Choques, quebras e quase divórcio: como Hamilton amargou derrota para Rosberg

Lewis Hamilton viveu uma montanha-russa em 2016: sofreu com quebras, acidentes e largadas ruins, deu a volta por cima, mas não o suficiente para evitar uma das derrotas mais amargas da carreira

Lewis Hamilton levou o tricampeonato mundial de Fórmula 1 com muito mais tranquilidade que o bi. Em determinados momentos de 2015, parecia até que Sebastian Vettel, de Ferrari, era uma ameaça maior que o instável Nico Rosberg, que passou longe de ser o piloto de 2014, seja em termos de performance ou da confiabilidade da Mercedes, que afetou demais o alemão. Porém, as três vitórias de Nico nas corridas finais daquela temporada começaram a dar indicação de que a batalha pelo tetra seria muito mais difícil, e acabou resultando em um ano desgastante e de derrota amarga para o então tricampeão.

2016 já começou com uma decisão surpreendente por parte da Mercedes: cinco mecânicos que trabalhavam no carro de Hamilton foram transferidos para o bólido de Rosberg, enquanto outros cinco tomaram o caminho contrário. A decisão definitivamente não agradou Lewis. A equipe, por sua vez, argumentou que tomou tal medida para evitar que o time virasse em frações, e para que todos trabalhassem em um prol único. O inglês nunca revelou tal motivo, mas afirmou, à época, que revelaria em sua futura autobiografia.

Na abertura da temporada, na Austrália, o primeiro golpe. Hamilton foi pole, mas uma largada péssima fez o inglês cruzar a primeira volta apenas no sexto lugar. Nico também teve problemas no início, mas o acerto da estratégia colocou o alemão à frente de Vettel na reta final. Lewis marchou para um segundo posto, apesar de tudo, mas começou a temporada atrás do rival.

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O W07 foi o carro mais dominante da Mercedes na F1 (Foto: Reprodução)

No Bahrein, mais problemas. Largou de segundo, mas se envolveu em um acidente com Valtteri Bottas, de Williams, logo na primeira curva, perdendo posições. Remou até o terceiro lugar, enquanto Rosberg venceu mais uma. Já eram 17 pontos de frente para o alemão. Já na China, a confiabilidade começou a virar vilã do então tricampeão: sequer participou da classificação com problemas de motor. Largando de último, foi apenas sétimo.

Duas semanas depois, o mesmo problema no turbo charger da Mercedes impediu que o inglês participasse do Q3 na Rússia. Largando de décimo, conseguiu marchar até o segundo lugar. Mas Rosberg já tinha quatro vitórias seguidas para abrir a temporada com 43 pontos de distância para o rival, que amargava um curioso e improvável jejum para quem tinha dominado 2015.

Na Espanha, veio o ponto principal de ebulição. Hamilton saiu da pole, mas em nova largada péssima, viu Nico tomar a ponta em Barcelona. Ainda na primeira volta, o inglês tentou retomar o primeiro posto, mas fechado pelo alemão, parou na grama e, sem controle, atingiu o companheiro de equipe. Ambos fora da corrida, vencida pelo jovem Max Verstappen.

“Não foi o caso de que uma porta estava fechada e eu decidi passar pela grama. Vi uma brecha e fui nela. É o que pilotos de corridas fazem. Na minha visão, eu larguei bem. Peguei vácuo na curva 1, e, na 3, estava bem mais rápido que Nico. Ele estava no modo errado do motor, e eu não. Estava ganhando sobre ele em um ritmo decente”, comentou Lewis à época.

O controverso acidente entre Hamilton e Rosberg (Foto: Sky Sports)

O acidente de Barcelona, que foi o mais grave de toda a rusga entre as partes, quase motivou até a saída de Lewis, que ficou inconformado pelo fato da Mercedes não colocar a culpa também nos ombros de Rosberg. Antigo consultor da Mercedes, Niki Lauda revelou a informação um ano depois, em 2017, divulgando também que teve uma conversa particular com Lewis em Ibiza, convencendo o inglês da permanência.

Atrás até de Kimi Räikkönen no campeonato, Hamilton puxou a reação no chuvoso GP de Mônaco. O britânico foi melhor em todos os momentos onde foi necessário trocar pneus, viu Rosberg sofrer com problemas de freio e ainda contou com o azar extremo de Daniel Ricciardo, da Red Bull, que dominou o fim de semana, mas foi chamado aos boxes sem a equipe pronta para colocar os novos compostos. Fim do jejum de Hamilton e um bom golpe no rival Nico, derrubando a distância para 24 pontos.

Partindo para o Canadá, Lewis voltou a largar da pole, mas foi surpreendido por Vettel, que saiu de terceiro para a ponta ainda na primeira volta. Se poderia ser um dia mais complicado para o inglês, melhorou muito quando Jenson Button abandonou. O safety-car virtual foi acionado e a Ferrari errou ao chamar Vettel para os boxes. Vitória de Hamilton, com o modesto Rosberg em quinto: a distância passou a ser de 9 pontos.

Partiram então para a primeira visita da Fórmula 1 ao Azerbaijão. Porém, uma água no chope da reação de Lewis. O piloto bateu sozinho na curva 10 durante a classificação e foi forçado a largar apenas em décimo. No domingo, foi modesto e se recuperou apenas ao quinto posto, enquanto Rosberg aumentou a vantagem novamente. A distância voltava a ser de 24 pontos.

Lewis Hamilton acertou muro em Baku (Foto: Mark Thompson)

“Não teve nada a ver com mais ninguém, foi só por não estar indo bem o suficiente. Estava 0s4 à frente nas duas voltas, então não há dúvidas se eu estava mais rápido. A curva anterior estava boa, eu só virei muito cedo. Foi um toquezinho muito sutil, mas foi o suficiente para parar a volta”, declarou Lewis sobre o acidente.

O GP da Áustria marcou um novo ponto de ebulição. Hamilton largou da pole, enquanto Rosberg partiu de sexto. O inglês dominou as primeiras voltas, mas a entrada do safety-car após o acidente de Vettel, unido com erros da Mercedes no pit-stop, colocou Nico na liderança. Uma nova vitória do alemão seria brutal na briga pelo título, mesmo com 12 provas restantes.

Lewis remou, remou e preparou um ataque na última volta. Rosberg tentou fechar a porta na curva 3 e causou uma colisão. O inglês se deu melhor e saiu com a vitória, enquanto o alemão amargou o quarto lugar e ainda recebeu uma punição. “Até onde sei, eu estava na frente, então não tenho muita certeza. Deixei muito espaço. Não tentei fechá-lo ou algo assim. Fui direto para a linha branca. Estava na linha de corrida, ele estava no meu lado cego, presumi que ele estava lá. Fui muito aberto e, quando comecei a virar, estava no limite da curva e ele colidiu comigo”, descreveu Hamilton.

Correndo em casa e com chuva, Lewis não teve dificuldades para vencer o GP da Inglaterra, reduzindo a vantagem para apenas 1 ponto. Na Hungria, outra pista em que é especialista, desbancou o rival na largada para receber a quadriculada em primeiro novamente. Com 3 vitórias seguidas, assumia a liderança do Mundial pela primeira vez após um início tortuoso. Na casa de Nico e da Mercedes, em Hockenheim, outro triunfo, e mais uma vez com o adversário sob pressão ao chegar apenas em quarto depois de sair da pole.

Lewis Hamilton saiu ileso do toque de Nico Rosberg para vencer na Áustria (Foto: Mercedes)

No momento em que Hamilton mais estava leve no campeonato, voltou a conviver com um dos principais inimigos da temporada: a confiabilidade. Logo na primeira corrida após as férias de verão, na Bélgica, precisou largar de 21º após trocar todos os componentes de motor. Ainda foi terceiro, mas a vitória de Rosberg deixou a distância em 9 pontos. Na Itália, outro velho inimigo apareceu: a largada ruim. Foi atropelado pelo alemão, caiu para sexto e precisou se recuperar ao segundo lugar. A vantagem seguiu caindo.

O terço final do Mundial começou em Singapura e com outra porrada no tricampeão. Rosberg venceu mais uma vez e retomou a liderança, já que Lewis foi apenas terceiro e então estava 8 pontos atrás. Porém, a corrida seguinte, na Malásia, foi do golpe mais duro de todo aquele ano.

Hamilton largou da pole-position. Rosberg não partiu tão bem e levou um toque de Vettel, rodando e caindo para as últimas posições. Lewis dominou a prova enquanto Nico precisava se recuperar e até foi punido por um choque com Räikkönen. Com 15 voltas para o fim, o inesperado aconteceu: o motor Mercedes estourou. A reação do inglês com o abandono entregou tudo: as chances diminuíram muito, praticamente acabaram ali. 23 pontos de vantagem para Nico.

Piorou também quando o alemão levou o GP do Japão e Lewis foi apenas terceiro, preso atrás de Verstappen: 33 pontos de diferença com quatro corridas para 2016 acabar. Nos Estados Unidos e no México, cenários parecidos: vitórias tranquilas do tricampeão com o rival apenas administrando o segundo lugar. Eram 19 tentos com dois GPs restantes.

A quebra na Malásia que decidiu o campeonato (Foto: Reprodução)

Em Interlagos, talvez tenha sido a maior chance de Hamilton. O inglês deu uma aula de pilotagem tranquila na chuva torrencial, enquanto Nico, mais conservador, chegou a perder o segundo lugar para Verstappen. Porém, aquela famosa rodada do neerlandês na Curva do Café, evitando o choque com o guard-rail, devolveu o alemão ao segundo posto. Para a batalha final, em Abu Dhabi, os dois foram separados por 12 pontos.

Hamilton dominou em Yas Marina, mas precisava de mais para conquistar o título. Rosberg esteve em segundo em boa parte da corrida, surpreendido apenas por um Verstappen, que depois de sofrer um incidente nas primeiras voltas e cair para último, optou por alongar o stint e virou uma ameaça ao alemão, que o passou em pista.

Nas voltas finais, não tinha outra estratégia para Lewis, que surpreendeu. Baixou o ritmo para que Nico pudesse se aproximar, mas também Vettel e Verstappen chegassem para a briga. Mesmo com a Mercedes desesperada para que o inglês voltasse a andar rápido, não acatou a ordem. Sebastian até tentou surpreender Rosberg, mas sem sucesso. 5 pontos renderam o primeiro título mundial do alemão.

“Não acredito que fiz nada de perigoso ou feito algo injusto. Estávamos brigando pelo campeonato, eu estava na liderança, então controlei o ritmo. Essas são as regras. Esperava que Vettel pudesse se aproximar mais, mas seus pneus estavam se desgastando muito perto do fim e Nico pilotou bem para não cometer nenhum erro”, descreveu Hamilton quando questionado sobre a polêmica tática nas voltas finais da corrida.

O ano intenso e traumático terminou também com o inglês sem a chance de responder o título de Rosberg na pista. De forma surpreendente, o alemão anunciou a aposentadoria aos 31 anos de idade, alegando que tinha chegado ao ápice da carreira e não queria ver a atrofia das habilidades. Qualquer desejo de uma ruptura acabou passando para o inglês, que iniciou uma parceria com Valtteri Bottas, trazendo maior harmonia para o ambiente da Mercedes e emendando uma nova sequência de títulos nos anos seguintes.

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