Carro longo e desgaste de pneus: por que a Mercedes se deu mal em Mônaco

A Mercedes viveu um inesperado revés no GP de Mônaco. O resultado da corrida no Principado foi tão estranho que provocou a perda da liderança tanto no Mundial de Construtores quanto no de Pilotos. Mas o mau desempenho tem explicação

Max Verstappen assume liderança da F1 após vitória: assista aos melhores momentos do GP de Mônaco (GRANDE PRÊMIO com Reuters)

Depois de vencer três das primeiras quatro corridas da temporada 2021, a Mercedes deixou claro o avanço técnico que foi capaz de dar com um carro que começou o ano dando o que falar. Durante os testes coletivos, o W12 parecia indomável. A parte traseira do modelo surgiu incontrolável e todo o conceito foi colocado em dúvida, diante das exigências do novo regulamento. Mesmo após a vitória na abertura no Bahrein, a sensação era de a que os heptacampeões ainda não estavam onde gostariam e que a Red Bull havia feito um trabalho melhor. Mas as três semanas entre a etapa no deserto e o segundo GP do ano foram providenciais para o amadurecimento do projeto. Aí vieram as provas em Portugal e na Espanha, e isso ficou ainda mais claro. A diferença na tabela de classificação para a rival taurina também foi reflexo dessa melhora. Só que Mônaco destoou demais desse enredo. A esquadra alemã, sobretudo com Lewis Hamilton, viveu um fim de semana complexo e difícil de entender.

Muito embora Valtteri Bottas tenha se mostrado mais rápido que o inglês e até se classificado na frente, o fato é que a Mercedes enfrentou problemas – de operação, de estratégia e de performance. Hamilton não se encontrou em nenhum momento entre a definição do grid e a corrida. O sétimo lugar e o esquisito rendimento ao longo das 78 voltas da prova confirmam essa tese. Mas o que aconteceu, afinal? Uma das explicações está propriamente no carro. Historicamente, os modelos produzidos em Brackley não se adaptam facilmente ao apertado circuito de Monte Carlo. O carro alemão tem um entre eixos longo, talvez o maior de todo o grid. E essa é uma questão em um traçado tão lento. Além disso, há certa perda de downforce pelo acerto natural desse modelo.

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Valtteri Bottas viveu momentos de agonia em seu pit-stop. A Mercedes não conseguiu retirar seu pneu dianteiro direito decretando fim de prova para o nórdico (Foto: Mercedes)

Mônaco nunca foi um lugar muito bom para nós”, disse o chefe da equipe, Toto Wolff, após a corrida. “A gente constrói um carro para 23 etapas e sempre vai acontecer de ter um desempenho inferior em algum circuito. E Monte Carlo é definitivamente esse ponto fora da curva para a gente, porque é necessário um carro muito diferente, que foge da normalidade”, completou.

Hamilton deu um exemplo ainda mais claro. “Temos um carro mais longo”, afirmou o britânico. “É como um ônibus para virar e não é tão ágil quanto os outros, mas é ótimo em outras pistas. Há coisas que não funcionam aqui, mas que são excelentes em outros lugares”, acrescentou.

De fato, nos últimos anos, apesar de algumas vitórias, como a Lewis em 2019, a Mercedes nunca esteve como protagonista. O papel de favoritismo ficava para as adversárias Red Bull e Ferrari – que confirmaram essa teoria com triunfos de Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo. Mas o aconteceu agora vai um pouco além de só o conceito do carro. A verdade é que o time da marca da estrela sofreu para aquecer os pneus, não soube adotar a melhor estratégia e ainda cometeu erros de operação no pit-stop. Tudo isso junto – neste caso, obedecendo a uma espécie de ‘tradição do mau’. A Mercedes parece escolher um fim de semana por ano para dar tudo errado.

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Falando antes daquilo que ficou mais visível. Bottas garantiu uma boa segunda fila na classificação de sábado. Na largada, o terceiro posto virou segundo depois do abandono precoce do pole Charles Leclerc. O finlandês até saltou bem, mas a tentativa de ataque foi devidamente anulada por Max Verstappen. Daí para frente, o nórdico trabalhou para permanecer no encalço do holandês, mas não foi possível, também por conta de um desgaste maior dos pneus. O desastre maior veio a seguir no pit-stop, quando um mecânico não conseguiu remover o pneu dianteiro direito do W12 de Valtteri após a pistola desgastar os pontos de tração da porca da roda. O incidente acabou por tirar o piloto da corrida.

Max Verstappen aproveitou bem o revés dos rivais (Foto: Red Bull Pool Content/ Getty Images)

Enquanto isso, Hamilton continuava na sexta posição, atrás de Pierre Gasly. Estava preso e não tinha como atacar o francês. Acontece que, inicialmente, a Mercedes entendia que o mais correto seria manter o inglês na pista por mais tempo que os rivais, com o objetivo de conquistar as posições com uma parada tardia. Lewis até poupou os compostos, mas não conseguia tirar mais performance, por conta do não aquecimento dos pneus e da falta consequente de aderência. E isso foi determinante. Como algo adicional, os principais rivais não registraram o mesmo desgaste da borracha como a Mercedes.

“Parece que não conseguimos entrar no regime de trabalho certo com os pneus e um dos pilotos estava apenas ligeiramente mais contente do que o outro. Mas nenhum dos dois pilotos conseguiu fazer os pneus funcionarem de forma adequada”, explicou James Vowles, o chefe de estratégia da Mercedes, em um vídeo da própria equipe sobre a corrida do último domingo.

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“Tentamos vários acertos, mas um dos problemas em Mônaco é a confiança. Você precisa de voltas, precisa de voltas consistentes, precisa de confiança de que o carro está lhe dando tudo o que você deseja dele. Agora se você não tem confiança no carro, tudo se complica. A configuração entre os dois carros não era drasticamente diferente quando começamos a classificação e a corrida. Na verdade, o que mudou é que não conseguimos extrair tudo do carro e dos pneus como queríamos”, emendou.

Então, com os problemas de rendimento dos pneus, a Mercedes teve de mudar a tática e acabou chamando Hamilton aos boxes na volta 29 – antes de Gasly. A ideia era tentar o undercut. Ou seja, parar antes para tentar pular à frente com pneus novos, no momento em que o rival for aos pits.  Mas deu errado, porque não só Pierre manteve sua colocação, mas Hamilton ainda viu Vettel e, depois, Sergio Pérez o ultrapassarem com paradas tardias. A equipe alemã foi pega de surpresa com o desempenho melhor da borracha nos carros da concorrência.

Sobre o fracasso na estratégia e as reclamações do heptacampeão – se mostrou furioso no rádio, pois havia poupado pneus pensando em permanecer mais tempo na pista –, Vowles afirmou: “O problema é que tínhamos de esperar a parada de Gasly. Ele tinha de parar antes para que tivéssemos a chance de ter caminho livre à frente. Na verdade, eles estavam esperando a gente fazer o pit-stop. Honestamente, estou bem convencido de que, se esperássemos uma ou duas voltas, eles ainda não teriam parado”.

O engenheiro ainda explicou que “em nossos cálculos, deveríamos ter saído um pouco antes dele” e que “não foi uma decisão fácil, mas realizável”. Só que o piloto da AlphaTauri surgiu à frente e com uma vantagem de 0s2, graças a uma bela volta antes do pit.

“Foi incrivelmente apertado, mas estávamos errados, não conseguimos ganhar a posição”, reconheceu Vowles, acrescentando a falha no aquecimento dos pneus. “A dificuldade de aquecer aquele pneu duro na volta de saída foi tanta que não foi possível. E acho que poderíamos ter feito, sim, mais algumas voltas, mas certamente não teríamos conseguido mais dez”, emendou, reiterando que não seria possível manter Hamilton por mais tempo antes da parada.

O revés também já faz a Mercedes compreender que a disputa com a Red Bull vai ser mais complicada em 2021 e que, mesmo em pistas mais favoráveis, não dá para se dar ao luxo de errar. “Neste ano, vencemos corridas que não deveríamos ter vencido, como no Bahrein. Mas ainda não acabou. Há um longo caminho a percorrer. Não podemos nos dar ao luxo de outro fim de semana como este, mas estou grato por ter terminado essa corrida e somado um ponto pela volta mais rápida. Cada ponto que obtivermos em um fim de semana ruim como este pode ser importante mais tarde”, destacou o heptacampeão, que agora tem as posições invertidas no Mundial e está quatro tentos atrás do líder Verstappen, vencedor em Mônaco.

“A razão de termos todos os campeonatos que temos é porque cometemos erros, mas aprendemos com eles e voltamos mais fortes. Há muito o que tirar deste fim de semana. Não temos todas as respostas, mas isso nos obriga a procurar por elas”.

A próxima etapa da temporada acontece daqui a pouco mais de uma semana, no Azerbaijão, com cobertura completa do GRANDE PRÊMIO.

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