Tragédia, segurança e meio ambiente: proibição de 63 anos ao automobilismo na Suíça chega ao fim com eP de Zurique

Desde 1954 que uma corrida de carros não acontece na Suíça. O motivo, muitos conhecem: o esporte foi criminalizado no país após a grande tragédia de Le Mans, em 1955, e se manteve assim por muitos anos. A proibição mudou de ordem nos anos 2000, passou a ser pela questão ambiental, e só acabou em 2015. Mas a Suíça não é para o bico da F1, por exemplo, o que torna o feito da FE ainda mais especial

google_ad_client = “ca-pub-6830925722933424”;
google_ad_slot = “2258117790”;
google_ad_width = 300;
google_ad_height = 600;

A história que se encerra como contemporânea a partir do próximo domingo, quando a Fórmula E acelera em solo suíço para a penúltima etapa da temporada 2017/18, é bastante antiga. Para contá-la, é necessário voltar o relógio em muitos anos, até 11 de junho de 1955. O dia da edição daquele ano das 24 Horas de Le Mans. Exatos 23.010 dias separam aquele 11/6 deste 10/6.

A tragédia e a proibição

 
O pano de fundo da corrida, apenas dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e com as feridas causadas pelo combate ainda abertas, a rivalidade entre a alemã Mercedes e a inglesa Jaguar era o que permeava o confronto. Além do confronto entre marcas, aquele entre os dois melhores pilotos do mundo: a Mercedes tinha Juan Manuel Fangio; a Jaguar, Mike Hawthorn.
 
Logo no começo da corrida, os dois – que tinham Stirling Moss e Ivor Bueb, respectivamente ao lado de Fangio e Hawthorn como duplas – partiram como se fosse uma prova de sprint. Sumiram e passaram a duelar de muito perto. O momento decisivo aconteceu na 35ª volta, ainda princípio da prova.
 
Naquele momento, a Jaguar tinha freios mais fortes. Usava tecnologia de freio a disco, enquanto a fábrica alemã tinha freios a tambor e, portanto, com resposta mais lenta. Hawhtorn, um pouco à frente, se deparou com o retardatário Lance Macklin na última curva, cravou no freio e fez com que Macklin desviasse da frente dele para a frente do carro ao lado, que era a outra Mercedes de fábrica, guiada pelo veterano Pierre Levegh. O francês não conseguiu desviar, acertou a traseira do Austin-Healey do retardatário e levantou voo.
A tragédia nas 24 Horas de Le Mans de 1955 (Foto: Reprodução)

google_ad_client = “ca-pub-6830925722933424”;
google_ad_slot = “2258117790”;
google_ad_width = 300;
google_ad_height = 600;

É necessário levar em consideração que os espectadores eram separados da pista por uma pequena barricada de feno, quase sem qualquer segurança com relação ao que se passava numa reta em que os carros já atingiam 300 km/h.

 
O impacto com o muro fez a Flecha de Prata se desintegrar. Eixo dianteiro e bloco do motor se soltaram e, com a altíssima velocidade do carro, voaram por metros em direção às arquibancadas. Espectadores foram esmagados e decapitados. Para piorar, pessoas também foram queimadas pelas chamas que se espalharam. O fato de a Mercedes ter componentes de magnésio, um metal mais leve, mas altamente inflamável, corroborou.
 
O saldo total foi de 83 mortes e a corrida continuou: um pedido feito pelas forças de saúde, que temiam uma obstrução das estradas por onde as ambulâncias viajavam em caso de cancelamento da prova. Fangio/Moss eventualmente tomaram a ponta de Hawthorn/Bueb e caminhavam para uma vitória até que tranquila. Até que uma ordem veio do quartel general da fábrica, em Stuttgart: era para abandonar a prova. 
 
A Mercedes, mesmo sem culpa no acidente, temia que alemães comemorando uma vitória após causarem um número alto de mortes no território francês seria impensável, talvez até um incidente traumático na tentativa da Alemanha de voltar a ser vista como aliada e não inimiga na Europa.

Em prol da segurança, diversos países proibiram a prática do automobilismo: a própria França e a Alemanha, por exemplo. E a Suíça. Conformes as obrigações por mais segurança para os espectadores foram sendo atendidas, os países assumiram o compromisso de voltarem a legalizar o esporte. Menos a Suíça, que manteve a proibição a esportes a motor em que existe competição direta.

Keke Rosberg venceu o GP da Suíça – disputado na França – de 1982 (Foto: Reprodução/Twitter)

google_ad_client = “ca-pub-6830925722933424”;
google_ad_slot = “2258117790”;
google_ad_width = 300;
google_ad_height = 600;

O esporte na Suíça

O país tinha uma história na F1 até aquele momento. O circuito de Bremgarten sediou GPs nas cinco primeiras temporadas do campeonato. Entre 1950 e 1954, Fangio duas vezes, Nino Farina, Piero Taruffi e Alberto Ascari venceram por lá. Bremgarten já recebia os monopostos deste muito anos, quando a F1 sequer existia e o Campeonato Europeu de GPs era o torneio com as mais fortes credenciais do esporte a motor. A prova foi disputada entre 1934-39, parou com a Segunda Guerra, e voltou para 1947 em diante. 
 
O GP da Suíça voltou mais tarde, primeiro para uma edição que não contou para o campeonato, em 1975, e outra que fez parte do Mundial, essa em 1982. Apesar de levarem o nome da Suíça no título, no entanto, as duas corridas aconteceram em Dijon, na França. 

A contestação

O banimento a qualquer evento de esporte a motor que não fosse de contra-relógio na Suíça perdurou intocado por mais de 50 anos, quando, em 2007, o Conselho Nacional do Parlamento passou a discutir o relaxamento da lei. Era, de acordo com os defensores políticos, uma forma de ajudar as fabricantes de componentes do país e um auxílio para o turismo.
 
As discussões foram quentes, mas a moção foi aprovada por 97 votos a 77. O fim do banimento chegou a ser noticiado, mas precisava ainda passar pelo Conselho dos Estados no Parlamento. E não passou. Mas as questões de segurança não foram mais preponderantes na decisão. O fim da proibição foi freado por uma questão ambiental e a alta quantidade de CO2 liberado na atmosfera por todos os processos envolvidos na indústria automobilística.
 
O banimento ganhou nova face, mas seguiu confirmado daí por diante. Até o surgimento da Fórmula E, em 2014. Como a Suíça, um dos países que mais advogam pelas questões ambientais, via com bons olhos atrair uma competição de carros movidos a uma energia sustentável, voltou a discutir o mérito. O lobby foi forte: mesmo antes da mudança legislativa, a categoria conseguiu organizar um evento de demonstração. Na ocasião, a pilota da casa, Simona de Silvestro, guiou pelas ruas da cidade de Genebra
Simona de Silvestro (Foto: F-E)

google_ad_client = “ca-pub-6830925722933424”;
google_ad_slot = “2258117790”;
google_ad_width = 300;
google_ad_height = 600;

O efeito Fórmula E
 

Estava tudo pronto para que a história fosse feita. Em março de 2015, após quase 60 anos de banimento, a mudança na lei foi confirmada pelo Conselho dos Estados após a proposição inicial do Conselho Nacional. A permissão para a prática do automobilismo em território suíço vale apenas para carros elétricos. A FE, pois.
 
A intenção da categoria era clara. O primeiro alvo concreto foi a cidade de Lugano. Localizada no sul do país, a cidade tem em Jarno Trulli um de seus locais. O ex-piloto italiano tinha uma equipe no grid da FE, grande influência nas duas partes e começou a desenrolar um acordo. A corrida tinha até data marcada – 7 de março de 2016 -, traçado definido e vídeo promocional. Mas acabou caindo por terra por questões burocráticas e pela concordata da Trulli GP.
 
"Houve uma comunicação oficial. Precisávamos trabalhar muito nas ruas, então isso significou que tínhamos de passar por uma consulta pública. Retardou o processo e não conseguimos cumprir com a data-limite. Foi um processo burocrático", lamentou na época o diretor-geral da FE, Alejandro Agag. Que deixou claro: "Realmente queremos correr na Suíça. Vamos conseguir. Estou convencido que vamos – o Parlamento mudou a lei para isso."
 
Era questão de tempo, de fato. As conversas com Zurique foram bem menos documentadas que Lugano e caminharam bem. O anúncio aconteceu em setembro de 2017: a Suíça estava oficialmente no calendário da FE.
 
"Reintroduzir este esporte em um país em que esteve banido desde 1955 representa um cenário animador e a conquista de um importante objetivo da FIA”, disse Jean Todt, presidente da entidade. “Quero agradecer a todos que ajudaram a transformar isso em realidade. É importante para nós continuar a levar o automobilismo a novos públicos ao redor do mundo", seguiu.
 
Durante os últimos 64 anos, mesmo com a proibição, a Suíça seguiu sendo uma praça importante para o esporte a motor. Fosse por fábricas de componentes, fosse pelas equipes, como a Sauber, ou pelos muitos pilotos vindos de lá e idos para lá. Sébastien Buemi, campeão da FE, por exemplo. Ou nomes como Michael Schumacher, que há muitos anos definiu a Suíça como local de residência fixa. É a primeira vez em gerações, entretanto, que os carros irão para lá.

O circuito terá extensão de 2,4 km e 11 curvas. Os carros irão passar às margens do Lago Zurique e por dentro do Arboretum – uma espécie de parque que conecta o centro urbano do lago em curtas caminhadas. O centro histórico da cidade também receberá os bólidos, enquanto a reta de largada será no Porto de Enge.

 
É um capítulo da história que se fecha frente aos nossos olhos e entra definitivamente na memória dos livros. Os motores elétricos vão roncar na Suíça.
CONFLITO À VISTA?

NOVA EQUIPE DE LORENZO, HONDA É TODA MOLDADA PARA MÁRQUEZ

.embed-container { position: relative; padding-bottom: 56.25%; height:
0; overflow: hidden; max-width: 100%; } .embed-container iframe, .embed-container object, .embed-container embed { position: absolute;
top: 0; left: 0; width: 100%; height: 100%; }

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Formula E direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.