Eu tentei, juro que tentei. Eu não queria escrever essa falando sobre os famigerados pneus Pirelli. Eu não queria, mesmo. Mas, se não isso, sobre o que falar? Os último dias pós GP de Mônaco foram dedicados quase que com exclusividade ao assunto, no que se diz respeito à F1. A notícia de um teste secreto feito pela Pirelli em conjunto com a Mercedes pegou todos de surpresa, levantando várias questões e criando boas polêmicas.
Todas as outras dez equipes protestaram veementemente, dizendo que aquilo era um absurdo e tudo mais. Utilizando o carro de 2013 e os pilotos titulares da escuderia, Nico Rosberg e Lewis Hamilton, a Mercedes supostamente levaria uma vantagem com esses testes. Isso se agrava com fato da equipe ter a reputação — merecida — de ter o carro que mais consome a borracha, e então, logo na corrida seguinte a esse teste secreto, ela vence sem ter que lidar com qualquer tipo de problema no trato dos compostos.
“Significa” diria o outro. Mas não, não significa, diria eu e qualquer que sabe juntar dois fatos em uma linha de raciocínio lógico. O Principado tem notoriedade como a pista mais carinhosa com os pneus, é o traçado que não maltrata a borracha. Daria para fazer uma parada sem muitos sacrifícios, veja só. Perto dos quatro pit-stops vencedores da Ferrari na Catalunha, por exemplo, seria uma pechincha. Soma-se a isso a questão das entradas do Safety Car — que diminui o ritmo dos carros e, por consequência, o desgaste dos pneus — e uma bandeira vermelha que possibilitou uma troca de pneus gratuita, digamos assim.
As condições da corrida foram perfeitas para o time alemão, uma vitória até certo ponto fácil, com tudo dando certo no quesito “pneus”.
Pneus, sempre eles, os pneus.
Dizer que eles são os protagonistas da temporada é chover no molhado, fala algo que qualquer símio já percebeu. Em sites e jornais, o nome de Paul Hembery é mais comumente citado do que de Sebastian Vettel, Fernando Alonso, Kimi Raikkonen e companhia. Eu não consigo enxergar isso como certo. Não há apenas uma “atenção especial” quanto aos pneus. A atenção é total, sendo os pneus as grandes estrelas do show. Não, está errado. Está errado.
Uma semana antes do tão esperado GP da Canadá, estamos aqui discutindo sobre pneus, e testes de pneus, e pneus novos, e pneus para o ano que vem e, veja, só se fala em pneus! Coisas que fariam certo barulho, normalmente, passam quase em branco. A adoção dos motores Mercedes por parte da Williams para o ano que vem, por exemplo, nem foi um assunto tão comentado. Estávamos preocupados com (oh!) a polêmica do teste de pneus da mesma Mercedes em Montmeló.
Essa não é a F1 que eu quero acompanhar. Infelizmente. Sinto-me cada vez mais atraído por outras categorias — Indycar, DTM, WEC, etc. Ainda que eu esteja exagerando, e eu espero estar, a situação está crítica e precisa ser revista. Ano que vem haverá um novo regulamento e, se os compostos novamente roubarem a cena, seria um anticlímax total. Só espero não estar daqui um ano escrevendo um texto sobre motores, e como eles comandam a F1, pedindo de volta a polêmica dos pneus.
Quem é Douglas Borges? De São Carlos, cresceu vivendo o automobilismo e espera continuar a fazer isso por muitos anos. Cursando a segunda série do Ensino Médio, é fã convicto de Red Hot Chili Peppers e Force India. Lamentou amargamente a morte de Dan Wheldon, um ídolo desde sempre. Trabalha com os pais, mas pretende seguir a carreira de jornalista em um futuro não muito distante. Escreve também para o Blog Sexta Marcha.