Arrivabene entrega Ferrari em posição mais forte. Mas deixa legado de erros, derrotas e desentendimentos
A Ferrari confirmou nesta segunda-feira (7) o que já se falava há algum tempo: sai Maurizio Arrivabene e entra Mattia Binotto. O diretor-técnico agora vai comandar a equipe italiana, que sofre a quarta mudança de chefia desde o último título de Construtores, em 2008. E isso não é nada bom
As mudanças vieram pelas mãos do então presidente Sergio Marchionne, mas coube a Arrivabene a responsabilidade de renovar o quadro de funcionários e dar novo fôlego ao time. Só que a opção por Maurizio gerou dúvidas e incertezas, porque não era exatamente alguém de dentro da equipe, um engenheiro ou um dirigente experiente. Era um profissional que por anos esteve ligado à escuderia, mas por meio de seu cargo de executivo de uma das principais apoiadoras de Maranello, a Marlboro. Ainda assim, Arrivabene recebeu carta branca para ajustar o que era urgente, sempre com o respaldo da cúpula e sob os olhos atentos de Marchionne.
A primeira temporada sob seu comando viu três vitórias de Vettel. A primeira logo na segunda etapa do ano. O desempenho ganhou manchetes e deu tempo ao dirigente, especialmente porque a esquadra prateada seguia implacável. Foi necessário uma grande dose de paciência, mas os frutos apareceram, mesmo diante de decisões impopulares.
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Em 2017, a Ferrari construiu um carro forte, veloz e que chegou a ameaçar a supremacia alemã. Com Seb à frente, foram cinco vitórias e o vice-campeonato. O trabalho continuou firme entre os vermelhos para o ano seguinte. Só que, enquanto isso, Arrivabene optava por uma política diferente. Isolou seus comandados, criou barreiras, tudo em nome da dedicação total à missão de tirar os ferraristas da fila de títulos. A manobra não foi bem vista e gerou críticas – muitas críticas. As cobranças, já grandes, se tornaram ainda maiores, e a pressão por resultados veio na mesma proporção.
Na pista, os erros seguiam, tanto de pilotagem quanto de operação e decisões estratégicas, assim como as discussões internas. O clima fechara de vez. Enquanto isso, os adversários se fortaleciam e tinham em um forte Lewis Hamilton uma arma poderosa. O favoritismo italiano rapidamente sumira e a derrota foi inevitável. O fracasso pesou porque os italianos, de fato, tinham nas mãos um carro verdadeiramente vencedor. “Foi difícil de engolir”, como admitiu Sebastian, certa vez.
É difícil reproduzir e entender o que se passou na segunda fase da temporada dentro da Ferrari, mas os resultados refletem muito da atmosfera instável por lá. Segundo a mídia na Itália, Arrivabene e Binotto discordavam quanto aos aspectos técnicos, mas também de tática e operação. As críticas com relação à perda de rendimento do carro, feitas pelo dirigente, irritaram Mattia. Ainda que os rumores tenham sido veemente negados, a figura de Maurizio passou a sofrer um enorme desgaste nos meses derradeiros do ano. E os boatos sobre a demissão apenas se alargavam.
A demissão de Arrivabene, portanto, não chega a ser uma surpresa. Mas o italiano entrega a Ferrari em uma posição muito mais forte do que quando assumiu o cargo. Isso é bem verdade. Hoje, a mais famosa equipe do grid segue como favorita e é encarada pela Mercedes como a principal rival. É capaz de vencer e possui uma organização técnica competente. Mas o legado de Maurizio não será lembrado por isso. Os equívocos da temporada 2018 sempre vão pesar mais em seu currículo e na avaliação de seu comando.