Coluna Apex, por André Jung: E agora, Brasil?

A saída de Felipe Massa da Ferrari acendeu uma forte luz amarela: em 2014 poderemos ter a primeira temporada de F1 sem um brasileiro desde 1970

 
Lá longe, no começo de 1970 (o Brasil nem tinha faturado a pobre da Jules Rimet), meu pai achou bacana levar os filhotes, Andrezinho e Paulinho, para ver a reinauguração do Autódromo de Interlagos, fechado para reformas desde 1967.

Ainda não tinha completado oito anos, e ali, naquela atmosfera fascinante,  pude ver de perto o esporte que já acompanhava nas revistas Quatro Rodas que minha mãe, então artista gráfica na Editora Abril, trazia pra casa.

Luiz Pereira Bueno, Ricardo Achcar e um certo Emerson Fittipaldi eram nossas estrelas. Poucos meses depois, em 19 de Julho, esse mesmo Fittipaldi estrearia na F1, numa primeira temporada em que fez apenas cinco provas… E ganhou uma.

(Ilustração: Marta Oliveira)

Esse sucesso súbito e impressionante não era fruto de um espasmo solitário. Havia, naquela época, um número expressivo de grandes talentos do volante em nosso país. Luizinho, acima citado, Bird Clemente, Toninho da Matta, Ricardo Achcar, Jaime Silva, Marivaldo Fernandes, além de José Carlos Pace e Wilsinho Fittipaldi – que já estavam nos passos de Emerson – eram pilotos formados no automobilismo brasileiro, e não deviam nada aos melhores de então.

Jackie Stewart, bem humorado, chegou a se perguntar, impressionado com a qualidade dos brasileiros que invadiam as pistas do Velho Continente, se o nosso segredo vinha da água que se bebia por aqui. Não era a água, era da vitalidade das nossas competições, capazes de gerar pilotos refinados, velozes, com grande conhecimento técnico.

Cresci vendo esses ases. Emerson, Moco, Luizinho, Ingo, Nelson, barbarizando nas pistas, aqui e no mundo afora. Não raro tínhamos o prazer de ver nossos pilotos de F1 correndo em casa, fossem em protótipos, carros de turismo ou de outras fórmulas.

O sucesso de Ayrton marca um novo “plano de carreira”, diferente de seus antecessores. Senna, ao sair do kart, foi direto para a Europa, só conhecendo nossas pistas quando aqui voltou, já como piloto de F1. Senna nunca correu em nenhuma categoria nacional.

Um presságio. Arruinado por péssimas administrações, nosso automobilismo acabou por perder o papel formador, tornou-se refém das disputas de carros turismo e, pasmem, caminhões. Enquanto nossos pilotos venciam e convenciam, aqui andávamos para trás em passos largos.

Não são poucos na imprensa que escreveram para comentar o quadro desolador que nos aguarda caso essa toada permaneça. Sem formar pilotos em nosso quintal, dependemos mesmo do surgimento de um superdotado, técnica e financeiramente, que faça sua formação na Europa, e por acaso, seja nascido em Pindorama.

A saída de Felipe Massa da Ferrari acendeu uma forte luz amarela: em 2014 poderemos ter a primeira temporada de F1 sem um brasileiro desde 1970. Nada de fundamental vai mudar por conta disso. A França, com muito mais tradição nas pistas do que o Brasil, passou alguns anos sem piloto na categoria e seus governos não caíram, aqui também deve ser assim.

No entanto existe, o big business envolvido, que inclui TV, Prefeitura, FIA e um número grande de corporações empresariais, esse sim vai sentir um forte impacto, e é ai que se concentram esperanças que uma vaga seja encontrada para algum Felipe; Massa ou Nasr.
 
Enquanto isso …

…com dedicação, Hülkenberg vai demonstrando que é possível chamar atenção mesmo ao volante de um carro ruim, como esse Sauber de 2013…

…ao que parece, foi Alonso, ao acenar para a Red Bull, que colocou Kimi Raikkonen na mira da Ferrari…

…que, numa tacada tirou o finlandês do time energético, e também tirou o espanhol da zona de conforto.

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