Márquez e Crutchlow fortes, Dovizioso confiante e Yamaha na dúvida: GP da Inglaterra vira grande loteria

O treino que definiu o grid de largada para o GP da Grã-Bretanha confirmou a expectativa por um confronto entre Honda e Yamaha. De novo sob o sol inglês, as duas marcas voltaram a se agigantar, desta vez com os seus principais ― talvez mais populares ― nomes.

 

Apesar de dolorido pelo forte tombo que sofreu na tarde de sexta-feira, Marc Márquez não guardou nada para depois e tratou de bater o recorde de Silverstone neste sábado (26) com uma volta em 1min59s941 ― a primeira da história do circuito abaixo de 2min00s em corridas de moto.

 

Valentino Rossi, por outro lado, colocou para jogo o desempenho da YZR-M1 e vinha com boas chances de bater a marca do espanhol, mas perdeu na parcial final de Silverstone ― onde o protótipo dos diapasões mais sofre por conta das características da moto ― e ficou a 0s084.

Naquele que ainda é o campeonato mais disputado da classe rainha do Mundial de Motovelocidade desde a introdução do atual sistema de pontuação em 1993 ― com o top-5 separado por apenas 35 pontos, contra o registro anterior de 68 pontos de diferença após 11 corridas de 2006 e 2000 ―, a classificação na Inglaterra não podia ser diferente. Mais rápido da sexta-feira, Cal Crutchlow teve a chance de repetir a pole do ano passado, mas acabou a 0s165 do #93 depois de alguns pequenos erros e, portanto, vai largar em terceiro.

 

‘Desesperado’ para recuperar o fôlego após perder terreno na briga pelo título, Maverick Viñales aparece na sequência, mas já a 0s4 do ponteiro. Entre as Ducati, quem levou a melhor foi Jorge Lorenzo, que ficou em quinto, 0s173 mais rápido que Andrea Dovizioso.

 

Historicamente, a pista de Northamptonshire sempre caiu mais nas graças da Yamaha, que venceu quatro das sete corridas da MotoGP realizadas por lá desde 2010 ― a última em 2015 com Rossi. A Honda, por outro lado, venceu duas vezes, em 2011 com Casey Stoner e em 2014 com Marc Márquez. A última nessa conta é a Suzuki, que subiu ao topo do pódio no ano passado com Viñales ― um resultado que só tem chance de se repetir em 2017 com Álex Rins ou Andrea Iannone se algo incrivelmente incomum acontecer no traçado.

 

Hoje em boa fase, a Ducati amargou uns anos obscuros na MotoGP e o traçado inglês nunca foi muito lá com a cara da Desmosedici. O melhor que a casa de Bolonha conseguiu por lá foi um segundo lugar com Danilo Petrucci e um terceiro com Dovizioso em 2015.

 

Mas embora a classificação que tem o top-10 coberto por 0s888 seja um bom indicio do que está por vir, é o quarto treino livre que é mais significativo para a corrida. Neste cenário, apesar de a liderança ter ficado nas mãos de Lorenzo, é Márquez quem se destaca. O piloto de Cervera completou quatro voltas 2min01s e sequer chegou a baixar para 2min03s como muitos de seus pares. Crutchlow também aparece bem neste quesito, com três giros na casa de 2min01s. 

 

Do lado da Yamaha, a preocupação com o desgaste de pneus é nítida. Rossi e Viñales citaram melhoras após o teste privado de Misano, mas nenhum dos dois parece convicto de que as deficiências da M1 ficaram para trás. O #46, inclusive, falou que só tem chances de pódio em Silverstone, talvez até apenas o último lugar do top-3.

 

Corrida de grupo

 

Embora seja difícil fazer previsões certeiras sobre a corrida de domingo, o que fica claro é que vai ser uma corrida de grupo. No lugar privilegiado do grid, Márquez aposta em ter as Yamaha como rivais, além de Crutchlow e Dovizioso.

“A corrida vai ser muito longa e temos de saber entender as diferentes opções de pneus. Estamos lá no que diz respeito ao ritmo, tanto com o pneu duro quanto com o médio”, comentou. “Creio que Rossi estará forte, sobretudo quando os pneus desgastarem. Crutchlow também, porque ele cresce em casa, Viñales, e não me esqueceria de Dovi, que não faz barulho, mas está sempre lá”, garantiu.

 

Menos animado e preocupado com o consumo de pneus da Yamaha, Rossi foi menos otimista e avaliou que só pode brigar pelo pódio. Ainda assim, o italiano admitiu que tem o warm-up como última cartada.

 

“Acredito que hoje foi um pouco surpreendente, mas com o ritmo amanhã, no máximo, máximo, se tudo sair fantástico, nós podemos brigar pelo pódio, mas talvez pelo último lugar”, comentou. “Estamos preocupados com a segunda parte da corrida. Ainda temos o warm-up para tentar colocar as coisas no lugar”, disse. 

 

“Quero lutar pelo pódio, mas têm quatro ou cinco que são mais rápidos do que nós”, apontou.

 

Companheiro de Rossi na Yamaha, Viñales foi mais confiante, disse que estará na briga e apostou em uma corrida de grupo. 

 

“Creio que estarei lá. Consegui rodar em 2min01s e 2min02s baixos no TL4, que é parecido com o que tinham Márquez e Crutchlow. Acho que vou estar na frente, mas agora temos de trabalhar na segunda metade da corrida”, reconheceu. “Amanhã vai ser uma corrida de grupo no principio e, depois, o que tiver o melhor acerto vai ter a oportunidade de escapar e ver o que acontece”, previu.

 

Pertinho da ponta, Crutchlow também não se mostrou otimista em relação a suas chances de se tornar o primeiro britânico a vencer em Silverstone na classe rainha, mas exaltou o trabalho da LCR.

 

“Nada mal, mas tem dois caras que fizeram melhor do que eu. Dei o meu melhor, mas cometi dois pequenos erros e eles foram melhores”, reconheceu. “Nós fizemos um excelente trabalho e acho que podemos estar lá para brigar com eles e também com Viñales, mas superá-los será outra história. Eles são realmente muito rápidos”, salientou.

 

Quem não fez uma previsão animadora foi Lorenzo. Em seu primeiro ano na Ducati, o espanhol aposta em sofrimento nos dois lados dos boxes do time de Bolonha.

 

“Amanhã não será fácil nem para mim e nem para Dovizioso”, garantiu. “Será uma corrida difícil, pois o ritmo será alto, com muitos pilotos mostrando ótimo ritmo”, sublinhou.

 

O vice-líder do Mundial, porém, não foi tão pessimista quando o companheiro de Ducati, mas também ressaltou o ritmo forte dos rivais.

 

“Ainda não estou completamente feliz e espero que amanhã, no warm-up, possamos dar mais um passo adiante. Temos um bom ritmo, mas tem muitos pilotos velozes aqui, então veremos como vai ser na corrida”, comentou. “De qualquer maneira, estou satisfeito com o tempo da classificação, pois largar das duas primeiras filas era nosso objetivo e conseguimos isso. Amanhã tentaremos quer dar o máximo na corrida. Neste momento, é difícil entender o ritmo dos adversários, mas certamente Marc, Crutchlow e as duas Yamaha estão muito fortes”, concluiu.

 

A ameaça que vem dos céus

 

Instabilidade climática é praticamente sinônimo de Silverstone. Apesar de os pilotos da classe rainha terem aproveitado bastante tempo de pista seca ― apenas o TL3 teve asfalto úmido por conta da chuva que caiu à noite ―, nesta época do ano a possibilidade de chuva para uma região onde a temperatura varia entre 14 e 21°C é de 31%. 

 

Apesar das tradicionalmente instáveis condições de uma região de clima oceânico ― também conhecido por temperado marítimo ―, a previsão de amanhã é bastante boa. De acordo com os meteorologistas, a temperatura deve variar entre 12 e 23°C, com a chance de chuva de apenas 10%.

 

 

Lembrete: a programação do Mundial de Motovelocidade sofreu uma alteração neste fim de semana para evitar conflitos com o GP da Bélgica de F1. Assim, a Moto3 larga às 8h40, a Moto2 às 10h e a MotoGP às 11h30.

#GALERIA(7162)