24h de Le Mans marcam adeus da BMW ao WEC. Ford também se despede, mas com sensação de até breve

De forma surpreendente, a BMW anunciou recentemente a saída do Mundial de Endurance após o fim da supertemporada 2018/19, priorizando a Fórmula E e a nova fase do DTM. A Ford já tinha nos seus planos se retirar do WEC após as 24 Horas de Le Mans. Entretanto, o novo regulamento dos Hypercars, previsto para 2020/21, pode fazer a montadora norte-americana reconsiderar seu programa

A temporada 2018/19 do Campeonato Mundial de Endurance, o WEC, termina nas 24 Horas de Le Mans do próximo fim de semana. E com o encerramento da ‘Super Season’, vão embora também duas montadoras. 
 
Em meio à enorme expectativa pela decisão do primeiro certame bienal da história para provas de longa duração, BMW e Ford deixam o Automóvel Clube do Oeste (ACO) e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), parceiras na organização e promoção da categoria, sem pai e nem mãe, como diz o ditado.
 
E logo numa temporada em que a classe LMGTE-PRO alcançou um nível de excelência nunca antes visto. Com cinco marcas, mais as pioneiras Porsche, Ferrari e Aston Martin, a divisão do WEC alinhou dez carros por etapa — Le Mans, claro, é uma exceção por ser uma competição aberta a todos os carros enquadrados no seu regulamento técnico — que é o mesmo do Mundial.
 
Isto fará com que o campeonato do próximo ano seja reduzido em 40% de seu plantel na principal categoria de Grã-Turismo do Mundial de Endurance. Não chega a ser uma novidade: antes da estreia da Ford e, posteriormente, da BMW, a divisão tinha exatamente três montadoras. O jeito é torcer para o tempo passar rápido: a Brabham, que anunciou sua entrada no WEC com o modelo BT62, só pretende estrear em 2021.
O vitorioso Ford GT se despede das 24 Horas de Le Mans neste fim de semana (Foto: Ford Performance)

Pelo alarde feito, por ter lançado o carro antes da versão de rua, a saída da BMW surpreende muito mais que a decisão da Ford em encerrar seu programa. Os alemães apresentaram o M8 GTE por ocasião das 24 Horas de Daytona, em janeiro do ano passado — e a estreia do modelo no WEC só aconteceu quatro meses depois, no circuito belga de Spa-Francorchamps.

 
Com o passar dos meses e o fim da temporada bienal se aproximando, começaram a se ouvir, aqui e ali, após as 1000 Milhas de Sebring, rumores sobre uma possível saída dos bávaros da competição. E após a segunda passagem por Spa no calendário, veio o anúncio que pôs um ponto final na efêmera participação da BMW no campeonato, em que os melhores resultados foram um segundo lugar, em duas corridas — as 6h de Fuji e as 1000 Milhas de Sebring.
 
"Continuar com o envolvimento do WEC nos próximos anos não se encaixa no nosso rumo", afirmou Jens Marquardt, diretor da BMW Motorsport. "A presença global da BMW Motorsport é garantida pelas corridas de clientes e pelo DTM na Ásia e Europa, bem como na série IMSA da América do Norte, mesmo sem competir num campeonato do mundo." 
 
O dirigente não mencionou a Fórmula E na declaração sobre as demais categorias nas quais os germânicos seguirão envolvidos, mas a importância deste campeonato vai além de qualquer outra questão de automobilismo para a marca.
 
"Para nós, é uma plataforma importante para demonstrar nossos conhecimentos nos principais campos de inovação da indústria automobilística. O que é importante para nós é que a relação custo-benefício na Fórmula E permanece positiva, mesmo com novos concorrentes se juntando constantemente."
 
Voltando ao M8 GTE, o carro continuará na ativa até o fim de 2019 e também no próximo ano, porque já que está claro que a IMSA é importante para a montadora por questões de mercado. 
A BMW também deixa o Mundial de Endurance de forma oficial neste fim de semana (Foto: BMW Motorsport)

"A série IMSA desempenha um papel central para nós na América do Norte e está se desenvolvendo bem", disse Marquardt. "Os EUA são o mercado mais importante para os carros BMW M, então é muito apropriado construir uma ponte direta para nossos modelos de produção, como o BMW M8 GTE."

 
Responsável pela equipe de fábrica — a MTEK — Ernst Knoors ficou desapontado e, ao mesmo tempo, sem rumo. Com uma estrutura preparada para atender à montadora, ficou sem condições de prosseguir para a temporada 2019/20 pois, com o anúncio da retirada acontecendo há menos de um mês – e o próximo campeonato tendo início em setembro, sem contar o Prólogo marcado para julho em Barcelona, ele não terá condições de regressar ao WEC para assistir qualquer outro esquema.
 
"Existem até opções para prosseguir no WEC, de forma independente", contou Ernst. "Mas quando a gente olha para o calendário, a decisão da BMW foi extremamente tardia para nós. Tentar montar uma campanha para 2019/20 é quase impossível — não do ponto de vista técnico, mas financeiro e de suporte a clientes."
A BMW deixa o WEC para priorizar a Fórmula E e o DTM (Foto: BMW Motorsport)

"Eu diria que é uma grande decepção, porque não foi apenas uma temporada no WEC e também o ano de preparação do carro", comentou o chefe de equipe. "Acho que é uma oportunidade perdida, mas é o dinheiro da BMW, é o orçamento da BMW e eles precisam de um retorno. No final, temos que respeitar isso", disse.

 
Knoors deu a entender que a decisão não foi por falta de resultados.
 
"A mensagem que recebemos (da BMW) é que eles estavam satisfeitos com a nossa operação de pista. Eles sabiam também que o carro é o mais complicado de se trabalhar. Do ponto de vista do design, foram feitas algumas escolhas que o tornaram bem difícil no acerto. Sempre reconheceram isso e sempre conseguimos o melhor que pudemos. Não creio que as performances tenham sido um fator para o fim do programa", afirma.
 
No caso da Ford, os rumos do projeto GT EcoBoost já estavam tomados antes mesmo do carro estrear. Os ianques sempre deixaram claro que o programa teria duração determinada e depois disso, veriam o que fazer com relação ao futuro da marca no automobilismo internacional.
 
"Nosso programa sempre foi de quatro anos", afiançou Mark Rushbrook, diretor global da Ford Performance Motorsports. "Mas pretendemos encontrar a melhor maneira de manter os carros na pista no futuro, com algum nível de envolvimento de nossa parte", explica.
 
"Os carros têm que correr. Eles estão destinados a isso, é o nosso objetivo e estamos tentando otimizar onde e quando eles devem estar na pista."
A Ford sai de cena do WEC. Mas pode voltar em breve (Foto: Ford Performance)
Com seis chassis à disposição — sendo que cinco deles estarão na pista nesta edição das 24 Horas de Le Mans, a tarefa da Ford não seria das mais fáceis. Mas novidades de última hora podem mudar o quadro.
 
Se nos EUA, a Ganassi não tem certeza se continuará com o programa IMSA, mesmo que em caráter semi-oficial. A Multimatic, que contribuiu para a construção e desenvolvimento da versão de competição do GT EcoBoost, confirma – a poucos dias da divulgação da lista oficial de inscritos para a temporada 2019/20 do Mundial de Endurance – que há esperanças de salvar a presença dos GT EcoBoost em diferentes esquemas.
 
“Temos possibilidades muito boas de ter carros LMGTE-PRO com financiamento privado ou de LMGTE-AM”, confirmou Larry Holt, chefe de operações da Multimatic.
 
“Essas três partes interessadas em manter o Ford GT EcoBoost na pista pelo menos pela próxima temporada estão de olho no regulamento e numa mudança para a futura classe superior do WEC”, disse.
 
Dois dos possíveis clientes estavam de olho na proposta GTE Plus, que foi colocada na mesa como uma opção de substituição aos LMP1 em lugar dos Hypercars. Mas essa proposta já está descartada.
 
E dentre os possíveis interessados, não estará Ben Keating: o entusiasta texano que alinha de forma inédita um Ford na classe LMGTE-AM, não reúne condições para disputar uma temporada completa do Mundial de Endurance.
 
"É muito caro. Consumiria meu orçamento para 2020 e mais algum para depois", comentou o piloto e dono de equipe no IMSA, onde alinha uma Mercedes-AMG GT3. "Poderia ter trabalhado com patrocinadores para montar um programa, mas não consegui fechar um pacote até 21 de maio. Por isso não fiz uma inscrição para a próxima temporada. Vou analisar o IMSA, o ELMS ou onde eu mais possa competir com esse carro no ano que vem. Gostaria que a Ford me ajudasse nisso."
 
O envolvimento da Ford com o WEC pode não ter chegado ao fim: a definição sobre o regulamento Hypercar abre a possibilidade da montadora estadunidense se dedicar a um programa naquela que deve substituir a principal categoria do Mundial de Endurance, que hoje é a LMP1. Outra opção seria o que nos EUA é chamada de "DPi 2.0", a segunda versão dos protótipos da categoria mais destacada da IMSA.
 
Houve uma reunião no último dia 16 de maio para definir as questões pontuais acerca de um novo regulamento – que deve ser sacramentado na coletiva de imprensa do Automóvel Clube do Oeste marcada para o próximo dia 14, véspera das 24 Horas de Le Mans.
 
Afinal, os interessados têm que ter uma satisfação do ACO e da FIA quanto às regras, já que o desenvolvimento de novos carros terá que ser iniciado de forma imediata, atendendo ao início da competição no segundo semestre de 2020, para a outra temporada bienal do Mundial de Endurance.
 
"Estamos muito interessados no que acontece a respeito desse tópico e certamente haverá um impacto sofre o que faremos no futuro. O que posso dizer é que há muitos interesses em jogo", explica Rushbrook.
 
Sobre o conceito "DPi 2.0", após as reuniões feitas em Mid-Ohio no mês passado, o dirigente explicou que podem haver outras saídas para que os protótipos da IMSA atendam à necessidade de expansão para o uso de motores elétricos, tornando-os híbridos como já é o Toyota TS050 e como já o foram os projetos de Audi e Porsche no FIA WEC.
O projeto Ford GT sai de cena com quatro carros na LMGTE-Pro em Le Mans (Foto: Ford Performance)
"Estamos procurando por opções mais relevantes em termos de material e de potência para implementar o projeto DPi 2.0", comentou. "Diante do que está acontecendo com o Mundial de Endurance e a IMSA, poderemos tomar nossas decisões futuras."
 
Enquanto a BMW se despede sem muita honra do WEC no próximo fim de semana, a Ford sabe que a ocasião é especial. Vencedora no retorno da marca e na estreia em La Sarthe do GT EcoBoost em 2016, com a trinca Joey Hand/Dirk Müller/Sébastien Bourdais, afora o segundo lugar obtido por Andy Priaulx/Harry Tincknell/Pipo Derani na edição seguinte, os quatro carros têm decorações especiais alusivas à rica história da marca do oval azul de Detroit.
 
O carro #66 terá visual semelhante ao Ford GT40 #2 com que Chris Amon e Bruce McLaren venceram pela primeira vez para a marca em La Sarthe, enquanto o #67 recordará o triunfo de A.J. Foyt/Dan Gurney.
 
No carro #69, uma representação do icônico visual azul-claro e laranja da petroleira Gulf, então apoiadora da lendária equipe John Wyer Automotive, ganhadora na edição de 1969 com Jacky Ickx e Jackie Oliver. Já o #68 terá exatamente – sem tirar, nem pôr – a mesma programação visual da prova de 2016.

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