Coluna Rookie Text, por Vitor Fazio: Black Jack

Hoje, soa ridículo imaginar Vettel largando a Red Bull para fundar e pilotar a Vettel Racing Team, uma equipe sem estrutura e dinheiro. Pois foi exatamente o que Brabham fez: largou um time grande que passava por momentos difíceis para começar tudo do zero

O automobilismo ficou menor neste final de semana. Todas aquelas histórias românticas e épicas dos anos 50 e 60 perderam um pedaço, um personagem importante. Jack Brabham se foi, o esporte a motor já não é mais o mesmo.
 
Jack Brabham não era grande só porque foi o primeiro australiano a ter sucesso na Europa. . Não era importante só porque foi o melhor piloto da era pós-Fangio. Não era importante só porque foi o primeiro piloto a ser condecorado por um chefe de estado. Não era importante só porque foi o primeiro – e provavelmente último – louco que teve sucesso ao exercer os cargos de piloto e chefe de equipe ao mesmo tempo. Ele era importante porque era tudo isso ao mesmo tempo. Brabham reunia tudo que há de melhor no mundo dos elogios e adjetivações. Se Senna e Schumacher eram  pilotos excelentes e Ferrari e McLaren são equipes gigantes, Brabham era tudo isso em um só.
 
Se você ainda não percebe a grandeza desses atos, exemplifico. Hoje, soa ridículo imaginar Vettel largando a Red Bull para fundar e pilotar a Vettel Racing Team, uma equipe sem estrutura e dinheiro. Pois foi exatamente o que Brabham fez: largou um time grande que passava por momentos difíceis para começar tudo do zero. Foi um trabalho de formiga: de pouco em pouco, uma equipe que não tinha nada virou um bicho papão da segunda metade dos anos 60.
Jack Brabham morreu aos 88 anos na Austrália (Foto: Getty Images)
Jack sabia que esse processo ia lhe custar as vitórias de uma equipe estabelecida, mas ele não se importava. Já tinha dois títulos no bolso e uma equipe 100% australiana seria algo realmente inigualável, tão difícil que era (Emerson Fittipaldi, melhor exemplo, tentou e não conseguiu). O cruel e competitivo mundo dos esportes mostrou gentileza ímpar ao aussie. Como mágica, quase tudo que envolvia o nome Brabham tendia ao sucesso. Quase.
 
O único desgosto que o esporte lhe deu foi ver seus filhos falhando na F1. Viu Gary se arrastar pela lamentável Life e David tentando milagres com uma Brabham. Sim, o legado da equipe se estendeu à segunda geração da família. Mas já não era mais o mesmo time: aquela antiga equipe tinha sido vendida a Ron Tauranac, depois a Bernie Ecclestone e, passando de mão em mão, virou uma equipe de fundo do grid. Aliás, esse deve ter sido o segundo e último desgosto.
 
Em 2010, já com idade avançada, Jack foi até o Bahrein. Era a comemoração dos 60 anos da Formula 1 e a grande maioria dos campeões mundiais estavam presentes. Jack Brabham foi o único que não pilotou um de seus carros antigos. Já tinha 84 anos, era um idoso. Mas não só isso: era um piloto-idoso. Porque, qualquer que seja a forma que queiramos defini-lo, devemos sempre usar a palavra “piloto” antes. Era, acima de tudo, o que ele fazia, gostava e amava: esses carrinhos coloridos que andam em círculos e aos quais dedicou uma vida toda.
 
Vá em paz, Black Jack.
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