Coluna Apex, por Andre Jung: A morte pede carona

Não se deve esperar outra morte para agir e, nesse domingo, uma tragédia que teria uma proporção similar deixou de acontecer por apenas um palmo


(Ilustração: Marta Oliveira)

O hiato de um mês, provocado pelas férias de verão da F1, chegou ao fim e, assim, o (cada vez menor) grande público amante da velocidade pôde aplacar sua sede de Grandes Prêmios com o GP da Bélgica em Spa, aquele que para muitos é o mais belo circuito da categoria.

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O acidente na largada, outra vez protagonizado por Romain Grosjean, além de provocar uma justa punição ao imprudente piloto franco-suíço, também deve acender um sinal de alerta no gabinete que sanciona as normas de segurança na F1.

As imagens impressionantes que correram o mundo mostraram o Lotus de Grosjean passando a um palmo da cabeça de Fernando Alonso, salvo por um triz do acidente fatal. Tivesse havido a tragédia, a categoria estaria de cabeça para baixo, em busca de medidas urgentes para aumentar a segurança dos circuitos e dos carros.

Três anos atrás, o filho do campeão de 1964, John Surtees, jovem promessa na F2, morreu instantaneamente ao ser atingido na cabeça, por um pneu que havia se soltado de um carro acidentado.

Como em categorias menores, o impacto na opinião pública é muito pequeno, esse trágico acidente pouco influiu nos padrões de segurança das demais categorias de monopostos. Todos se lembram como o trauma mundial que se sucedeu à morte de Ayrton Senna causou uma reviravolta, que gerou mudanças profundas nos carros e nas pistas, o que tem ajudado a F1 a não produzir nenhuma outra vítima fatal desde aquele 1º de maio de 1994.


No entanto, não se deve esperar outra morte para agir e, nesse domingo, uma tragédia que teria uma proporção similar deixou de acontecer por apenas um palmo.

O próprio Felipe Massa escapou de uma morte muito parecida como a que teve nosso tricampeão. O que já deveria ter desencadeado um movimento definitivo para proteger as cabeças dos pilotos de impactos com detritos, outros carros ou outros aparatos espalhados pelos circuitos.

A tecnologia que criou as carlingas dos aviões de caça já vem sendo testada há um bocado de tempo e não precisamos assistir outra tragédia para que sua adoção se mostre necessária. 

Outra questão que devemos considerar, dessa vez a favor do piloto da Lotus, é que a proibição de treinos durante a temporada não contribui para que os jovens pilotos façam a milhagem necessária para poder lidar com as pressões de forma mais autoconfiante.

Está claro que, diante do equilíbrio atual dos carros, diversos novatos tem participado de disputas roda a roda com os pilotos de ponta, e tanto Grosjean, quanto Maldonado, tem sido pródigos em provocar problemas para os favoritos. Conseguem andar na frente, mas causam um número de acidentes sem precedente.

Acho que um pouco da responsabilidade pelos desastres que os dois têm proporcionado recai na ausência de quilometragem, somada à necessidade de testar novos componentes no restrito tempo de preparação que envolve cada GP.

Na prova, Button lembrou o piloto dominante de 2009, quando a bordo de um carro inovador, conquistou várias corridas de ponta a ponta. Uma excelente volta das férias para alguém que enfrentava uma profunda crise de performance e resultados.

O big one de Grosjean tirou de Alonso um empate certo com Schumacher no recorde de corridas seguidas a pontuar, uma grande injustiça com o espanhol, mas, por outro lado, ótima notícia para todos que temiam ver a disputa pelo título acabar muito antes da hora.

Vettel aproveitou a oportunidade e descontou um caminhão de pontos de uma só vez e, embora outros possíveis desafiantes também tenham pontuado, com destaque para Raikkonen, é razoável prever que o alemão será o adversário principal do espanhol nessa segunda parte da temporada.

Como eu tenho uma certa mania de relacionar pilotos do presente à ases do passado, encontrei no sueco Ronnie Peterson, o paralelo para Kimi Raikkonen. Os dois nórdicos tem no dom e na personalidade suas características mais marcantes, e acho que a Lotus de hoje tem um piloto digno daquele que barbarizava na Lotus de ontem.

Enquanto isso…

… deu dó a expressão de Monisha Kaltenborn ao ver o carro de Kamui Kobayashi fumaçando na primeira fila do grid… 

… imagino qual deve ter sido sua expressão ao ver que em poucos metros, Sérgio Perez, que largava na segunda fila, marcando a melhor classificação  da equipe na temporada, também seria alijado da prova…

… chega a ser surreal o esforço do narrador da TV para levantar a bola de Felipe Massa, o público, que não é bobo, sabe avaliar quando um piloto vai bem ou vai bem mal…

… a sugestão de título e argumento para essa coluna (em 2012 sempre com nomes de filmes), partiu de Alessandro Bisetto, parceiro de trabalho que compartilha o interesse pelos carros e corridas.

 

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