Coluna Apex, por Andre Jung: Questão de ordem

Mas a troca de informações não parou em detalhes relativos ao funcionamento da máquina. Os controlad . . .ops, engenheiros, passaram a orientar até mesmo a pilotagem, indicando como frear em tal curva, como melhorar o contorno do trecho “x”, ou qual ajuste fazer para aumentar a chance de fazer uma ultrapassagem.

Felipe Massa e as ordens de equipe: uma longa história, pontuada por episódios polêmicos. Há coisa de dez dias, ao comentar as orientações que as equipes dão aos pilotos para o gerenciamento do equipamento, Felipe dizia que esse tipo de mensagem sempre ocorreu e que o fato novo é que o público agora toma conhecimento.
 
Os carros atuais precisam ter seu rendimento médio otimizado por uma série de parâmetros. Se exigir muito em poucas voltas, vai pagar mais adiante. Nessa conta entra o desgaste de pneus, o consumo de combustível, o recarregamento do sistema elétrico, a temperatura dos freios, e assim por diante. Como são muito complexos, não basta entender de mecânica ou ter bom ouvido para perceber qual deve ser o melhor modo de garantir um carro bom por toda a prova. É aí que entram os engenheiros que, de posse de uma infinidade de dados oferecidos pela telemetria, avisam que tal botão deve ser colocado em “A4”, o outro passar para a posição “verde" e mais um “meia volta” para a direita. Os pilotos vão se assemelhando aos seus colegas aeronáuticos e os engenheiros vão se tornando controladores de voo.
 
Mas a troca de informações não parou em detalhes relativos ao funcionamento da máquina. Os controlad . . .ops, engenheiros, passaram a orientar até mesmo a pilotagem, indicando como frear em tal curva, como melhorar o contorno do trecho “x”, ou qual ajuste fazer para aumentar a chance de fazer uma ultrapassagem.
 
Hoje, em meio aos tantos dilemas que passa a categoria, não deixa de ser mais uma fonte de ruído esse envio constante de orientações que induzem o espectador à impressão de que os pilotos de hoje são inferiores aos do passado, meros cumpridores de ordens, sem autonomia e compreensão para cuidarem sozinhos de suas decisões.
A Williams acertou nas mensagens de rádio para Massa e Bottas (Ilustração: Marta Oliveira)
Voltando ao Felipe: no início da carreira, tomou um ducha fria de Peter Sauber ao desobedecer o patrão sem se preocupar com as consequências. O episódio custou um ano sabático ao jovem brasileiro, que voltou a trabalhar como piloto de testes da Ferrari.
 
Depois veio o famoso “Alonso is faster than you”, que nos fez reviver o fantasma de Barrichello na Áustria com toda intensidade, e mostrou ao mundo quem era o favorito em Maranello. Ano passado, ainda na terceira prova na Williams, Massa voltou a enfrentar o pedido lamentável de dar passagem ao companheiro, acompanhado de um traumático “Bottas is faster than you”, dessa vez respondido com uma providencial banana.
 
Felipe está certo quando diz que a veiculação das mensagens de equipe para o público é o grande diferencial em relação à década de 80, quando os carros já tinham comunicação com os boxes. As mensagens muitas vezes “confessam" a postura das equipes, suas preferências  e seu estado de ânimo com seus contratados.
 
Essa transparência funciona através de uma vazamento seletivo. Das centenas de mensagens transmitidas ao conjunto de pilotos da corrida, somos brindados, ao longo da prova, com algo em torno de uma dúzia delas, escolhida por gente que não sabemos quem é, com critérios que desconhecemos.
 
Desta feita, as mensagens foram favoráveis a Massa, mas não agradaram os interesses imediatos de Bottas. Para além da discussão interna da equipe, o assunto tornou-se notícia e a imprensa da Finlândia certamente não deve ter reservado adjetivos simpáticos aos dirigentes da Williams.
 
Se Valtteri tivesse um desempenho melhor com os pneus duros, teríamos uma avalanche de críticas ao time, mas o brasileiro terminou com boa vantagem e as razões do finlandês perderam densidade.
 
Pessoalmente, acho que a maior velocidade de Bottas naquele instante devia-se ao DRS e que a equipe fez o correto. A prova estava no início, os dois carros lideravam, ou seja, deixá-los entrar em disputa, naquela fase da prova, era uma temeridade. A forma com que eles conseguiram conter as Mercedes enquanto o asfalto estava seco também sugeria que uma provável ultrapassagem aconteceria em condições críticas ou se Massa permitisse.
 
Quanto aos erros da Williams, certamente não tiveram a influência que se atribui a eles no resultado final. Ainda que a equipe tivesse chamado Felipe uma volta antes, para a última parada, o desempenho de Vettel no molhado o faria tomar o terceiro lugar do brasileiro na pista sem dificuldade.
 
Enquanto isso …
 
… inegável virtude, Massa volta a se destacar como grande largador . . .
 
… revigorado pela brilhante vitória em Le Mans, Hülkenberg volta a brilhar, agora em Silverstone . . .
 
… nada dá certo para Kimi Räikkönen (como diria um certo locutor: que fase!).
 
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