Câmara Municipal do Rio aprova Camboatá como refúgio e sepulta pista em Deodoro

A história dos desejos de construir um autódromo em Deodoro, no Rio de Janeiro, caiu por terra de vez com projeto que transforma Camboatá em Refúgio de Vida Silvestre

FÓRMULA 1 EM SP: VERSTAPPEN SEM CONSELHO DE PIQUET | Paddock GP #267

Uma das histórias mais importantes envolvendo o automobilismo no Brasil nos últimos anos terminou na noite da última quinta-feira, 11 de novembro, com final feliz para a sociedade civil do Rio de Janeiro. A Câmara Municipal da capital fluminense aprovou por 43 votos a zero a transformação da Floresta do Camboatá em Refúgio de Vida Silvestre (REVIS), encerrando qualquer chance de ressurgimento do autódromo no local.

O próximo passo do projeto que transforma o Camboatá numa área de conservação e, portanto, barra tentativas futuras de desmatamento e destruição é o ok da prefeitura. Eduardo Paes, prefeito do Rio, tem de sancionar a lei.

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Deodoro, bairro localizado da Zona Oeste do Rio de Janeiro, é a casa da última floresta de Mata Atlântica da cidade, mas era lá, às custas do Camboatá, que forças políticas gostariam de construir um autódromo. O presidente da República Jair Bolsonaro (PL-RJ), os governadores Wilson Witzel (sem partido) e Cláudio Castro (PL-RJ) e o antigo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) todos estiveram a favor do projeto desde o começo, apesar das críticas contundentes de organizações ambientais.

Em agosto de 2020, após mais de um ano de discussões, o Ministério Público do Rio de Janeiro definiu que o autódromo em Deodoro era ilegal e interrompeu a discussão inicialmente. Depois, em janeiro de 2021, Paes (PSD-RJ) afirmou que o autódromo não existiria. No fim daquele mês, a prefeitura pediu o arquivamento do projeto que pedia concessão da licença ambiental para as obras.

A ideia de projeto era conturbada desde o começo por conta também das relações nubladas envolvendo as forças políticas e a Rio Motorsports, empresa de JR Pereira, que jamais deixou claro de onde viria o dinheiro para as obras.

Apesar da série de derrotas da turma do autódromo, faltava uma aprovação que fosse encerrar a discussão de uma vez: o Projeto de Lei 1345/2019, criado há dois anos pelos então vereadores Renato Cinco (sem partido), Professor Célio Lupparelli (DEM-RJ), Tarcísio Motta (PSOL-RJ), Inaldo Silva (Republicanos-RJ), Dr. Marcos Paulo (PSOL-RJ), Dr. Carlos Eduardo (Podemos-RJ), Átila Nunes (MDB-RJ), Paulo Pinheiro (PSOL-RJ), Wellington Dias (PDT-RJ), Rocal (PSD-RJ), César Maia (DEM-RJ) e Luiz Ramos Filho (PMN-RJ).

“Hoje a sociedade civil do Rio de Janeiro teve uma vitória acachapante, na votação para a criação do Refúgio de Vida Silvestre da Floresta do Camboatá”, manifestou-se a ONG SOS Floresta do Camboatá, movimento que liderou a luta contra o projeto do autódromo.

“Depois de mais de uma década de luta e resistência, transformamos um fantástico remanescente de Mata Atlântica, com centenas de espécies, pelo menos 21 delas ameaçadas de extinção, de área escolhida para ser desmatada e soterrada para virar um autódromo – com apoio do prefeito anterior, do governador e do presidente – no mais novo Refúgio de Vida Silvestre do país”, seguiu.

“Nossa gratidão a todas as pessoas e instituições que dedicaram seu tempo, seu conhecimento, suas experiências, sua criatividade, sua capacidade de luta, sua resistência e resiliência, para que esta vitória fosse possível. Cientistas, lideranças comunitárias, procuradores, promotoras e promotores, ambientalistas, políticos, artistas, professoras e professores, muita, muita, muita gente”, continuou.

“O desafio agora será implantar essa unidade de conservação. Temos uma bússola – nosso projeto ‘A Floresta do Camboatá que Queremos’ – e temos um marco legal. Vamos juntar aliados e mais e mais apoiadores, para fazer desse pedaço especial da Mata Atlântica um exemplo para o mundo. Viva a Floresta do Camboatá”, encerrou.

É uma coincidência, ainda, que o sepultamento derradeiro do projeto de Deodoro aconteça no fim de semana em que a Fórmula 1 retorna ao Brasil, em São Paulo, para correr em Interlagos.

Todos os vereadores que votaram estiveram no lado do ‘sim’ para o projeto. Os outros, não se manifestaram (Foto: Reprodução)

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Entenda o caso

O processo de construção do autódromo na região militar é alvo de suspeitas pelo envolvimento da citada Rio Motorsports, de José Antonio Soares Pereira Júnior, que virou JR Pereira para evitar expor os problemas judiciais que enfrenta desde que uma de suas empresas, a Crown Processamento de Dados, acumulou dívidas superiores a R$ 25 milhões à União.

A Rio Motorsports, através do próprio JR Pereira e de uma das companhias vertentes da Crown, acabou participando da regulação do processo de licitação da obra, algo que qualquer ente público proíbe. Ainda, nunca houve comprovação, por parte da Rio Motorsports, da origem dos mais de R$ 800 milhões inicialmente previstos para a obra — na região da floresta do Camboatá, área de Mata Atlântica.

A promessa da Rio Motorsports era tirar o GP do Brasil de Interlagos já a partir de 2021 para correr em Deodoro. A proposta ganhou apoio do presidente Jair Bolsonaro, que, em 24 de junho do ano passado, disse que era “99% certo” que a corrida passaria a ser realizada no RJ. O projeto do novo autódromo de Deodoro segue parado e, em novembro, sofreu novo baque: o GP do Brasil segue em Interlagos, conforme confirmado pela própria F1.

Os últimos meses foram marcados por intensa batalha judicial envolvendo o licenciamento do autódromo. É que ainda em maio a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, da 14ª Vara da Fazenda Pública, suspendeu a audiência pública para apresentação do EIA/RIMA [Relatório de Impacto do Meio Ambiente] referente à tentativa de construção da pista na região do Camboatá.

Meses e liminares depois, em meio a uma pandemia de coronavírus, o ex-prefeito Marcelo Crivella pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a realização da audiência pública virtual. O governante obteve êxito.

Em agosto, na audiência pública virtual que durou mais de dez horas e atravessou a madrugada, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro concluíram que o projeto de autódromo de Deodoro é ilegal por conta do impacto ambiental em área de mata atlântica, além do processo de licitação irregular.

A indefinição da permanência da Fórmula 1 no Brasil ganhou um capítulo nebuloso quando o site DIÁRIO MOTORSPORT, parceiro do GRANDE PRÊMIOpublicou que Chase Carey, diretor-executivo do Liberty Media, grupo que gerencia a Fórmula 1, enviou uma carta ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, tentando influenciar, mesmo que subliminarmente, que acelerem as licenças ambientais para a construção do autódromo de Deodoro, no Rio de Janeiro.

Após da confirmação de São Paulo e Interlagos como casa do GP, o futuro do projeto ficou em suspenso. Mas, após a reunião do conselho do CECA (Comissão Estadual de Controle Ambiental), em novembro do ano passado, o futuro ainda abria uma porta para a ideia de autódromo. Com direito, porém, a relatos vindos do INEA (Instituto Estadual do Meio Ambiente) de que havia pressão política para aprovação.

Dias após reassumir a prefeitura, porém, Paes prometera que o projeto não iria em frente e, semanas depois, a prefeitura pediu o arquivamento da solicitação de licenciamento ambiental para o autódromo. A última pá de cal, porém, é a de agora.

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