Três meses após grave acidente, De Villota celebra “nova vida”: “Esta corrida eu venci, porque estou viva”

Em sua primeira entrevista após o gravíssimo acidente que culminou na perda do olho direito em decorrência da batida durante um teste aerodinâmico em Duxford, María de Villota teme que os dirigentes que regem o automobilismo lhe impeçam de voltar a competir

É possível dizer que, pouco mais de três meses após María de Villota sofrer um gravíssimo acidente durante um teste aerodinâmico pela Marussia na base aérea de Duxford, ficar dias internada, em coma, e perder o olho direito, que a pilota espanhola, de 31 anos, nasceu de novo. E é justamente em “vida nova” que María se refere para seu recomeço, não necessariamente no automobilismo.

De Villota deu sua primeira entrevista desde que sofreu o acidente, em 3 de julho, dia que mudou para sempre a sua vida. No início da manhã, na base aérea de Duxford, a Marussia promovia testes aerodinâmicos às vésperas do GP da Inglaterra. E foi lá que María acabou perdendo o controle do carro, em um acidente até hoje inexplicável, e bateu no baú de um caminhão, que estava próximo ao local. A espanhola foi removida para um hospital em Cambridge, onde ficou dias internada até se transferir para Madri para retomar sua recuperação.

Após "nascer de novo", María de Villota estampa capa da revista espanhola ¡Hola! desta semana (Foto: Reprodução)

A entrevista foi concedida à revista espanhola '¡Hola!'. Usando um tapa olho azul para ocultar a lesão e com os cabelos curtos, María, que estampa a capa da publicação desta semana, relatou seus momentos de drama, mas disse que ainda se vê como pilota, mesmo não tendo mais a certeza de que poderá competir. O que importa para a espanhola é que sua vida mudou.

“O acidente me deu uma nova perspectiva de vida, sobre as coisas que importam. Ele me ensinou que, para alcançar o que você quer, você tem de se disciplinar, em sacrifício pelo seu esforço”, disse.

“Agora que só tenho um olho, talvez perceba mais coisas do que antes, a minha vida era uma correria total, era uma luta contra o cronômetro, e agora é quando vejo que é preciso parar e avaliar as coisas de outra maneira. Já não são décimos, mas sim os pequenos momentos”, disse a sobrevivente e vitoriosa María. “Essa corrida eu venci, porque estou viva”, acrescentou.

Sem mencionar o nome da Marussia nenhuma vez ao longo da entrevista — vale lembrar que a escuderia anglo-russa se eximiu de culpa pela batida em Duxford, jogando a responsabilidade pela batida para De Villota —, María disse que ainda não sabe se terá futuro nas pistas.

“Ainda não sei, tudo depende da superlicença”, disse, mencionando o documento, uma espécie de carteira de motorista, que a permite disputar corridas na F1 e em outras categorias de ponta. “Há pilotos nos Estados Unidos que perderam um olho e ainda têm a superlicença. A verdade é que você perde o senso de profundidade, porque os dois olhos lhe dão a perspectiva”, declarou.

“O que estou querendo saber agora é se meu futuro está em ser uma pilota ou se há algo mais que tenho para fazer com a minha vida. Ainda não sei o que eu preciso fazer”, complementou María, que quer deixar um legado em termos de segurança no automobilismo, sobretudo nos testes aerodinâmicos.

“Tudo o que nós queremos ver é se há lições a aprender com o que aconteceu, para que possamos evitar acidentes como esse no futuro. A minha intenção é ajudar, com uma visão para o futuro, melhorar a segurança, especialmente nos testes aerodinâmicos, porque com os circuitos está tudo sob controle, mas não neste tipo de teste”, avisou.

María lembrou os momentos de desespero após o acidente na Inglaterra. “Eu lembro de tudo, de cada momento da batida. Quando eu acordei, e todos estavam em minha volta, eu nem sabia se ia falar, ou como ia falar. Comecei a falar em inglês, porque pensei que estava em um check-up da FIA e que a enfermeira era um treinador.”

“Então meu pai disse: ‘Por favor, María, fale em espanhol, porque sua mãe não está entendendo’. E então eu me dei conta de tudo: o que aconteceu, onde eu estava e por que estava lá”, explicou. “O primeiro dia que me olhei no espelho estava com 104 pontos, pretos, no rosto, que mais parecia que eu havia sido costurada por uma corda náutica, e havia perdido o olho direito. Fiquei horrorizada”, recordou De Villota, que agora quer simplesmente recomeçar.

Por fim, a espanhola agradeceu o apoio de todos que mandaram mensagens durante o processo de sua recuperação e falou sobre o seu renascimento. “Eu me senti profundamente amada, muito respeitada por meus colegas e por todos no mundo do automobilismo. Minha nova vida vai além dos meus sonhos, porque meu sonho era a F1 e eu alcancei isso. Eu sou uma pilota, eu me sinto como uma pilota”, encerrou María, deixando transparecer seu desejo de voltar a guiar.

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