"Aceito no meio", Fraga ainda espera ficha cair depois de estrear com vitória e recorde na Stock Car

Mais jovem vencedor da história da Stock Car, Felipe Fraga já chegou na categoria quebrando recordes. Piloto falou em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO sobre o feito conquistado no último domingo (23) em Interlagos

“Falei: ‘só me entrega o carro que eu dou um jeito no final’”, contou ao GRANDE PRÊMIO o experiente piloto Rodrigo Sperafico, convidado de Felipe Fraga para a etapa de abertura da Stock Car. E o jovem de 18 anos, que nem carteira de motorista tem, não poderia entregar o #88 para o colega em condição melhor. O paranaense entrou na pista na manhã deste domingo (23) em primeiro e com 1s de vantagem para o segundo colocado. Dali em diante, foi controlar essa distância e garantir a vitória em Interlagos.

O resultado da primeira etapa de 2014 é o cartão de visitas de Fraga na principal categoria do país. Já se esperava que ele fizesse boas apresentações na Stock Car, ainda mais correndo por uma equipe respeitada como é a Vogel, mas não na primeira corrida da temporada. “Nem sonhava com isso, sinceramente”, confessou.

O experiente Sperafico teve, de fato, participação importante no trabalho feito no #88 ao longo do fim de semana. Os outros pilotos já comentavam, antes da corrida, que os convidados decidiriam a prova, e que aqueles que conheciam o carro teriam vantagem.

Rodrigo teve participação fundamental na classificação, quando garantiu um lugar na primeira fila. Posicionou Fraga, que considerava o fim de semana ganho já naquele momento, muito bem para a missão que o garoto teve no domingo. E recebeu de volta mais do que pediu: nem precisou dar um jeito no final, só manter o nível.

Sperafico e Fraga formaram dupla afinada em Interlagos (Foto: Rodrigo Berton | Grande Prêmio)

Porém não há como negar que Fraga mostrou enorme talento. Na primeira parte da corrida, disputada com piso molhado, ele se envolveu em intensas disputas de posição com Daniel Serra e Valdeno Brito. Sua postura nessas brigas rendeu elogios do seu chefe de equipe, Mauro Vogel. Este, por sua vez, contribuiu com o fator determinante para o triunfo: uma tática perfeita.

A Vogel chamou Fraga ao box para a troca de pilotos no final da 14ª volta. Ele havia acabado de ultrapassar Valdeno, que parou no mesmo momento. O pit-stop de 47s5 não só colocou Sperafico na pista à frente do #77 de Jeroen Bleekemolen, mas com boa vantagem também para o #0 de Pato Silva e dos demais adversários.

Ao GP, Mauro Vogel exaltou o recorde de Fraga sem deixar de destacar a participação de Sperafico e do trabalho do time. “É uma coisa difícil de acontecer, mas o Felipe é um garoto talentoso. Levou o carro na ponta e fez uma corrida perfeita. Já estava em primeiro quando entrou no box. Mas o Rodrigo também fez uma corrida perfeita. Pegou o carro e levou até o final”, falou.

Além disso, Vogel acrescentou que Fraga “respeitou os adversários quando foi ultrapassado, foi respeitado quando foi buscar a posição de volta. Isso é bom. É ser aceito no meio. É difícil acontecer na Stock”.

Sperafico contou que o relacionamento com o novato “foi muito fácil” desde que foi confirmada sua presença nessa corrida de duplas.

“É jovem e tem talento, já está provado. A gente trabalhou bem. O Fraga suportou bem a pressão em uma corrida difícil no molhado. E foi do jeito que a gente planejou. Ele teve uma boa parte do mérito. Aguentar uma corrida que teve largada com safety-car é tenso. A primeira corrida dele com Cacá Bueno do lado, Daniel Serra, Valdeno, não é fácil. Ele andou direitinho”, analisou.

Em entrevista ao GRANDE PRÊMIO no box da Vogel após a corrida, Fraga não escondeu a felicidade e a surpresa pelo resultado. Ele nem parecia saber como reagir – tanto que escorregou ao tentar subir no carro no final da prova para comemorar junto de Sperafico.

Fraga teve de mostrar destreza no piso molhado (Foto: Rodrigo Berton | Grande Prêmio)

GRANDE PRÊMIO: Quando conversamos antes, você disse que não pensava muito no fato de ser o mais jovem do grid – só na hora de dar entrevistas. Mas agora você não só é o mais jovem como também é o mais jovem a vencer uma corrida na Stock Car. Isso certamente deve fazer você pensar em alguma coisa.

Felipe Fraga: Ainda não caiu a ficha. Ontem, na tomada de tempos, tinha sido ótimo, já tinha ganhado meu fim de semana. E agora a equipe e o Rodrigo fizeram um excelente trabalho. Fomos os mais rápidos no pit-stop. O Vogel me deu um carro muito bom, estava andando na chuva mas parecia seco, firme o carro. Também consegui me adaptar bem, seguindo o Cacá e a linha dele. Então acho que foi muito bom, e agora é continuar focado para a próxima corrida.

GP: Chegar aqui, no meio dos caras da V8, e ganhar a primeira corrida. Esperava?

FF: De jeito nenhum. Nem sonhava com isso, sinceramente. Às vezes um segundo, um terceiro, tudo bem, às vezes dá alguma coisa. Corrida é corrida. Mas esse primeiro lugar foi surpresa mesmo, para mim e para todo mundo, ninguém esperava. Mas todo mundo viu que não foi sorte. Trabalhamos muito e tudo deu certo. Andei bem na chuva, o Rodrigo conseguiu andar bem na chuva, os mecânicos fizeram um pit-stop muito rápido, então acho que juntou todas as forças que a gente tinha para poder ganhar a corrida.

GP: Nessa corrida de duplas, você teve um convidado que tem mais experiência na Stock Car do que os outros convidados. Qual foi o papel que o Rodrigo Sperafico teve nessa vitória?

FF: Todo, né? Graças a Deus, consegui também andar bem. Não foi só ele que ganhou a corrida: entreguei o carro já em primeiro lugar. A equipe ajudou mais ainda para melhorar a vantagem para o segundo e ele foi só aumentando depois em relação aos outros. Sem dúvida, é a dupla que eu queria, ou ele ou o irmão dele, o Ricardo. Felizmente, eles aceitaram e ganhamos.

GP: O Mauro Vogel e o Rodrigo Sperafico disseram que você conseguiu o respeito de quem estava em volta, que não é fácil brigar com gente como o Cacá, o Serra e o Valdeno. Como que foram essas disputas de posição?

FF: Foram legais as disputas. O bom da Stock Car é que tem muito mais respeito do que na categoria que eu estava antes. Ninguém chega batendo de uma vez. O Valdeno eu acho que forçou um pouco comigo, mas eu consegui me livrar dele. Foi uma volta todinha batendo porta com ele. Foi uma ultrapassagem forçada também com o Serrinha, mas coisa de corrida.

GP: Como é a relação com o Cacá, seu tutor e também adversário?

FF: Ele tem me ajudado com muitas coisas, mas dentro da pista não tem nada a ver. Eu vou tratar ele como trato sempre todos os outros pilotos e, claro, com respeito. O que vou forçar com um, forçaria com o Cacá, com certeza. É isso: respeitar todos os pilotos, quem quer que seja.

GP: E o Thiago Camilo, sobre o recorde, brincou e disse que tem que ver, porque você ganhou a corrida de duplas, agora tem que ganhar sozinho. Quando vai ser?

FF: Acho que é muito cedo para pensar na próxima vitória. Ainda nem acredito nessa. Mas a gente mostrou que tem mais potencial para vencer outras corridas durante o ano. Então agora é se preparar e ir com tudo para a próxima corrida.

GP: Vencer essa corrida de estreia aumenta a pressão para as próximas?

FF: Acho que de jeito nenhum. Pressão, não, eu mesmo é que me cobro. Queria sair daqui com um resultado melhor, depois de fazer uma boa tomada de tempos. Mas não adianta eu ficar me cobrando tanto, tenho muito o que aprender com o carro ainda. Vamos com calma, passo por passo, tentar sempre trazer o carro limpinho para o box, sem batidas, e sempre pontuar. A Stock Car não é só ganhar corrida. Ano passado, o Ricardinho foi campeão e venceu só uma corrida. Então vencer nem sempre é o melhor, o melhor é ir com cabeça em todo o ano.

O #88, o #77 e o #29 protagonizaram bons duelos (Foto: Rodrigo Berton | Grande Prêmio)

(Foto: Rodrigo Berton | Grande Prêmio)

CACÁ BUENO, O MENTOR

Professor do novo garoto da Red Bull, Cacá Bueno disse que viveu um conflito de emoções ao ter de lidar com um resultado ruim seu e com a alegria por ver seu aluno vencer já na corrida de estreia. O pentacampeão tem certeza que não se tratou de um acaso e afirmou ao GP que Fraga vai continuar brigando por vitórias em 2014. “É um conflito de emoções. Acabar em sétimo é um pouquinho frustrante. Mas sei que ele está feliz da vida e eu estou feliz da vida por ele. A gente largou na ponta e já deu para ver que ele tinha um excelente carro. Rapidíssimo, mas cometendo alguns errinhos nas primeiras voltas. Coisa de garoto, ansioso. Estrear com vitória é fenomenal. Vai ser um grande adversário no ano inteiro, não só nessa corrida. Mas não vai ter mais essa moleza, já avisei!”

(Foto: Fernanda Freixosa | Vicar)

CAMILO, O ANTIGO RECORDISTA

Também foi com a equipe Vogel que em 2004, aos 20 anos, Thiago Camilo se tornou o mais jovem vencedor da Stock Car na mesma Interlagos. A marca perdurou até este domingo, com Fraga vencendo aos 18. O hoje piloto da RCM se disse feliz pela antiga equipe e também pelo novato. “Em primeiro lugar, eu estou feliz pelo Mauro, que me ensinou muito, e devo muito a ele por tudo o que sei hoje, principalmente na parte técnica. Segundo porque o Fraga tem muito talento. Se escutar o Vogel, vai ter muito sucesso, e tenho certeza que ele já está escutando, como já deu para ver”, declarou ao GP. Camilo ainda é o dono do recorde de precocidade para uma pole-position. O paulista cravou sua primeira pole aos 19 anos, também em 2004, no circuito de Tarumã.

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