Opinião GP: deixar F1 e correr pela Audi foi melhor coisa que aconteceu na carreira para Di Grassi

Lucas Di Grassi guiou como um veterano, colocou seu nome na história de Sarthe com o terceiro lugar na 81ª edição das 24 Horas de Le Mans e terá longa carreira em Ingolstadt. Definitivamente, deixar de lado o sonho da F1 foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida

NASCIDO EM 11 DE AGOSTO DE 1984, Lucas Di Grassi sempre esteve entre as principais promessas do automobilismo brasileiro. Hoje com 28 anos, o paulistano teve carreira sólida no kart, na F-Renault Brasileira e também na F3 Sul-americana antes de seguir para a Europa, onde teve destaque nas F3 Inglesa e Europeia, assim como na GP2, chegando ao vice-campeonato em 2007 e dois terceiros lugares, em 2008 e 2009. A chance na F1 finalmente veio no ano seguinte, mas a chance de mostrar serviço na novata Virgin acabou por ofuscar seu bom potencial exibido nas categorias de base.

Desde aquele fim de 2010, já sem vaga na F1, Lucas tentou seguir na categoria de uma forma ou de outra, principalmente graças à função de piloto de testes da Pirelli. O brasileiro, profundo conhecedor de engenharia, foi determinante para que a fábrica de Milão desenvolvesse os pneus para o principal certame do automobilismo nos últimos dois anos. Mas faltava para Di Grassi a possibilidade de voltar a competir em alto nível, e essa chance foi oferecida pela Audi no Mundial de Endurance.

A primeira chance foi exatamente no Brasil, nas 6 Horas de São Paulo de 2012. Lucas não fez feio, muito pelo contrário. Correndo ao lado dos experientíssimos Allan McNish e Tom Kristensen no R18 e-tron quattro #2, Lucas faturou a terceira colocação em Interlagos. Foi a sua porta de entrada no mundo do endurance e também na marca das quatro argolas.
Trio de Jarvis, Gené e Di Grassi terminou as 24 Horas de Le Mans em terceiro (Foto: Audi Sport/Divulgação)

Embora ainda estivesse vinculado à Pirelli para seguir nos trabalhos de desenvolvimento dos compostos da montadora italiana, Di Grassi estava cada vez mais ligado à Audi e ao Mundial de Endurance. Mesmo com contrato assinado apenas para as 6 Horas de Spa-Francorchamps e as 24 Horas de Le Mans, Lucas fez um belo trabalho em sua missão. Depois de terminar em terceiro lugar na Bélgica, o brasileiro repetiu a colocação em Sarthe, no último domingo (23), e colocou a bandeira do Brasil no pódio da principal corrida do endurance mundial logo em sua estreia depois de ter sido peça-chave da equipe ao longo de toda a prova, inclusive largando com o R18 e-tron quattro #3. Um resultado bastante importante para que sua trajetória pela Audi tenha sequência depois de Le Mans.

Flavio Gomes, diretor da AGÊNCIA WARM UP e do site GRANDE PRÊMIO, esteve ‘in loco’ em Le Mans e viu de perto o trabalho desempenhado pelo piloto brasileiro e não teve dúvidas em elogiar a performance de Di Grassi. “Lucas guiou como um veterano. Colocou seu nome na história de Sarthe e terá uma longa carreira em Ingolstadt. Deixar a F1 foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida”, definiu o jornalista.
Brasil no pódio em Le Mans: ao lado de Jarvis e Gené, Di Grassi comemora terceiro lugar (Foto: Getty Images)

Gomes revela que a Audi considerou outros nomes, mas entende que a escolha por Di Grassi foi, de longe, a mais acertada. “Ainda bem que no ano passado, quando teve de escolher um brasileiro para correr em Interlagos, a Audi optou por ele. As outras opções, que inclusive me apresentaram numa consulta informal, eram tenebrosas — se eu contasse quem chegaram a cogitar… Lucas teve meu voto no, digamos, escrutínio final. Não era o primeiro da lista que apresentei, no entanto. Meu nome era João Paulo de Oliveira. Que iria se dar bem do mesmo jeito”, comentou.


Testemunha da história em Le Mans na 81ª edição da principal corrida do endurance mundial, Gomes falou das suas impressões durante a disputa. Desde detalhes simples, como o ronco dos motores dos protótipos da LMP1, bem como a atmosfera em Sarthe e também o clima pesado que reinou no circuito por conta da morte trágica de Allan Simonsen após um acidente grave sofrido apenas na terceira volta da prova.

“A ausência de ronco pode parecer algo chato e moderno demais, mas no caso desses carros, como era nos Peugeot 908, é apenas… assustadora. Eles surgem como fantasmas assobiando do meio do nada e rasgam retas e curvas como se fossem assombrações”, descreve. “O barulhão de seu maior adversário de hoje, o Toyota igualmente híbrido, mas com um dos motores a gasolina, espalhafatoso e ruidoso, também é bacana. Tudo é bacana numa corrida com a de Le Mans. Do mais rápido ao mais lento, das equipes grandes às pequenas, dos protótipos mais espetaculares aos mais estapafúrdios. Em Le Mans, o público compreende tudo isso, é camarada com qualquer maluquice ou excentricidade que venha da pista, e não faz distinção entre ricos e pobres”, escreveu.

“Isso aqui é uma aula de convívio, solidariedade e democracia, em resumo. São 24 horas de cumplicidade total entre todos que, por alguma razão, saíram de suas casas e vieram para a pequena vila de Le Mans para passar 24 horas aqui. Os que trabalham, os que pilotam, os que assistem, os que servem o os que são servidos”, acrescentou.

Gomes dá um destaque todo especial a Tom Kristensen, maior vencedor da história das 24 Horas de Le Mans, elevando seu recorde de nove vitórias em Sarthe. O lendário piloto dinamarquês não conseguiu esconder a emoção e dedicou seu triunfo em 2013 a Simonsen. Assim, a vitória que seria dedicada ao pai, morto em março, terá de esperar pelo menos por mais um ano.

“Tom Kristensen é um mito do esporte. Aos 45 anos, chegou à nona vitória em 17 participações na prova. Jacky Ickx, outra lenda, é o segundo maior vencedor com seis. O triunfo foi especialmente emocionante para este dinamarquês de olhar tímido e sorriso idem. Afinal, pouco menos de 24 horas antes, com 10 minutos de corrida, perdera um amigo — o também dinamarquês Allan Simonsen, que morreu num acidente com o carro da Aston Martin”, disse. “Como encarar mais 23h50 de corrida depois de saber da morte de um colega? Pois Tom encarou e ganhou”, acrescentou. Kristensen venceu em Le Mans com o Audi e-tron quattro #2 ao lado de Loïc Duval e Allan McNish, outro veterano, que alcançou três vitórias em Sarthe.

De Sarthe, Flavio escreve sobre o sentimento de satisfação e dever cumprido depois de ver os pilotos e equipes terminarem o mais longo dos dias, mais uma edição das 24 Horas de Le Mans. “Acabou mais uma. Em 24 horas, muita coisa acontece no mundo. Aqui também. No microcosmo dos boxes, mais ainda. A maioria das histórias não será nunca conhecida. Morrem com seus protagonistas assim que as caixas de ferramentas são fechadas, os rádios desligados, os equipamentos embalados, as comidas empacotadas, as barracas recolhidas. Assim que os carros, também heróis — como não? — possam, finalmente, descansar da longa batalha. Em silêncio e sozinhos.”


Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.
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