Opinião GP: campeão, Piquet enterra Cingapura de vez e renasce em F-E que aponta futuro ao automobilismo

Nelsinho Piquet venceu uma categoria das grandes pela primeira vez na carreira, e agora o mundo do automobilismo vai ter a consciência intelectual de que ele se transformou num dos melhores pilotos do mundo desde que deixou a F1. Hoje, Cingapura vai se transformando numa nota de pé, apenas, na carreira de Nelsinho. E essa F-E, em que ele tanto apostou, aponta ao automobilismo um futuro onde mudar é possível, sim, e é bom

NELSINHO PIQUET CHEGOU à rodada dupla final da F-E em Londres com 23 pontos de frente para Sébastien Buemi. O suíço contou com alguma sorte e passou perto, chegou a ter a contagem necessária por boa parte da corrida deste domingo (28) para ser campeão. Mas Nelsinho Piquet fez ultrapassagens e teve alguma sorte, também. Saiu do 16º para o sétimo lugar numa pista onde ultrapassar é virtualmente impossível e terminou campeão. O primeiro campeão da história da F-E.
 
Piloto de carreira brilhante no kart e nas categorias-escola, Piquet chegou à F1 aos 22 anos, em 2008, um ano depois do grande rival dos tempos de GP2, Lewis Hamilton. Pela porta da Renault e ao lado de Fernando Alonso, teve um primeiro ano da F1 interessante, inclusive com um pódio. A descoberta sobre o que houve no GP de Cingapura só seria feita um ano depois. Nelsinho, ameaçado por Flavio Briatore de perder o emprego, bateu deliberadamente e garantiu a vitória de Alonso. Uma atitude fraudulenta de toda a equipe, mas que fez Piquet pagar o pato.

Escorraçado, Nelsinho saiu da F1, dos monopostos e da Europa. Não que essa parte seja uma novidade. Em geral, todos lembram da história. E ninguém está aqui para diminuir o que aconteceu.

 
Mas então Piquet foi para os Estados Unidos andar nas categorias da Nascar, no Ralicross, no que aparecesse, na real. E se tornou, negligenciado muitas vezes, um tipo diferente de piloto, um híbrido, que consegue dominar na Stock Car, nos carros do Ralicross e nos monopostos elétricos em separação de alguns meses. 
Piquet é campeão (Foto: AP)
A F-E foi o retorno aos monopostos, à Europa e ao mundo onde foi criado no automobilismo. E não demorou tanto para que ficasse claro, claríssimo na verdade, que ele voltara numa versão 2.0. Rápido, mas preparado mentalmente como nunca antes. E com um entendimento cirúrgico de carro e pistas.
 
Campeão, sim, mas também melhor piloto da temporada – e leve-se em consideração que as duas coisas não funcionam em sinestesia. Um título numa categoria que já nasce grande em nível mundial faz com que tudo o que fez nesses últimos cinco anos ganhe uma importância maior. Os notáveis feitos de Nelsinho por diferentes tipos de carro em traçados completamente distintos agora são ancorados por uma conquista, e isso o joga para um patamar diferente no cenário internacional.
 
Ainda mais do que isso, começa a vislumbrar a possibilidade de um legado ao piloto de 29 anos. Agora que o mundo percebe intelectualmente o quanto Piquet já fez em sua vida adulta pós-F1, as portas se abrem para a construção de uma carreira que já deixa Cingapura 2008 no escanteio e que possa transformar o caso em apenas uma nota de lembrança, um capítulo fechado, no meio de tantas coisas legais que tenha feito.

E essa F-E, que chega ao fim de sua temporada inaugural em estado de glória? Se cada vez mais as disputas na F1 se transformam em políticas, regras e pouca movimentação na pista, a F-E chega com pouco burburinho do lado de fora e atenção concentrada nas loucuras na pista. As brigas constantes por posição, as diferentes equipes com poles e vitórias. Mesmo a confiabilidade duvidosa do início da temporada melhorou muito na segunda metade. Claro que a F-E não é uma ameaça direta à existência F1, mas é um aviso – aceite Darwin e a Teoria da Evolução.

Correr perto de públicos normalmente geograficamente distante dos autódromos e dos paddocks é importante para achar um nicho de mercado e de público. Também torna quase impossível comparações com F1s e Indys da vida, muito mais potentes e moldadas para outros tipos de lugar. A F-E obviamente não vai cair nas graças de todos, mas se apresenta como um sangue novo sob uma ótica romântica. É um híbrido entre passado e futuro do esporte a motor.

 
Com baterias cada vez mais potentes e duráveis, os carros podem mudar muito nos próximos anos na questão da potência. E com a mudança das equipes para construtoras começando já na próxima temporada – que inicia em outubro – e fazendo desenvolvimentos próprios, é quase impossível saber como a F-E vai estar em alguns anos. Não há como não acreditar que seja possível uma polarização de equipes e trabalhos. Talvez a animação de 2014/2015 fique pelo caminho em breve, mas é bom que se lembre, pelo bem do automobilismo, que é possível desenvolver uma corrida importante que chama a atenção primordialmente pela pista.
Nelsinho Piquet chegou na sétima posição que lhe deu o título da F-E (Foto: Reprodução/Twitter)
Óbvio, a F-E é importante tecnologicamente para o mercado automotivo EV, que vai crescer muito na próxima década. Por isso as marcas importante querem juntar seus nomes e, acreditem, a categoria vai ficar por aí por muito tempo. Mais ou menos emocionante, não sabemos, mas aí.
 
Pelos próximos meses certamente tudo será especificado, mas adiantando explicitamente: oito das dez equipes que participaram do primeiro ano e voltam no segundo já contam com trabalho definido para desenvolvimento dos trens de força – que consiste em motor elétrico, inversor, câmbio e sistema de resfriamento. Audi ABT, China, Mahindra, Andretti, Virgin e Venturi desenvolvem as próprias; Trulli e e.dams ficam com as partes de Motomatica e Renault; Dragon e Aguri, agora sem a Amlin, vão ter de fechar parceria com uma das oito nos próximos meses. 
 
Fora o trem de força, nada mais muda na segunda temporada. Apenas em 2016/2017 os construtores poderão mexer nas baterias, e um ano depois, apenas, na aerodinâmica. A evolução é gradual e sem exigir pedidas financeiramente insanas para as equipes, é o que prega o chefe Alejandro Agag.
 
Claro, é impossível não saltar aos olhos e mesmo a um favoritismo precipitado o equipamento feito pela Renault e os desenvolvidos em parceria com Audi, no caso da ABT, e Citroën, no caso da Virgin. Mas aí entra o frio na espinha quanto ao futuro: ninguém tem ideia de como a dinâmica será na temporada que vem. Então, no momento, resta assistir o que a temporada inaugural reservou a todos os fãs de velocidade e esperar a pré-temporada em agosto.
 
E FIA, por favor, conceda à F-E a chancela de Campeonato Mundial, Campeonato Mundial de Monopostos Elétricos, Campeonato Mundial de Eletricidade, Campeonato Mundial de Abaixo a Usina de Belo Monte, mas chancele como um Mundial. Não resta dúvida de que a categoria fez por merecer. Jean Todt, presidente da FIA, acompanhou o ano inteiro de pertinho, e claramente está bem contente. As exigências para que se permita o 'upgrade' no status estão em vias de serem atingidas com o início do envolvimento direto das montadoras.

Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.

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