Alonso deixa F1 como personagem intrigante: rei da polêmica e midiático, mas respeitado e bicampeão

Fernando Alonso especulou, fez mistério e esperou um dia sem notícias para anunciar que deixa a F1 ao final de 2018. Até em sua despedida o espanhol soube segurar o público, criar polêmica, tomar a atenção da mídia para si e, no fim, ganhar o carinho de quem gosta de automobilismo. Seu adeus à principal categoria do automobilismo é um resumo de sua passagem por ela. E ele tem noção completa disso

Quando entrou na F1 há 18 anos, como piloto de testes da Benetton, ele talvez não tivesse ideia do tamanho da história que construiria. Talvez. Provavelmente ele tinha, sim, pois nunca escondeu que pensa alto, que tem como objetivo a glória no máximo de maneiras que encontrar para poder desfrutá-la. Quase duas décadas depois, Fernando Alonso deixa a principal categoria do automobilismo mundial como bicampeão, colecionador de inimigos, respeitado por todos, sem espaço em equipes grandes, querido pelo público e midiático ao extremo.

Fernando Alonso conseguiu algo que grandes atores podem tentar a vida inteira e jamais conseguir: ele se tornou o proprio personagem que criou. Intrigante, dúbio, amado e odiado. É difícil separar os elogios das críticas – e isso está longe de ser ruim. Alonso completou seu ciclo na F1 como senhor dos seus desejos: todos completos. É hora de ir. 

Fernando Alonso (Foto: McLaren)

Sua "vida e obra" na F1 pode ser resumida pela sua despedida. Alonso declarou nesta terça-feira (14) que já havia se decidido sobre deixara a McLaren "meses atrás". Mas para que avisar o mundo logo? Ele segurou a notícia, criou expectativa, se tornou o principal personagem de um mercado agitadíssimo e de um ano no qual, nas pistas, precisa se contentar em conquistar minguados pontos pouco acima da décima posição, quando possível.

Fez o mundo do esporte parar. Fez portais caírem em pegadinhas e noticiarem as chamadas 'fake news'. Fez Lewis Hamilton e Sebastian Vettel e sua luta pelo título mundial se tornarem apenas uma nota de rodapé. Nesta terça, quem acompanha automobilismo só fala de Fernando Alonso. E quem não acompanha, soube que um grande parou. 

Possivelmente, nenhum outro piloto de F1 foi tão midiático quando Fernando Alonso. E dificilmente algum será.

Fernando Alonso (Foto: Reprodução)

Mas o que permitiu Alonso ser este personagem odiado e amado, mas senhor do público e da mídia? A resposta pode ser resumida em declaração de Felipe Massa dada nesta semana: o brasileiro afirmou que o espanhol "dividia a Ferrari ao meio" enquanto formaram dupla na escuderia vermelha – mas, ao mesmo tempo, colocou Alonso como alguém de talento igual ao de Michael Schumacher.

Massa, desta forma, mostra ao mundo que é difícil negar que Alonso, na pista, está acima dos demais de seu tempo – mesmo com títulos a menos. É a definição de ambiguidade. 

Lembremos, então, seu legado na F1, desde que deixou de ser piloto de testes da Benetton para, como era tradição até o começo do século na categoria, virar piloto titular na parte de trás do grid, sem chances de vitória, mas se acostumando e aprendendo na Minardi.

O estreante Fernando Alonso e Giancarlo Minardi em 2001 (Foto: Sutton Images)

Terceiro piloto mais jovem da história da F1, Alonso começou sua passagem colocando mais de 2s em Tarso Marques, seu primeiro companheiro, no treino de classificação no qual estreou, na Austrália. Chegou a colocar a caótica Minardi em 10° na Alemanha e, mesmo sem pontuar durante o ano, seu talento se tornou inegável: em 2002, começou sua história na Renault – primeiro como piloto de testes, depois como titular.

E, ali, não demorou para se tornar o mais jovem campeão do mundo na história. Em Interlagos, dia 25 de setembro de 2005. 24 anos e 59 dias de vida.

Antes, porém, ainda empilhou recordes: pela Renault, foi o pole mais jovem da história, na Malásia-2003, e o mais jovem vencedor, no mesmo ano, mas na Hungria.

Fernando Alonso comemora com Flavio Briatore a vitória na Hungria-2003 (Foto: LAT/Renault)

Já no ano do primeiro título, o asturiano empilhou sete vitórias, seis antes da conquista antecipada, e seis poles. Curiosamente, a batalha que teve seu capítulo final no Brasil foi contra o, hoje, outro mais longevo piloto na categoria: Kimi Räikkönen.

No ano seguinte, o bicampeonato: novamente sete vitórias, agora com cinco poles. Mais importante: forçando Michael Schumacher a se aposentar (pela primeira vez) como vice, e não com mais um título. De novo, "escolheu" Interlagos como palco da glória, terminando em segundo a última corrida do ano para garantir a conquista.

E foi isso. A partir daí, Alonso começou sua perseguição ao terceiro título, que jamais viria, da mesma maneira em que anunciou sua saída da F1: buscando desafios. Foi para a McLaren em 2007, ter como companheiro Lewis Hamilton – o início de uma história que também justifica tudo escrito sobre sua carreira: na pista, ambos terminaram com 109 pontos de puro talento; fora dela, intrigas e inimizade.

Fernando Alonso e Lewis Hamilton (Foto: AFP)

Uma das relações mais complicadas da história da F1 durou apenas um ano. De tão conturbada, forçou Alonso a sair já no ano seguinte. Mas o temo curou a briga entre a dupla. Hamilton, hoje em dia, já fala que Alonso foi o único companheiro com o qual aprendeu algo.

De volta à Renault, começou sua saga de colocar carros mais fracos na parte de cima do grid. Por dois anos, não teve chance de título, mas conquistou resultados muito melhores do que os de Nelsinho Piquet. Seu talento seguiu inegável – mas a polêmica voltou à tona.

Não é preciso discutir todo o caso, mas é difícil não ter conhecimento sobre a polêmica do GP de Singapura, no qual o brasileiro bateu de propósito para forçar um safety-car e garantir a liderança ao companheiro. 

Mesmo assim, uma década depois, quem gosta menos de Alonso por isso?

Fernando Alonso na Ferrari (Foto: Mark Thompson/Getty Images)

O penúltmo capítulo de sua história na F1 também marcou sua tentativa derradeira de título. Na Ferrari, entre 2010 e 2014, teve sua melhor chance do tri que nunca chegou.

No primeiro ano, ficou preso atrás de Vitaly Petrov em Abu Dhabi, entregando a vantagem que tinha sobre Sebastian Vettel na última etapa. Em 2012, a mesma situação e novo vice para Vettel, agora por três pontos. Mais um ano se passou e novo vice para o alemão, agora sem chances de briga verdadeira pela conquista.

Sem carro forte em 2014, se foi para a McLaren no ano seguinte. E, lá, se tornou o verdadeiro herói midiático. Bateu na equipe constantemente, implorou pela saída da Honda, nunca se escondeu de reclamar publicamente.

Ao mesmo tempo, aprendeu a usar as mídias sociais para criar mistérios, atrair o público. Abandonou o GP de Mônaco de 2017 para correr a Indy 500. Fez o mundo do automobilismo se virar para a Indy por duas semanas. 

Fernando Alonso (Foto: McLaren)

Mas, ao final, escolheu palavras simpáticas para com a equipe que nunca entregou o que pediu. "Agradeço a toda equipe e meu coração está com vocês para sempre."

De fato, está: com todo fã de esporte a motor do mundo. Agora, ele vai construir sua história em outro local. No WEC, já levou a segunda parte da Tríplice Coroa em Le Mans. E na Indy? O mundo espera, ansioso, por novas ações de mistério e intrigantes, pois se trata de Alonso.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular!Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra, Escanteio SP e Teleguiado.