Coluna Rookie Text, por Vitor Fazio: Nova política

Esse movimento pró-Rússia te assusta? Compreendo a preocupação. Mas talvez seja melhor olhar para o cenário de uma forma mais racional, compreendendo as razões envolvidas. É só uma nova política

O último domingo pode ter sido um marco histórico para a F1. A categoria, depois de anos de flerte e negociação, finalmente realizou o aborrecido GP da Rússia. Finalmente, foi validada a lua de mel entre as duas partes. Não é o melhor dos anos para tal evento: o país entrou em conflito pela Crimeia e ainda vê separatistas pró-Rússia se digladiando com as forças da ex-parceira Ucrânia. Mas azar, isso é só uma pedra no caminho dos interesses da categoria. A F1 não faz política. Isso é o que dizem.

O GP da Rússia marca porque a expansão da categoria para fora da Europa chegou a um dos maiores adversários políticos das nações tradicionais do automobilismo. Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e outros passaram o ano apontando o dedo na cara de Putin e agora assistem uma das instituições mais importantes do esporte mundial se aliando fortemente com a terra dos Czares. Não que isso vá mudar os rumos da política mundial, mas diz muito.

O novo acordo não é por acaso. Na verdade, segue a linha de raciocínio que vem sendo pregada pelos mandachuvas da F1. A Europa e seus países falidos já são coisa do século passado. Pensávamos que a expansão se resumia ao Oriente Médio e ao Sudeste Asiático, mas o antigo mundo soviético entrou na história. Aliás, teremos outra ex-república socialista – Azerbaijão – em 2016. Deixou de ser uma questão puramente econômica e entrou no campo da política.

A Rússia entrou no calendário da F1 neste ano (Foto: Getty Images)

Sim, a F1 faz política. E não faz pouca.

A transmissão da corrida não perdeu uma única chance de mostrar o casal Putin e Bernie passeando por Sochi. Nas arquibancadas, as conversas e os sorrisos. Não me lembro de ter visto chefes de estado aparecendo alguma vez. Nem os xeiques do Bahrein ou dos Emirados Árabes Unidos – outros amantes de Ecclestone – aparecem. Significa. Talvez a Rússia seja, hoje, o mercado mais importante da F1. Mais até que os Estados Unidos. A FOM realmente imagina que qualquer hora dessas o ocidente vai simplesmente ruir. E se alia aos que tem mais chances de se sustentar.

Destaca-se que, sim, estamos falando de um país em ascensão. Se formos considerar os cinco membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), quatro sediaram corridas nos últimos anos. Não é por acaso. E não ficaria surpreso se qualquer hora dessas surgir um GP no país africano.

Aquele purismo eurocentrista da categoria ainda levanta dúvidas quanto à validade de novos GPs em países esdrúxulos. Afinal, um GP na França com a Torre Eiffel ao fundo parece bem mais atraente que um na Índia com o Ganges sujo e vacas doentes ao redor. Eu concordo. Mas um campeonato dependendo exclusivamente de países economicamente decadentes (Espanha, Portugal, Itália…) seria um tiro no pé. Ainda mais se lembrarmos de que, muitas vezes, as corridas são financiadas pelos próprios governos – que, no caso europeu, tem preocupações maiores que a construção de autódromos. É preciso achar um meio termo para que a F1 possa se sustentar sem perder fãs – que também são um pilar importante do esporte, financeiramente falando.

Não falo da qualidade das corridas. Óbvio que uma corrida no antigo Estoril ia ser mais interessante que na apática Sochi. Claro que uma corrida nas ruas de Berlim ia ter mais atrativos que em Baku. Mas talvez esse seja um fator menos relevante numa hora dessas. Pistas chatas sempre existiram, não podem ser evitadas. Se esse é o preço para que a F1 se mantenha no ápice, não vejo problemas em pagar. Melhor ter um GP na Rússia que não ter nem lá nem na Inglaterra, Alemanha, Canadá, Brasil…

Esse movimento pró-Rússia te assusta? Compreendo a preocupação. Mas talvez seja melhor olhar para o cenário de uma forma mais racional, compreendendo as razões envolvidas. É só uma nova política.

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