Pilotos se revoltam e veem “boicote” e “regra infeliz” para Corrida de Duplas. Vicar busca “evitar vantagem competitiva”

A polêmica regra que veta a participação de pilotos da Stock Car como convidados da Corrida de Duplas deste ano foi duramente criticada por nomes que certamente seriam chamados pelos titulares, casos de Rodrigo Sperafico, vencedor da disputa em 2014 com Felipe Fraga, e Vitor Meira. Os dois foram ouvidos pelo GRANDE PRÊMIO, assim como Rodrigo Mathias, diretor da Vicar, que defendeu a medida, ainda que tenha dúvidas sobre sua eficácia

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Depois de um ano fora do calendário, a Corrida de Duplas foi confirmada pela Vicar, empresa que promove e organiza a Stock Car, como prova de abertura da temporada 2018 no dia 10 de março, um sábado. Entre 2014 e 2016, quando a disputa foi realizada, muitos pilotos com notória experiência na principal categoria do automobilismo brasileiro, mas que estavam fora do grid, tiveram uma grande chance de aparecer novamente na maior vitrine do esporte a motor nacional.  

 
No entanto, a Stock Car lançou mão de uma regra exclusiva para a Corrida de Duplas, de modo a evitar o que a Vicar considera ser uma vantagem competitiva trazida por um piloto que, mesmo fora do grid, pode desequilibrar e influenciar diretamente no resultado. Pilotos que fizeram uma temporada completa na Stock Car ou Brasileiro de Turismo após 2010 ou que fizeram ao menos seis corridas da Stock Car ou do BR de Turismo entre 2011 e 2017, estão inelegíveis. Mas os pilotos oficiais abaixo do top-15 podem convidar pilotos do Brasileiro de Turismo
 
E essa restrição é a primeira grande polêmica do ano no automobilismo brasileiro. Pilotos com potencial de participação como convidados na Corrida de Duplas, como Rodrigo Sperafico — vencedor em 2014 ao lado de Felipe Fraga — e Vitor Meira, se mostraram revoltados com a medida. O GRANDE PRÊMIO ouviu Sperafico e Meira e também o diretor da Vicar, Rodrigo Mathias. O dirigente justificou a inclusão da restrição no regulamento como forma de tornar a disputa mais igual, mas o próprio Mathias colocou em dúvida a sua eficácia nesse sentido.
A Stock Car quer evitar que duplas como Antonio Pizzonia e Marcos Gomes se repitam em 2018 (Foto: Duda Bairros/RF1)
 
O que a regra diz
 
No conjunto de regras ao qual o GRANDE PRÊMIO teve acesso, o artigo 2 determina os pilotos convidados elegíveis à formação da dupla:
 
A. Não estão elegíveis pilotos que participaram de uma temporada completa de Stock Car ou Campeonato Brasileiro de Turismo após 2010;
 
B. Não estão elegíveis pilotos que participaram de mais que 6 (seis) corridas da Stock Car ou Campeonato Brasileiro de Turismo entre os anos 2011 e 2017. Considera-se participação pilotos que correram uma prova completa ou como convidado;
 
C. Excepcionalmente os pilotos que terminaram o Campeonato Brasileiro de Stock Car 2017 classificados após a 15a posição poderão convidar pilotos do Campeonato Brasileiro de Turismo que participaram de temporadas completas entre 2011 e 2017;
 
D. Preferencialmente o piloto deve ter participado de campeonatos de relevância internacional nos últimos 5 anos.
 
. Deutsche Tourenwagen Masters (DTM)
. F1
. World Touring Car Championship (WTCC)
. World Endurance Championship (WEC)
. IndyCar Series
. United SportCars Championship (Grand-Am e ALMS)
. National Association for Stock Car Auto Racing (Sprint Cup, Nationwide, Camping 
 World Truck) 
. British Touring Car Championship (BTCC)
. Blancpain Sprint Series (GT)
. Japan Super GT Series (GT500 e GT300)
. Japanese Championship Super Formula (Nippon)
. V8 Supercars Series
. Formula E
. World Rallycross Championship (WRC)
. Grand Prix Motorcycle Racing (MotoGP, Moto2 e Moto3)
. Super TC2000 (Argentina)
. Turismo Carretera (Argentina)
 
E. Equipes que tenham interesse em "Pilotos Convidados", que não se enquadram nas diretrizes apresentadas acima, deverão consultar a Vicar. A mesma poderá aprovar caso entenda que será benéfico para a categoria.
 
 
Pilotos se queixam e falam em boicote
 
Aos 38 anos, Rodrigo Sperafico tem três vitórias na Stock Car, sendo duas delas conquistadas em 2007, e a última foi em 2014, quando conquistou a primeira Corrida de Duplas da categoria, ao lado do então novato Felipe Fraga. Sua última temporada completa foi em 2013, quando correu pela Mico’s. Desde então, as presenças do paranaense de Toledo no grid da Stock Car se resumem às Corridas de Duplas. Mas, segundo o regulamento, seu nome está vetado.
 
E isso gerou a revolta de Sperafico. “Eles sempre fazem alguma coisa pra boicotar quem correu por aqui. O que deixou a maioria dos pilotos triste é que eles barraram desde 2011. Bastante gente fez carreira internacional, veio aqui, entrou na Stock, ajudou a levantar o nome da Stock, deu Ibope… Eu, Vitor Meira, [Luciano] Burti, Ricardo Sperafico, Giuliano Losacco… Um monte de gente que ajudou a levantar o nome da Stock, e aí eles fazem um documento meio que proibindo. Só porque em 2014 eu acabei ganhando a corrida, em 2016 o Antonio Pizzonia, que não tava correndo, acabou ganhando”, bradou.
Rodrigo Sperafico venceu a Corrida de Duplas ao lado de Fraga em 2014. Mas não vai poder correr em 2018 (Foto: Duda Bairros//Vicar)
“Eles fazem isso por medo de que a gente, por ter experiência, sobressaia em relação aos estrangeiros. É legal o que a Vicar faz, trazer estrangeiros para ajudar a divulgar e tal. Mas são 32 pilotos, não tem mídia para divulgar todo mundo. Já tem os fixos que são astros, como Nelsinho Piquet, Rubens Barrichello. Não tão dando nem chance para o pessoal do Brasileiro de Turismo, que é a Stock Car Light. Eles tão boicotando a própria categoria que querem criar. Não dão oportunidade para quem está chegando. Vai meio que contra”, disparou o piloto.
 
O gêmeo Rodrigo defende que há espaço para todos no grid da Corrida de Duplas: desde nomes consagrados internacionalmente até quem fez carreira e ainda pode voltar a fazer participações esporádicas na Stock Car. “A ideia é legal, a corrida é show. Mas acho que vai contra o automobilismo brasileiro e aquilo que a gente sempre fala, de incentivar o Brasil, os brasileiros. Traz os gringos, beleza. Mas aí eles vão embora e fica a gente aqui. Quem que vai correr na Stock Car? A nossa geração, a que tem experiência, e os que tão vindo ainda. Tem de dar oportunidade para todo mundo, tem que ser direitos iguais. Não pode tirar o direito de alguém correr e falar para as equipes ‘não pode fazer isso, isso e aquilo’”.
 
“Várias equipes chamaram a gente e brigaram com a Vicar. Exigiram [os pilotos], mas eles [Vicar] foram irredutíveis. Um pouco com medo de a gente [pilotos brasileiros] sobressair na comparação com quem vem de fora, o que não justifica. Acho que tem que colocar tanto os novatos quanto os experientes com os gringos para mostrar o potencial de todo mundo. Acho que eles estão meio receosos. Mas tem espaço para fazer a mídia. A corrida é um show e espaço tem pra todo mundo”, completou.
 
Hoje com 40 anos, Vitor Meira também correu como convidado nas três Corridas de Duplas realizadas pela Stock Car. Em 2014, foi parceiro de Vitor Genz no carro #46 da Boettger. E nos anos seguintes fez dupla com Max Wilson na RC/Eurofarma. Campeão do Brasileiro de Marcas em 2015, o brasiliense fez sua última temporada completa na Stock Car em 2012, pela ProGP. Desde então, suas presenças no grid da categoria se resumem à Corrida de Duplas.
Vitor Meira fez par nos dois últimos anos com Max Wilson. Por regulamento, não vai poder reeditar a dupla (Foto: Vanderley Soares)
Meira contou ao GP que recebeu convite de duas equipes para disputar a prova, mas a restrição imposta pelo regulamento foi um balde de água gelada. "Achei muito infeliz o regulamento para a Corrida de Duplas. Talvez a intenção seja correta, mas o conteúdo e a falta de maleabilidade sobre o que é vantagem competitiva indevida e o que não é aconteceu novamente. Pra variar, o que se escreve por pessoas vira lei, sem interpretação do objetivo dela própria”.
 
“Por exemplo, um grande merecedor de estar na corrida é o [Augusto] Farfus, piloto talentoso em plena atividade em carros turismo. Já eu, fora da Stock há cinco anos e completamente fora das pistas há dois, de acordo com o regulamento, não posso correr…Mesmo tendo convite oficial de duas equipes. Onde está a vantagem e a desvantagem neste caso? No regulamento, e necessário retroagir tanto assim? São perguntas que fiz e não tive resposta…Infelizmente estarei fora da prova, o regulamento não me permite correr. É uma pena…", lamentou Vitor.
 
 
Chefão da Stock Car diz que regra foi feita em conjunto com as equipes 
 
Rodrigo Mathias começa seu segundo ano à frente da Stock Car. Na temporada 2017, o paulista empreendeu o começo de uma verdadeira revolução na categoria e tornou o esporte muito mais ativo nas redes sociais, por exemplo. O principal objetivo, desde o início da sua gestão, é o de aproximar a Stock Car do fã, e nesse sentido uma das grandes novidades foi a adoção do Hero Push, inspirado no Fanboost da Fórmula E.
 
Dentro das pistas, é inegável que a Stock Car ganha cada vez mais não apenas em retorno de mídia, mas também em termos de performance e qualidade técnica. A chegada de Nelsinho Piquet, o fortalecimento das equipes e a chegada de patrocinadores que investem com força na categoria, como a Hero, evidencia o novo momento.
 
Contudo, Mathias encara a insatisfação de pilotos impedidos de disputar a Corrida de Duplas como convidados. Ao GRANDE PRÊMIO, o chefão da Stock Car e diretor da Vicar entende que a regra visa equilibrar o grid e dar condições mais iguais aos competidores, citando aí as vitórias de Rodrigo Sperafico com Fraga em 2014 e de Antonio Pizzonia como convidado de Marcos Gomes dois anos depois. Mas o dirigente, ao longo da conversa, não tem certeza de que a restrição é a forma mais eficaz de buscar o equilíbrio almejado.
Rodrigo Mathias disse que o objetivo da regra é proporcionar maior equilíbrio entre os convidados (Foto: Duda Bairros/Vicar)
“A decisão da volta para a Corrida de Duplas e a construção do seu regulamento foi feito em conjunto com a Vicar e a Anesc (Associação das equipes da Stock Car). A Anesc contribuiu nessa construção e, diante do histórico das provas de duplas, foi levantada a diferença de performance e uma potencial vantagem que teriam pilotos que já correram com quem conhece a categoria ou quem fez temporadas inteiras. Porque não tem só a questão da adaptação ao carro, mas também da corrida em si, de como um carro se comporta na corrida, de como um piloto se posiciona… Vamos pegar, por exemplo, alguém que correu de fórmula a vida inteira e vai correr pela primeira vez de turismo. E esse piloto tem uma ótica completamente diferente de posicionamento, de performance, de corrida”, analisou o paulista.
 
“O entendimento comum entre equipes e a Vicar é que, baseado no histórico de equipes campeãs da Corrida de Duplas, pilotos que correram [como convidados] poderiam levar certa vantagem. Se você ver que o Pizzonia fez Corrida de Duplas com o Marquinhos, o Fraga, que fez Corrida de Duplas com o Rodrigo Sperafico, então são casos de pilotos que já estavam na categoria ou tinham participação recente na categoria, ou que estavam na base, caso do Fraga, que se destacaram frente à performance outros convidados, naturalmente pelo domínio do carro. Em cima disso, a intenção do regulamento foi fazê-lo de uma forma mais abrangente possível em termos de evitar que pilotos que já estavam na categoria ou que correram há pouco tempo de se destacarem perante os outros convidados, de terem essa vantagem competitiva. Se você ver no regulamento, há uma pontuação muito maior que nas outras Corridas de Duplas. A última, por exemplo, era praticamente simbólica — seis pontos para o vencedor”, ponderou.
 
Mathias, entretanto, entende que tal restrição, como vai ser imposta pela Stock Car na Corrida de Duplas, talvez não tenha sido a melhor decisão para tornar o grid mais equilibrado entre pilotos oficiais e convidados. “Naturalmente, tem uma curva de aprendizado. A gente está avaliando o regulamento a ser aplicado para esse ano, ter um entendimento se é o mais adequado ou não. Tenho dúvidas se, no cenário atual da categoria, olhando especificamente para 2018, teríamos alguém [dentre os convidados] com uma vantagem tão grande na categoria por já ter corrido na Stock Car”. 
 
“Se você pegar nomes como os Sperafico e o Vitor Meira, que já não correm na categoria há um tempo significativo, então tenho dúvidas se eles teriam uma performance de destaque frente a outros pilotos de alto nível que estão sendo prospectados e confirmados. Mas tudo isso foi construído em conjunto com as equipes, e esse foi o principal ponto”, afirmou.
 

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Por fim, Mathias lembrou que as restrições aos pilotos oriundos da Stock Car como convidados dos oficiais na Corrida do Milhão não é totalmente inflexível e também passa pelo crivo das equipes por meio da Anesc. Mas a decisão final fica mesmo com a Vicar.

 
“Existe, no regulamento, uma cláusula onde a organização pode, caso haja algum pedido formal de uma equipe, fazer uma avaliação específica daquela solicitação, para ver se há um impacto muito relevante em termos de performance ou não, ou se isso criaria alguma vantagem. Já tivemos algumas solicitações aprovadas e outras rejeitadas. Essa avaliação envolve não só a Vicar, como promotora, mas também a Anesc. A ideia é fazer isso de uma forma mais neutra para não ter uma tendência de a Anesc apoiar uma ou outra equipe em específico em termos de performance”, encerrou.
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