Conta-giro: “Guerreiro das pistas”, Moreno vira ‘reitor’ de academia de jovens pilotos brasileiros na nova F-Inter

Dono de uma carreira amplamente vitoriosa no esporte a motor, Roberto Pupo Moreno é uma das grandes referências da mais nova categoria nacional: a F-Inter, que nasceu com o propósito de revelar, no sentido mais abrangente da palavra, jovens para as pistas e para a vida

O automobilismo brasileiro ganhou uma nova esperança na última quinta-feira (13). Depois de 18 meses de trabalho incansável, a F-Inter foi apresentada ao público em São Paulo. Nascida totalmente pelas mãos da iniciativa privada e liderada pelo empresário, abnegado e entusiasta Marcos Galassi, a categoria surge como uma grande oportunidade para jovens pilotos desenvolverem suas carreiras saindo do kart a custos baixos para os padrões empregados no esporte a motor.

A F-Inter dará a largada da primeira temporada de sua história em janeiro de 2016 e terá ao todo 11 etapas, fazendo parte do cronograma do Campeonato Paulista de Automobilismo, administrado pela FASP (Federação de Automobilismo de São Paulo). Por contar primeiramente com um caráter regional, a F-Inter conseguirá entregar aos seus pilotos e igualmente clientes a chance de correr de forma profissional, mas com custos de categorias amadoras.

Com orgulho, Galassi apresentou o robusto F-Inter MG-15, carro 100% nacional construído pela Minelli Racing, de propriedade do lendário José Minelli, um dos maiores preparadores de carros de corrida do Brasil. Além de Minelli, foram apresentados ao público o não menos mítico Chico Lameirão, campeão da histórica F-Super Vê, como patrono da nova categoria. E para completar o trio de grandes craques das pistas envolvidos no mais novo projeto brasileiro do automobilismo estava Roberto Pupo Moreno, nomeado por Galassi como reitor da nova Academia F-Inter.

O projeto da mais nova academia de formação de jovens pilotos do Brasil vai muito além de desenvolver o talento da ‘molecada’ no asfalto. Trata-se de proporcionar uma visão diferente e mais abrangente do automobilismo como um todo: desde a parte da mecânica e o conhecimento da atuação de cada sistema compreendido pelo carro, mas também media-training, marketing e vendas, no sentido de ensinar o jovem piloto a saber ‘vender seu peixe’.

Americo Teixeira Jr.: a F-Inter é a categoria de monopostos que faltava

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E poucos têm tanta propriedade para tratar do assunto como Moreno, que deixou o Brasil em 1979 sem dinheiro, mas com o sonho de construir uma carreira. É um pouco disso que a F-Inter trata. “Nunca desista dos seus sonhos”, é o lema da categoria. E aos 56 anos, o carioca criado em Brasília é a personificação dessa frase: sendo sonhador, mas também um verdadeiro “guerreiro das pistas”, como ele mesmo se define, encampando um enorme espírito de luta.

Moreno foi um lutador antes mesmo de sair do Brasil para depois ganhar o mundo chegando a conquistas incríveis como o título da F3000 em 1988, o período de vitórias pessoais na F1 sem dinheiro algum, seja como piloto de testes da Ferrari — ajudando no desenvolvimento do câmbio semiautomático, inovador à época —, seja levando equipes do fundo do grid a resultados consagradores, seja o histórico pódio do GP do Japão de 1990. Ou também, como esquecer o grande trabalho feito por Roberto em sua segunda passagem pela Indy/CART, no fim dos anos 1990 e começo de 2000?

Fato é que todas as linhas aqui escritas seriam poucas para definir e descrever a envergadura que Roberto Pupo Moreno tem para o automobilismo brasileiro. Ele, que chegou a destinos outrora inimagináveis na vida e na carreira, agora serve como grande referência para a nova geração que vem por aí na F-Inter.

Roberto Pupo Moreno é o reitor da Academia da F-Inter (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

Ao GRANDE PRÊMIO, o hoje empresário, coach de novos pilotos e agora reitor da Academia da F-Inter falou sobre como pretende ser útil aos talentos que virão e se mostrou grato por ter a chance de novamente, depois de quase quatro décadas, voltar a trabalhar de forma permanente no Brasil.

“Estou pronto, disponível e vou tentar usar toda minha experiência para ajudar ao máximo cada piloto no momento que eles precisarem”, disse. Ciente de que cada talento terá sua própria fase de evolução, Moreno garante que está preparado para se adaptar às diferentes fases que os meninos e meninas vão mostrar.

“Cada piloto terá uma determinada necessidade em determinada fase do seu desenvolvimento: um menino que está começando agora tem uma demanda; depois de dois ou três treinos, sua necessidade já é outra. E eu me adapto rapidamente à necessidade de cada um ao seu momento atual. Me encaixo em várias áreas de desenvolvimento, um pouco em tudo. Então posso direcionar bem cada membro da nossa equipe para orientar da melhor forma nossos pilotos”, explicou.

“Do lado pessoal, é a minha chance de, depois de ter saído do Brasil para poder me profissionalizar, trabalhar aqui. Saí do país em 1979, e o Marcos está me dando a oportunidade de poder trabalhar no Brasil com aquilo que eu gosto”, comemorou.

Moreno, aliás, destacou o trabalho e a postura de Galassi como empreendedor. Ambos estão trabalhando juntos há alguns meses no sentido de tornar realidade o sonho de uma nova e sustentável categoria-escola no Brasil. “O Marcos é um cara bem inovador. Ele está usando toda a experiência dele como empreendedor no grande sonho que ele tem, que é correr. Ele tem esse sonho e quer que isso se realize com outros pilotos. E o projeto que o Galassi tem em mente é deixar que esse sonho seja possível a outros sonhadores.”

Sempre que pode, Roberto dá suas aceleradas aqui e ali. Recentemente, esteve no famoso Festival de Goodwood, na Inglaterra, onde encontrou vários amigos que manteve desde os tempos de F1. Mas seu foco nos últimos anos está voltado a emprestar sua experiência a pilotos de vários perfis, desde jovens talentos até gentlemen-drivers no Brasil e no exterior. De uma forma ou de outra, Moreno, chamado carinhosamente de “SuperSub” pelos norte-americanos pela notória capacidade de substituir bem pilotos lesionados nos bons tempos de Indy/CART, no fim dos anos 1990, permanece fazendo o que mais gosta: estar envolvido no automobilismo.

A mais nova categoria do automobilismo brasileiro teve seu lançamento na última quinta-feira, em São Paulo (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

“Desde 2009 eu trabalho fazendo coaching de pilotos”, declarou. “Comecei na Europa e hoje estou fazendo aqui no Brasil. Faço com um grande amigo meu na Porsche Cup, que é o Gui Affonso. Lá no Sul, tenho um menino [Lucas Kohl] que ajudei na F-Junior no ano passado, nesse ano ele está fazendo kart aqui em São Paulo e no ano que vem ele vai para a USF 2000 lá nos Estados Unidos. Faço um pouco de tudo”, disse o reitor da mais nova academia do esporte nacional, projetando seu futuro no automobilismo. “Vou me dedicar à F-Inter e vou seguir ajudando aos pilotos que eu já ajudo normalmente fora daqui”, completou.

Ensinando o caminho das pedras

Além de todo seu vasto conhecimento técnico, Moreno quer passar aos novos pilotos também um pouco do seu espírito de luta com o qual conseguiu construir uma carreira respeitada no mundo inteiro sem dispor de praticamente nenhum dinheiro, algo raro à época e, nos dias de hoje, um verdadeiro ato de heroísmo.

“Eu me vejo como um guerreiro. Se analisar minha carreira, você vai ver que tive de passar por vários obstáculos para alcançar o que eu alcancei. Não saí do Brasil para correr, saí para fazer uma profissão, que acabou sendo a de piloto de corrida. Não saí daqui cheio de dinheiro para correr, como Ayrton Senna fez, como Maurício Gugelmin fez e outros tantos fizeram, eu tive de me virar para fazer uma carreira, eu tive de me encaixar no automobilismo para sobreviver”, lembrou.

“Você tem de se adaptar, eu tenho de me adaptar também. Hoje o piloto quer correr de kart e andar de F1, e existe um meio-termo nisso, que nós, pilotos de antigamente, sabiam e os pilotos da geração atual não sabem. Por exemplo: o carro da F-Inter tem o câmbio ‘H’, manual. Por quê esse formato de câmbio? Porque quero ensinar o jovem piloto a passar marcha, quero que ele desmonte o câmbio comigo e entenda o que é passar uma marcha, para quando ele fizer isso no volante, ele entenda o que está acontecendo ali. E hoje os pilotos não sabem isso: eles apertam o botão atrás do volante e nem sabem como uma marcha é trocada. São essas coisas que a gente pretende instruir na academia. Se você não tem um programa desse, é difícil fazer, ainda mais nesses tempos, em que o período de ascensão está cada vez mais curto.”

Um dos exemplos dessa fase de ascensão cada vez mais rápida está hoje na F1, o ápice do esporte a motor. Max Verstappen chegou ao grid da categoria com apenas 17 anos e depois de ter feito só um ano correndo de monopostos, na F3 Europeia. Moreno não enxerga a precocidade como um aspecto ruim, mas deixou claro que, num projeto como está sendo implementado pela F-Inter, a academia poderia ajudar no processo de amadurecimento desse jovem talento.

“Eu não vejo como algo negativo. O que acontece hoje é que os pilotos estão pulando etapas muito importantes. Mas todos eles estão fazendo assim, por isso o nível é o mesmo. Todos estão fazendo igual. Mas quem consegue ter mais tempo para aprender mais na academia, no fim das contas consegue se sobressair. Por isso a ideia da academia”, concluiu o novo reitor.

Além de estar à frente do desenvolvimento de novos talentos e também seguir com os trabalhos como coach de pilotos aqui e no exterior, Moreno trabalha em outro projeto, que ainda não tem data para ser concluído, mas que certamente será um grande presente ao fã do automobilismo. O ex-piloto trabalha para lançar, em parceria com um escritor carioca, sua biografia, colocando no papel um pouco do que viveu, sofreu, chorou, sorriu, venceu e comemorou no automobilismo e na vida, como um autêntico guerreiro das pistas.

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