Coluna Apex, por Andre Jung: Surpresas e decepções

A tecnologia dos novos motores superou as expectativas, gerando potência e torque superiores aos V8 beberrões. Mas hoje os carros não podem andar no seu limite: o gerenciamento constante de pneus e combustível, leva os pilotos a correrem em uma espécie de velocidade de cruzeiro

Um ano atrás, ao término do campeonato 2013 — (e da era V8 —, eu estava incomodado com dúvidas à respeito do novo regulamento. Números hipotéticos, pinçados aqui e ali, apontavam que teríamos carros bem mais lentos. A ver: menos potência — estimava-se 600hp que iriam a 760hp com o acionamento do ERS — maior peso, pneus mais duros, menos downforce e muito menos combustível para queimar, uma equação que iria fazer os F1 andarem em ritmo próximo aos carros da GP2.

Os primeiros testes ainda não eram suficientes para fornecer um panorama mais claro, mas, assim que as corridas começaram, esse fantasma foi afastado. Ao final da temporada, mesmo com o handicap de peso, pneus, aerodinâmica e combustível os F1 já tinham recuperado performance e encostavam nos tempos de 2013 — em Austin e em Interlagos foram mais rápidos.

A tecnologia dos novos motores superou as expectativas, gerando potência e torque superiores aos V8 beberrões. Mas hoje os carros não podem andar no seu limite: o gerenciamento constante de pneus e combustível, leva os pilotos  a correrem em uma espécie de velocidade de cruzeiro, fato que que despertou a ira de Sebastian Vettel, franco ao dizer que não considera essa forma de pilotar “corrida de verdade”.

(Ilustração: Marta Oliveira)

O múltiplo campeão mais jovem de todos os tempos, a caminho de bater todos os recordes, foi a grande decepção de 2014. Não se adaptou ao modo de pilotar dos novos carros e foi completamente dominado pelo jovem parceiro de equipe.

Num mundo em que a ênfase nos adjetivos tornou-se um importante artifício, Vettel foi de “gênio” a “banana" antes da metade da temporada. De quebra, seu parceiro conquistou as três únicas vitórias que não couberam às Flechas de Prata.

Assim como em 2009, uma grande mudança de regulamento favoreceu quem conseguisse um pulo do gato. Naquela ocasião, o difusor duplo que Ross Brawn conseguiu encaixar nas brechas do regulamento; desta vez, a  esperteza foi a separação do turbo e do compressor, sacada que deu mais potência aos carros da Mercedes, melhor distribuição de peso, menos consumo e menos arrasto.

Com tamanha superioridade, ficamos a ver mais um campeonato de uma só equipe, coisa que vimos antes com McLaren, Williams e Ferrari. Ainda bem que a Mercedes deixou seus pilotos duelarem abertamente até a última prova.

Abu Dhabi, com os pontos dobrados, guardou um suspense que acabou por se dissipar com os resultados que não trouxeram nenhuma reviravolta, preservando, nos dois campeonatos, as posições que estavam mantidas até ali.

Reviravolta mesmo foi o que aconteceu com a Williams. A nova casa de Felipe Massa saiu do pior ano de sua gloriosa história para voltar a ser presença constante nos pódios, pontuando em todas as corridas da temporada. Sorte para nós brasileiros que assim garantimos mais um ano com um brasileiro correndo por uma equipe importante. Credito à Williams o posto de melhor surpresa deste ano de 2014.

Interessante a disputa entre os dois protagonistas, que durante a temporada trocaram os papéis que se esperava de cada um: o velocíssimo Hamilton, comparado a Ayrton Senna pela capacidade de extrair tudo do carro em uma volta rápida, foi inquestionavelmente superado por Rosberg nos treinos. Já o alemão, que teria na “força mental” seu grande trunfo para superar o inconstante inglês, sucumbiu à pressão, cometendo erros em sequência quando não podia. Rosberg foi o velocista, e Hamilton, o constante.

Algumas provas épicas marcaram essa temporada, fazendo com que os detratores do novo regulamento fossem contidos, no entanto a F1 segue perdendo público, enfraquecida, talvez, pela péssima imagem do automóvel nos dias de hoje.

O som — ou a falta dele — dos novos carros permaneceu uma polêmica até o final. Bernie Ecclestone, Vettel, e uma boa parte dos fãs em todo o mundo, detestaram a mudança. Os novos motores conseguem a proeza de andar no mesmo ritmo com apenas dois terços do combustível gasto no ano passado, mas esse aspecto técnico relevante tem baixa repercussão na emoção da platéia.

Enquanto isso…

…com o calendário 2015 colocado, resta saber como a F1 vai entrar na pista…

…três carros por equipe pode ser uma saída, mas não será uma solução…

…a Ferrari aparece como a grande incógnita, sem uma liderança clara, com Vettel em crise, e Räikkönen em fim de carreira, o prognóstico não é bom…

…a Apex vai descansar, ano que vem nos vemos.

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