Coluna Apex, por Andre Jung: Outsider

Outsider, autêntico e reservado, Kimi Räikkönen é sempre notícia, não por fazer força para parecer, mas porque seu comportamento traz sempre algo de inusitado, dos que não fazem média com ninguém. O mais ‘rock’n roll’ dos pilotos representa nas pistas a redenção da irreverência, a vitória da boêmia

E lá vamos nós para mais uma temporada, que se inicia com os ingredientes certos para ser eletrizante. Os carros, que esse ano fazem a despedida dos V8 aspirados, aparentam bastante equilíbrio e, apesar da quantidade de pilotos pagantes, as grandes estrelas permaneceram, o que deve garantir boas disputas durante o campeonato.

Para colocar mais pimenta, Kimi Räikkönen, vencedor inconteste na Austrália, desponta como aspirante real ao título, trazendo consigo a atual equipe Lotus ― a mesma que um dia foi Benetton e outro Renault ― de volta ao palco dos protagonistas.

(Ilustração: Marta Oliveira)

Várias qualidades são necessárias para forjar um campeão, mas cada um deles as combina em proporções particulares. Dessa forma, podemos atribuir uma qualidade predominante ao caráter vencedor de cada personagem: Senna era determinado, Prost era cerebral, Piquet era astuto, Mansell, corajoso, e por aí vai. Em Kimi Räikkönen o que transborda é a autoconfiança.

Para o Iceman nada, nem ninguém, abalam sua convicção de que o melhor piloto daquele bando é ele. Autoconfiança que já se manifestava desde antes da sua temporada de estreia. Nenhum outro campeão chegou lá com tão pouca quilometragem: apenas 22 corridas de F-Renault foram necessárias para que Peter Sauber visse naquele jovem finlandês um futuro campeão.

Se muitos jovens pilotos surpreendem por sua velocidade nas categorias de base, a impressionante autoconfiança foi o diferencial que convenceu o suíço de que Räikkönen, com tão pouca experiência, estava pronto para a categoria máxima. A mesma autoconfiança que o faz enfrentar os protocolos da F1 e que o libera para agir de pleno acordo com suas convicções.

Grande piloto na McLaren, foi na Ferrari, entretanto, que ele veio a conquistar seu título mundial, embora seu espírito libertino(acho que não é exagero dizer) não estivesse feliz dentro da estrutura sisuda e exigente da corporação de Maranello. Pouco à vontade, acabou por concluir seu contrato fora do circo, numa separação sobre a qual quase nada se ouviu de sua boca. Seguro, Kimi Räikkönen não precisava dar explicações a ninguém.

Os finlandeses são pouco mais de cinco milhões e meio de habitantes num grande território, onde o gelo, a terra e o asfalto, em estradas vazias, proporcionam alguns dos melhores motoristas do planeta.

Assim, fora da F1, Kimi foi se divertir andando de rali, prática rotineira e tão vitoriosa da Finlândia. E, curioso, chegou a experimentar a Nascar. Tempo para vencer o contrato com a Ferrari e reconstruir pontes para seu retorno à F1.

Se ele ia conseguir? Duvido que duvidou. É verdade que na primeira fase da temporada passada apresentou sinais de alguma ferrugem durante as classificações, chegando a ser superado em diversas ocasiões pelo veloz Romain Grosjean, mas ele nunca temeu o confronto com o jovem rival e em pouco tempo fez valer a força do seu talento, intacto como sua confiança.

Outsider, autêntico e reservado, Kimi Räikkönen é sempre notícia, não por fazer força para parecer, mas porque seu comportamento traz sempre algo de inusitado, dos que não fazem média com ninguém. O mais ‘rock’n roll’ dos pilotos representa nas pistas a redenção da irreverência, a vitória da boêmia.

O pódio da Austrália trouxe os mesmos três que terminaram na frente em 2012, um indicativo de que devem ser eles os pilotos que vão decidir o título de 2013. Hamilton deve dar trabalho aqui e ali, mas a Mercedes ainda não será capaz de fazê-lo campeão. De todo modo está melhor do que estaria na McLaren, que começa o ano perdida com a lentidão de seu carro.

Massa recuperou muito de sua velocidade e agora precisa de uma vitória para refazer de vez sua reputação. Coisa que hoje volta a ser possível.

Enquanto isso…

…Adrian Sutil volta, lidera pela primeira vez, não comete erros e proporciona uma visibilidade inédita para a Force India…

…razão provável para que a equipe não permitisse que Paul Di Resta ultrapassasse o alemão, que se debatia sobre os desgastados pneus super macios nas voltas finais…

…e o descartado Jules Bianchi fez saltar aos olhos o quanto um piloto de verdade faz diferença, quando comparado aos rivais pagantes da Marussia e da Caterham.

 

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