Primeira parte da temporada 2014 rende boas histórias apesar de superioridade da quase imbatível Mercedes

GRANDE PRÊMIO traz especial da primeira metade da temporada 2014 com retrospectiva e análises do que aconteceu nas 11 corridas já disputadas no Mundial de F1. Campeonato tem Mercedes dominante, briga intensa pela segunda colocação, gratas surpresas, como o renascimento da Williams e as boas atuações de Bottas, e grandes decepções, como Kimi Räikkönen e a Sauber

Talvez não tenha ninguém melhor que Fernando Alonso – e muitos acham disso enquanto piloto – para expressar o que foi essa primeira parte de campeonato da F1. Depois de fazer uma das apresentações mais impressionantes de sua carreira com o combalido carro da Ferrari e seus pneus em pandareco, o espanhol se disse espantado com o ritmo da equipe que leva o Mundial no bolso. “A Mercedes surpreendeu todo mundo neste ano. Agora nós já estamos acostumados a vê-los no primeiro lugar, mas lembro que, quando estávamos testando em Jerez, eles também tinham muitos problemas. São surpresas positivas.”
 
Alonso olha para a Mercedes como para a Red Bull que desejou no ano passado – e cujo assédio acabou resultando, meios à parte, em sua permanência forçada na Ferrari. É porque essa Mercedes é no nível da Ferrari, mas a de 2004, a que deu o último título de Michael Schumacher. Ou da Red Bull que fez Sebastian Vettel papar seu segundo título há três anos. Os carros de Lewis Hamilton e Nico Rosberg somaram 393 pontos em 11 provas, aproveitamento de 83,1%. O carro vermelho de uma década atrás tinha, no mesmo período, 87,9%; o taurino de 2011, 81%.

Com um carro tão inferior, Alonso só tem chegado perto dos pilotos da Mercedes depois das corridas (Foto: Getty Images)

A mudança no cenário da F1 veio a rodo nas novidades técnicas para o ano. Mas muito do sucesso da Mercedes se deve à eficiência do novo motor V6 turbo. Confiável e potente, permitiu uma sobra esmagadora em todas as provas. A Mercedes só deixou de vencer as duas corridas nas quais Daniel Ricciardo sorriu muito além do comum por circunstâncias: no Canadá, como num passe de mágica, os dois carros passaram a ter problemas na metade da prova, sendo que Hamilton se viu obrigado a abandonar e Rosberg, à sua maneira, arrastou-se para ainda chegar em segundo; na prova mais recente, na Hungria, a chuva e os safety-cars foram os aliados do australiano.
 
E para que Ricciardo vencesse, a Red Bull teve de chamar a Renault na chincha uma penca de vezes. Quando Alonso se referia a sofrimento no início dos testes em janeiro, Vettel poderia mencionar que as poucas voltas dadas eram piores que se estivesse amarrado em um calabouço. Agora, a montadora francesa está bem próxima em termos de velocidade, mas ainda deve uns bons cavalos que representam uns 10 ou 15 km/h em reta. É que a Red Bull sabe conceber carros e compensa esta falta de eficiência, daí estar bem à frente da Ferrari – leia-se Alonso. Ou da Williams-Mercedes.
 
Essa Williams também tem de colocar sua ascensão na conta do motor. Se mantivesse o acordo com a Renault, seria algo melhor que a Lotus, aquele horror de carro com bico-tomada que ou para na pista com problema – Grosjean – ou se vê sempre fora da pista envolto em algum problema – Maldonado, claro. Mas não se pode negar que toda a restruturação feita para que o poder de Frank Williams fosse devidamente descentralizado tenha seu peso. Mais: a Williams estaria muito melhor no campeonato não fossem dois fatores preponderantes: 1) a baixa pontuação de Felipe Massa e sua sequência de abandonos/acidentes e 2) o conservadorismo e mau tato da cúpula nas estratégias de equipe. Há um consenso claro de que a escuderia groviana tem o terceiro melhor carro do grid e almeja estar à frente da Red Bull. Mas são 84 largos pontos de diferença, praticamente improváveis de serem descontados.
 
No afã de ser grande de novo, a Williams demonstrou que seu piloto mais novo tem pedigree. Valtteri Bottas é ótimo: se perde por pouca coisa para Massa em ritmo de classificação, sobra em performance de corrida. Foram três pódios seguidos que tendem a se repetir quando pistas de alta velocidade como Spa-Francorchamps e Monza chegarem. É tão destaque como os protagonistas na luta pelo título e Ricciardo.

Depois dos pilotos da Mercedes, Ricciardo é incontestavelmente o melhor do resto na temporada 2014 (Foto: Mark Thompson/Getty Images)

Bottas está no extremo da ponta de seu compatriota finlandês. O desempenho de Kimi Räikkönen até agora beira o ridículo. Sua pontuação é menor que a do então execrado Massa em 2013. A coisa que mais se guarda de Kimi até agora foi sua declaração de que pretende se aposentar no fim do ano que vem. Só que o negócio anda tão mal para seu lado que até Jules Bianchi, autor da façanha dos dois primeiros pontos da Marussia na F1, já tem soltado aqui e ali que pode sentar na Ferrari na temporada de 2015. Considerando o histórico da parceria que foi desfeita ao término da temporada 2009, não seria de todo estranho.
 
A citada Marussia evoluiu. O que não quer dizer também que, minha nossa, mas olha que evolução, uh!, não. Mas está sempre à frente da Caterham. E na temporada, fez mais pontos que a Sauber. Que está zerada. A inaceitável campanha do time de Monisha Kaltenborn tem erros múltiplos, a começar pelos dois pilotos titulares, que não engatam a terceira na carreira. Esteban Gutiérrez não pode nem ser considerado um rostinho bonito. Adrian Sutil já teve seu nome ventilado fora da equipe. É que aí o pessoal olha para os boxes e encontra como reserva Giedo van der Garde…
 
Acima delas como comensal dos problemas alheios está a Toro Rosso. Que precisa também dar uma melhorada aqui e ali, mas que tem dois pilotos muito bons. Jean-Éric Vergne poderia ser o nome da vez não tivesse perdido a disputa com Ricciardo pela vaga da Red Bull. E Daniil Kyvat tem lá suas qualidades, sim.
 
As férias sempre são uma pausa necessária para as equipes, sobretudo para pôr os cômodos da casa em ordem. A Red Bull e Vettel têm um ótimo histórico de passos à frente na segunda parte da temporada. Não que vá alcançar a Mercedes, mas deve ser suficiente para manter a distância para a ascendente Williams. E lá na frente, Rosberg vai conseguindo, sem arroubos de brilho, manter sua vantagem para um Hamilton que ora se mostra imbatível, ora se deixa levar pelos problemas a ponto de colocar em dúvida o trabalho que se faz para ele. É isso que vai deixando Nico na briga. Como se esperava desde o começo: o inteligente × o mais rápido.
 
E também como naquela época, 11 corridas e sete meses depois ainda não foram suficientes para apontar favoritismo para um lado ou outro. Até porque colocaram uma pontuação dupla na prova final em Abu Dhabi, no dia 23 de novembro. Para o bem ou mal do campeonato.

Mercedes paga alto preço por domínio e precisa administrar rivalidade extrema entre Rosberg e Hamilton

Como se diz, a Mercedes fez direitinho a lição de casa no momento em que a F1 decidiu abandonar os motores aspirados V8 e substituí-los pelos turbos V6 de 1.6 L. Os alemães não estavam para brincadeira e produziram a melhor unidade de força dessa nova era, combinando quase com perfeição potência e confiabilidade. Aliado a isso, o time ainda colocou na pista o eficientíssimo W05 Hybrid, que se mostrou imune a dificuldades de qualquer natureza no que diz respeito à adequação aos diversos traçados do calendário. Juntou-se, então, dois pilotos de primeira linha. E aí não é difícil explicar o grande domínio imposto pela equipe prateada nesta primeira fase de 2014.

Enquanto as rivais e antigas protagonistas Ferrari e Red Bull — leia-se aqui Renault, também, devido ao mar de contratempos que a fabricante francesa atravessou por conta de seu errático motor — ainda patinavam com seus projetos e tentavam uma melhor adaptação às novas regras, a esquadra chefiada por Toto Wolff caminhava a passos largos na frente, deixando cada vez mais evidente que a única grande preocupação mesmo do time seria em como lidar com a dura batalha que já se desenhava entre seus dois competidores. E isso não tardou a acontecer.

Leia a reportagem completa.

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