Mesmo “0s3 ou 0s4” mais lento, Barrichello consegue ultrapassar Camilo duas vezes para ganhar Corrida do Milhão

O GRANDE PRÊMIO pediu a Rubens Barrichello e Thiago Camilo que recontassem passo a passo a batalha que decidiu o vencedor da Corrida do Milhão, e eles explicaram como o ex-F1 conseguiu se manter à frente mesmo estando alguns décimos mais lento

A chegada da Corrida do Milhão de 2014 vai ficar marcada na história da Stock Car. Nos dez minutos finais da prova disputada neste domingo (3), em Goiânia, Rubens Barrichello e Thiago Camilo protagonizaram um duelo intenso e emocionante pela vitória na corrida mais importante do calendário. E a batalha terminou com o primeiro triunfo do piloto mais experiente do Mundial de F1 na principal categoria do país.

Disparados na liderança, Barrichello e Camilo puderam disputar a primeira posição sem se preocupar com quem estava atrás. A distantes 10s, Átila Abreu e Galid Osman batalhavam pelo terceiro lugar, com o último levando a melhor.

Lá na frente, parecia inevitável que o #21 deixasse o #111 para trás e caminhasse para a terceira vitória na Corrida do Milhão — Camilo ganhou em 2011 e 2012 e ainda bateu na trave em 2013.

Pódio com Camilo, Barrichello, filho de Barrichello e Galid (Foto: Duda Bairros/Vicar)

Só que havia uma variável em jogo: o uso dos push-to-pass. Para explicar como a vida de Camilo se complicou, é preciso voltar à largada. Quarto no grid, ele não saiu tão bem e ainda acabou se envolvendo em um leve toque com Valdeno Brito, caindo para sétimo. Para se recuperar, precisou apertar o botão de ultrapassagem mais do que Barrichello, que pouco a pouco abria na liderança para Átila Abreu.

Correndo atrás do terreno perdido, Camilo passou Galid Osman, Valdeno Brito, Júlio Campos e Allam Khodair ainda na primeira parte da prova. Brito e Campos ficaram para trás em uma manobra dupla na longa reta dos boxes, um no começo e outro no final. Depois do primeiro pit, para a troca obrigatória de um pneu, saiu colado em Átila e não demorou para assumir o segundo lugar.

Teve início ali a perseguição a Barrichello, que foi ficar muito mais intensa após a segunda parada de Camilo, no fim da 23ª volta. Não voltou tão perto, mas era mais rápido e tratou de descontar a vantagem de Barrichello. E aí a briga pegou fogo. Perguntados pelo GRANDE PRÊMIO, os adversários recontaram como se deu a disputa de dentro de seus cockpits.

“Rendimento por rendimento, acho que ele tinha de 0s3 a 0s4 por volta”, admitiu o ex-F1. “A única coisa que me fortaleceu naquele momento foi que o Maurício [Ferreira, chefe da Full Time] me falou no rádio que eu provavelmente tinha um push a mais que ele.”

Quando chegou de vez, Camilo passou de passagem. Usando o botão de ultrapassagem, colocou de lado e, antes mesmo da tangência da curva 1, já tinha o carro à frente. Entrou em cena, então, o fator que o piloto da RCM apontou como fundamental: o intervalo entre os acionamentos do push-to-pass — não é possível aproveitá-lo em voltas consecutivas.

Camilo concordou com Barrichello e disse que provavelmente estava 0s3 ou 0s4 mais veloz, mas era preciso abrir mais de 0s7 após superá-lo para aguentar e enfim abrir. Logo, não aconteceu o que normalmente se vê após ultrapassagens: quem está mais rápido não foi capaz de disparar. “Não consegui vantagem suficiente em uma volta para que ele não me ultrapassasse de novo”, lamentou.

No giro seguinte, Barrichello fez valer a potência extra proporcionada pelo push-to-pass na mais longa reta dos autódromos brasileiros e retomou a dianteira. “Eu não estava tão bem na entrada do miolo, com algumas rodas que bloqueavam, mas estava forte na freada da curva 1”, falou.

Barrichello e Camilo tiveram duelo espetacular (Foto: Duda Bairros/Vicar)

Então Camilo foi atrás do que possivelmente lhe daria a vitória: “A gente corre pensando nessas possibilidades. 'Quando eu tiver a possibilidade do push, não posso estar nada distante dele para conseguir abrir e ele me ultrapassar novamente'. Nessa volta, consegui fazer isso. Entrei colado e passei logo no começo da reta.”

De volta à reta dos boxes, Camilo tinha a vantagem que era suficiente para se defender do derradeiro push-to-pass de Barrichello. Entrou em cena outro elemento: um pneu furado no carro de Valdeno Brito danificou a carenagem do #77 e jogou muita sujeira na pista.

“Ele usou o push e consegui me defender por dentro”, narrou Camilo. “Acabei pegando a sujeira do pneu do Valdeno, passei um pouquinho e ele conseguiu me dar o xis. Ali, se eu consigo ficar na frente, ele não teria push na outra volta e eu abriria distância para ele”, apontou.

“Realmente tive a chance de vitória quando ele esparramou um pouquinho e eu fui por dentro. Se eu não passo ali, acho que ia acontecer exatamente isso, ele ia passar e ir embora”, afirmou Barrichello.

Dali em diante, houve apenas um ataque mais intenso, na reta de chegada. Camilo bem que tentou vencer uma Corrida do Milhão na reta de chegada pela segunda vez, mas essa não era a vez dele. Barrichello manteve a ponta e cruzou a bandeirada 0s186 à frente para conquistar uma merecida primeira vitória na Stock Car.

A outra disputa de Barrichello 

Largada da Corrida do Milhão em Goiânia (Foto: Duda Bairros/Vicar)

Antes da disputa com Camilo, Barrichello teve de dividir curva com outro piloto: Átila Abreu, logo na largada. Partindo da pole-position, o piloto do #111 defendeu a linha de dentro e deixou o lado externo da pista para o segundo colocado do grid. Átila não conseguiu passar, mas rasgou elogios à postura do adversário.

“É um piloto muito honesto. Vende caro a posição, mas, na largada, fui tentar por fora a posição e ele me deixou o espaço. Poderia ter me jogado pro meio do mato, mas manteve o espaço. Gostei muito da postura dele. Comentei isso com ele pessoalmente, porque são poucos que tem essa postura de disputar roda com roda, mas de uma maneira leal”, descreveu em entrevista ao GRANDE PRÊMIO.

“Eu acho que é um piloto de extremo talento, que admiro muito. Ninguém chega na F1 e fica 19 anos se não tiver muito talento, e veio para abrilhantar ainda mais a Stock Car. Sabia que a vitória dele estava para chegar”, exaltou.

Átila, que sofreu com problemas nos freios do meio para o final da Corrida do Milhão, cruzou a linha de chegada em quarto e assumiu a liderança do campeonato.

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