da tabela, sofrendo com falhas de motor, elétricas e com sua conhecida afobação na pista. Na Bélgica, ele estava em segundo e, ao tentar passar Senna na segunda volta, causou um acidente que tirou ambos da corrida.

Quem estava muito satisfeito com esse cenário era Piquet. O brasileiro teve um início de temporada muito difícil. Um acidente em Ímola na curva Tamburello e o abandono na Bélgica deixaram o brasileiro 12 pontos atrás do líder. Mesmo sem vencer nenhuma das sete primeiras provas da temporada, depois de Spa-Francorchamps, Piquet nunca esteve a menos de seis pontos da liderança do campeonato.

Mansell largou na pole do GP da Hungria. Mas a vitória estava destinada à Williams de Piquet (Foto: LAT Photographic/Forix)

Como isso foi possível? Regularidade. Entre a quarta (Mônaco) e a décima primeira etapas (Itália) Piquet foi segundo ou vencedor da prova. Nesse intervalo, ‘Nelsão’ fez 57 pontos, contra 31 de Mansell e 43 de Senna. Numa equipe onde Mansell tinha a preferência, o brasileiro apostava na constância para somar pontos e aproveitar as quebras de Prost, a afobação de Mansell e a falta de equipamento de Senna para ir somando pontos. Quando ele assumiu a ponta da tabela após o GP da Alemanha, não saiu mais da liderança.

Em Hungaroring, Mansell largou na pole com 1min28s047 e Piquet partiu em terceiro com 1min29s724. A corrida marcaria mais uma das traquinagens de Piquet sobre Mansell: a Williams tinha uma distância entre eixos muito longa. Ao perceber isso, Piquet só fez a alteração no carro, deixando a Williams com um entreeixos menor somente após o warmup. Com isso, Mansell não teve tempo de copiar a modificação em seu carro também.

Após a largada, Piquet passou Berger, que largou em segundo e estava apenas comboiando o inglês. O brasileiro foi ultrapassado por Alboreto, mas tinha uma estratégia: deixar as duas Ferrari desgastarem Mansell, torcendo por uma quebra do rival. Uma falha mecânica fez Berger abandonar na 13ª volta. Alboreto ficou pelo caminho na volta 43, traído pelo motor. Era o 32º GP seguido sem vitória da Ferrari.

Nelson Piquet venceu há 28 anos o GP da Hungria. O triunfo, contudo, foi indesejado pela Williams (Foto: LAT Photographic/Forix)

Na 70ª volta, faltando apenas seis giros para o fim, a profecia de Piquet virou realidade: uma porca da roda traseira direita de Mansell se soltou, e a vitória caiu no colo de Piquet. Senna foi o segundo e Prost completou o pódio. Piquet tinha sete pontos de vantagem sobre Senna e 18 para Mansell e Prost. O tricampeonato começava a ficar cada vez mais próximo.

Já para a Williams, a situação ficava cada vez mais difícil. Naquele mesmo fim de semana, o brasileiro anunciou sua transferência para a Lotus. Ou seja: se quisesse ser campeã do mundo, a escuderia de Frank Williams precisaria trabalhar para um piloto que estava de saída e não para Mansell, preferido da maioria dos mecânicos. Apesar de três vitórias nas cinco provas seguintes, o esforço do ‘Leão’ foi em vão, e Piquet cravou o título no Japão — após Mansell sofrer um acidente e não poder correr em Suzuka —, tornando-se o maior vencedor dos anos 1980.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.