Coluna Pisando Fundo, por Renan do Couto: Vida inteligente fora da F1

A alegria de Senna com sua primeira vitória desde 2008 e o primeiro pódio desde 2009, bem como os êxitos de outros pilotos, é a prova de que ficar sem lugar na F1 não é o fim dos tempos, não é motivo para pânico. Existe vida inteligente fora da F1. Basta abrir os olhos para ela.

Allan McNish, Antonio Pizzonia e Bruno Senna: esses são os três pilotos que passaram pela F1 que venceram nas 6 Horas de Silverstone, etapa de abertura da segunda temporada do Mundial de Endurance. McNish está há tempos nessa vida, mas os brasileiros, assim como Giancarlo Fisichella, campeão no ano passado com a AF Corse, Nick Heidfeld, Sébastien Buemi, Anthony Davidson, Alexander Wurz e Kamui Kobayashi, nem tanto. Chegaram há pouco e vão mostrando uma coisa: existe vida inteligente além da F1.

Todos temos criticado e reclamado demais da enorme quantidade de pilotos pagantes na F1, cada vez menos sustentável economicamente. Não à toa, um estudo indicou recentemente que, tirando as grandes equipes, o resto corre o risco de falir a qualquer momento, já que ainda não conseguem fechar a conta para os próximos anos. Reclamamos que vemos pilotos que não merecem estar no grid, dizemos que eles estão lá só por dinheiro, mesmo que alguns demonstrem ter talento. E pilotos com talento, como Mito Kobayashi, acabaram migrando para o mundo das corridas de longa duração, justamente onde os astros não são os pilotos, mas os carros.

Senna ficou pouco contente com a vitória em Silverstone (Foto: Aston Martin)

A lista de inscritos para a etapa de abertura da temporada do WEC tinha vários pilotos que passaram pela F1 em algum momento da carreira, alguns listados acima. Não são todos que cabem na análise que vou fazer. Os que cabem são Senna, Kobayashi e Buemi, principalmente.

Esses três são pilotos relativamente jovens, que estrearam na F1 há quatro anos ou menos e não conseguiram se firmar como titulares. Buemi nem mostrou tanto talento, mas fazia parte do maior programa de jovens pilotos do mundo, o da Red Bull. Kobayashi mostrou muito talento, mas não conseguiu transformar isso em resultados quando poderia tê-lo feito. Senna mostrou certo talento e contou com a ajuda de abastados patrocinadores, mas isso não foi o suficiente para mantê-lo na F1 por muito tempo.

Buemi, Kobayashi e Senna se mudaram para o endurance para trabalhar junto de montadoras, que também se afastaram da F1, por razões econômicas e técnicas (escrevo isso num panorama geral, no qual se enquadra a Toyota, não me referindo à Aston Martin e Ferrari, especificamente). Na F1, não é mais possível desenvolver novas tecnologias que justifiquem um investimento tão pesado – o único retorno que se tem é de marketing. No endurance, a flexibilidade dos regulamentos abre essa porta para as grandes fabricantes de automóveis do planeta.

No WEC, os pilotos têm a oportunidade de correr para essas montadoras sem se preocupar em levantar montanhas de dinheiro. Muitos correm recebendo salários, que não chegam perto dos salários da F1, mas que certamente estão em um bom nível. Aqui se enquadram os ex-F1 mais velhos, como McNish, Fisichella e, possivelmente, Mark Webber, a partir do ano que vem, que querem continuar competindo em alto nível e encontram essa oportunidade no endurance.

Além disso, no Mundial de Endurance, esses pilotos que são chutados da F1 têm a chance de brigar por vitórias. Senna venceu em sua estreia, assim como Pizzonia. Kobayashi foi ao pódio com a Ferrari, e Buemi, com a Toyota. McNish ganhou mais uma vez – nos últimos anos, com a Audi, ele ficou bem familiarizado com o degrau mais alto do pódio. E ainda que a glória e o glamour não sejam os mesmos que os da F1, no endurance as corridas também são excelentes e a tradição conta muito. Duvido que algum piloto nunca tenha pensado em disputar, um dia, as 24 Horas de Le Mans.

A alegria de Senna com sua primeira vitória desde 2008 e o primeiro pódio desde 2009, bem como os êxitos de outros pilotos, é a prova de que ficar sem lugar na F1 não é o fim dos tempos, não é motivo para pânico. Existe vida inteligente fora da F1. Basta abrir os olhos para ela.

McNish e Tréluyer se cumprimentam no pódio após o emocionante duelo das voltas finais (Foto: Facebook/Audi)

Que corrida!
É simplesmente sensacional ver uma corrida de seis horas de duração ser decidida com uma ultrapassagem realizada a quatro minutos do final. Foi assim que Allan McNish, Tom Kristensen e Loïc Duval venceram as 6 Horas de Silverstone, despachando os campeões mundiais Benoît Tréluyer, André Lotterer e Marcel Fässler na briga interna da Audi. McNish e Kristensen, que colecionam vitórias em Le Mans e em Sebring, estão buscando o título do WEC para poderem colocar no currículo tudo o que há de mais importante nas corridas de longa duração.

E a Toyota?
Ficou bem atrás da Audi em condições normais em Silverstone, sequer fez frente aos alemães. A Audi viu a ‘água bater na bunda’, como diz o ditado, e se mexeu para garantir que continuaria dominante no WEC. A Toyota vai precisar correr atrás agora para se recuperar.

Placar: 4×3 e 3×4
Desde que a Toyota estreou, em Le Mans, no ano passado, vimos o duelo dela com a Audi em sete corridas. Quatro dessas provas foram vencidas pela Audi (2x em Silverstone, Le Mans e Bahrein) e três pela Toyota (Interlagos, Fuji e Xangai). Em classificações, porém, o placar é o inverso: quatro poles nipônicas (Interlagos, Fuji, Xangai e Silverstone 2013) contra três germânicas (Le Mans, Silverstone 2012 e Bahrein).

Antonio Pizzonia
Ainda não está garantido para fazer mais corridas do WEC, mas esse é o seu desejo. Principalmente depois de estrear ganhando. Pelo o quanto andou em Silverstone, merece continuar no Mundial, sim. Neste fim de semana, estará de volta aos Estados Unidos para disputar a etapa de Road Atlanta da Grand-Am, na qual compete em tempo integral.

Bruno Senna
Foi no embalo de seus companheiros, Darren Turner e Stefan Mücke, mas também teve seus méritos. O brasileiro teve muito pouco tempo de pista nos treinos, mal tinha andado em condições normais e, assim que assumiu o carro na corrida, começou a chover. Senna se segurou com pneus slicks mesmo, como a maioria dos pilotos, e manteve a Aston Martin no primeiro lugar com uma larga vantagem, ora para a Ferrari, ora para a Porsche, ora para o outro carro da Aston Martin. Um ótimo começo para ele nas corridas de longa duração.

Novos companheiros
Se a Aston Martin não decidir mudar novamente seu planejamento, Senna terá novos companheiros nas 6 Horas de Spa. O que está programado é que ele corra junto de Frédéric Makowiecki e Rob Bell. Isso deveria ter acontecido já em Silverstone, mas o time inglês alterou as escalações e repetiu as formações usadas em Sebring, em março, com Paul Dalla Lana e Pedro Lamy ao lado de Makowiecki.

Ainda sobre Senna
Dos nomes que chegaram ao WEC em 2013, Senna é o que mais está chamando a atenção, fiquei com essa impressão. O Twitter oficial do campeonato estava fazendo uma promoção com ele na semana passada, ele apareceu nas chamadas de TV e, nas sessões de autógrafos, é bastante requisitado. Em Sebring, sua ausência da sessão de autógrafos devido à virose que o deixou no hotel foi bem sentida pelos fãs.

Fernando Rees
Andou bem demais na parte final da corrida. O Corvette da Larbre cresceu bastante de rendimento e Rees conseguiu descontar a diferença para o português Rui Águas para passá-lo e garantir a segunda posição na categoria GTE Am.

Lucas Di Grassi
Estava em Silverstone, mas para participar de ações promocionais da Audi e de um evento da F-E, o campeonato de carros elétricos da FIA. Ele é piloto de testes do certame e está envolvido com alguns detalhes técnicos do projeto.

Domínio da BMW nos testes do DTM
A BMW liderou todos os quatro dias de testes do DTM em Hockenheim na semana passada. O novato Marco Wittmann foi o mais rápido nos dois primeiros dias, Joey Hand no terceiro e Augusto Farfus marcou o melhor tempo da semana na sexta-feira. É um bom indício. Agora não teremos mais testes: a temporada começa em 5 de maio no mesmo circuito de Hockenheim.

Farfus fechou a semana com o melhor tempo em Hockenheim (Foto: DTM)

Para não perder o hábito
Farfus foi até Nürburgring no sábado, depois dos testes, para disputar uma corrida de quatro horas no lendário circuito de 22 km. Correu junto de Dirk e Jörg Müller, e venceu, a bordo de uma BMW Z4. Farfus já havia vencido no Nordschleife em 2010, mas nas tradicionais 24 Horas de Nürburgring.

Campeonato Brasileiro de Endurance
Foi realizada neste fim de semana, em Tarumã, a primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Endurance, organizado pela CBA. 29 carros estavam na pista, sendo que 22 correram apenas pelo campeonato estadual do RS, mostrando como o endurance é forte entre os gaúchos e fraco demais no resto do país. A vitória foi do protótipo MRX de Pierre Ventura, Cristiano de Almeida e João Cardoso, após três horas de corrida. A corrida foi marcada pelo forte acidente da Ferrari F430 de Fernando Poeta e Humberto Giacomelli, que acabou capotando na curva 8 após um toque do Ford Fusion de Luiz Senna Jr., Carlos Steyer e Carlos Belleza.

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