Coluna Parabólica, por Rodrigo Mattar: O novo Chase deu certo

A Nascar está de parabéns. O Chase no formato “mata-mata” deu certo, embora ainda desagrade aqui e acolá. Para o próximo ano, a categoria terá novidades técnicas: carros com motores menos potentes, spoilers com menor altura, treinos limitados para evitar o desnível técnico entre os times mais ricos e os mais pobres e, além disso, a introdução de pneus de chuva para os circuitos mistos

No último fim de semana, a Nascar em sua divisão principal, a Sprint Cup, conheceu um novo campeão. Escolhido em 2001 como o sucessor de ninguém menos que Dale Earnhardt após a trágica morte deste nas 500 Milhas de Daytona, Kevin Harvick precisou sair das asas de Rick Hendrick, para o qual guiou em 462 corridas e finalmente, aos 38 anos, consagrou-se campeão de forma inédita. E num Chase que, no primeiro ano do formato “mata-mata”, deu muito certo.

Deu certo pelos motivos certos – e pelos errados também. Deixar Jimmie Johnson, Brad Keselowski, Jeff Gordon e Dale Earnhardt Júnior, que estavam entre os favoritos ao título, pode parecer injustiça aos olhos dos fãs. Mas bastou um vacilo de cada um destes quatro e danou-se. O hexacampeão do #48 e o filho de “The Intimidator” dançaram antes. Gordon e Keselowski, que inclusive saíram na porrada na etapa do Texas, também ficaram fora da festa, proporcionando a passagem de pelo menos duas zebras para a decisão.

Em condições normais, numa escala de fatores, Harvick era o grande favorito ao título, com Joey Logano um pouco mais abaixo. Denny Hamlin e Ryan Newman fariam o papel de zebras. O primeiro quase foi campeão uma vez, mas amarelou. Newman nunca teve uma oportunidade concreta e chegou à 36ª etapa sem ter ganho qualquer corrida. E aí é que morava o perigo para a própria Nascar.

Kevin Harvick e a SHR comemoram o título da temporada 2014 (Foto: Getty Images)

Com a regra do “quem chegar primeiro leva”, Newman tinha duas possibilidades para ser campeão: ganhar ou então terminar à frente de qualquer um de seus rivais, de segundo a quadragésimo. Já pensaram se isto acontece, o tiro no pé que seria? Afinal, a Nascar introduzira o Chase a partir de 2004 para evitar que se tornasse rotina um piloto feito Matt Kenseth — que não à toa ganhou o apelido de Senhor Consistência (Mr. Consistency) — ser campeão todos os anos na base da regularidade. Se o primeiro critério para passar ao Chase era vencer, e triunfar também era o mote para avançar até a decisão, por que dessa vez seria diferente?

Mas os deuses do automobilismo foram justos. E proporcionaram um espetáculo inesquecível, talvez a melhor decisão da história do Chase, ainda que não estivesse nenhum piloto ou carro da Hendrick presente — vá lá, o motor do Chevrolet SS de Kevin Harvick é preparado nas oficinas de Rick Hendrick, só que fisicamente nenhum dos grandes pilotos do time tinha condições de levar o título, como vimos Johnson fazer seis vezes e Gordon outras quatro.

Harvick fez uma corrida digna de campeão. E também contou com uma boa dose de sorte, quando Hamlin e seu chefe de equipe escorregaram na estratégia e a Penske fez jus à cor do Ford Fusion de Joey Logano, amarelando no momento mais decisivo, no último pit stop. O homem do macaco jacaré deu uma tremenda vacilada e as chances de título foram para o beleléu. 

E aí entrou Newman em ação como o outsider, a zebra, o perigo a ser evitado. Vale lembrar que ele passara à grande decisão em circunstâncias um tanto quanto polêmicas, pois para eliminar Jeff Gordon o piloto do carro #31 jogou o rival Kyle Larson para o muro em Phoenix. A Nascar não queria que casos semelhantes acontecessem na decisão e orientou os quatro postulantes ao título para que se comportassem como cavalheiros. Acredito que Newman tenha pensado em fazer igual ao que fizera no Arizona, mas voltou atrás em nome do esporte.

'Harvicking': campeão da Nascar fez muita festa pelo primeiro título da carreira (Foto: Getty Images)

Foi melhor assim: o “Rocket Man” foi um vice-campeão dos mais dignos. Mesmo sem ter vencido e muito menos sem ter sido brilhante, o ex-piloto da Stewart-Haas, que trocou de lugar com Harvick, no fim das contas ficou numa posição até melhor que o esperado. Já Harvick, este sim, foi um merecido e legítimo campeão pela temporada que fez, estrondando desde a vitória em sua segunda corrida pelo novo time em Phoenix, culminando com cinco triunfos ao longo do ano e o maior número de voltas lideradas em 2014. Aliás, somando o que ele fizera na Childress entre 2008 e 2013 como líder, não chegou perto do que ele andou na frente em 36 corridas.

A Nascar está de parabéns. O Chase no formato “mata-mata” deu certo, embora ainda desagrade aqui e acolá. Para o próximo ano, a categoria terá novidades técnicas: carros com motores menos potentes, spoilers com menor altura, treinos limitados para evitar o desnível técnico entre os times mais ricos e os mais pobres e, além disso, a introdução de pneus de chuva para os circuitos mistos, em que os carros da Sprint Cup – que nunca os utilizaram – serão equipados com limpador de para-brisa, desembaçador e luz de chuva por questão de segurança.

E 2015 tem tudo para ser tão bom quanto foi este ano. Poderemos ver a afirmação de Kyle Larson como um dos principais nomes da Sprint Cup, bem como a reestreia de Sam Hornish pela Richard Petty, a transferência de Carl Edwards para um quarto carro da Gibbs, a ascensão de Trevor Bayne ao posto de titular da Roush e, principalmente, a possível estreia de Chase Elliott, que completa 19 anos no fim deste mês, em uma temporada parcial de corridas pela Hendrick. Muitos apostavam que ele viria em 2016 como titular no lugar de Kasey Kahne – porém, este renovou com a equipe por mais três temporadas.

Será o filho de “Awesome” Bill Elliott o legítimo sucessor de Jeff Gordon, que aos 43 anos pode estar ensaiando uma despedida? 

Só o tempo dirá.

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