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Fórmula 1

Coluna Rookie Text, por Vitor Fazio: O certo e o errado no jogo de equipe

Caiu a máscara de ‘gente boa’ do alemão, que vai sofrer comparações cada vez mais diretas com Schumacher. Não é essa deslealdade que faz alguém vencedor ou perdedor, vide Button, campeão de 2009 e visto como um grande gentleman

 

O GP da Malásia não ficou marcado por um grande acidente ou por uma situação climática caótica – o que não seria surpreendente, em se tratando de um país de clima tropical – mas, sim, por causa da volta das discussões sobre jogo de equipe. Vettel traiu o seu companheiro, Webber, enquanto Rosberg foi cordial com seu amigo de longa data, Hamilton. Longas discussões sobre certo e errado foram reavivadas no domingo.

 
Vettel foi desleal e agiu incorretamente. Por mais polêmicas que possam ser, tais ordens de “trazer os carros para casa” são dadas por alguém superior e, portanto, devem ser obedecidas. Se esse argumento ainda não bastasse, existe toda uma questão ética que deveria ser seguida por um esportista do nível dele. Sebastian disse ter se arrependido logo depois da manobra, o que duvido muito. Se estivesse realmente com esse sentimento de culpa, baixaria a velocidade e deixaria as posições como estavam anteriormente. O alemão botou fogo na já estremecida relação com o australiano, que disse ter reconsiderado seu futuro na Red Bull, o que significa que Mark não ajudará ninguém nesse ano. Pode ser decisivo, em um campeonato que pode acabar sendo tão disputado como o de 2012. Essa gana do tricampeão já podia ter sido vista na Hungria, em 2011, onde conseguiu um bom segundo lugar e liderava com quase 100 pontos de vantagem: ao ser elogiado pela equipe após a bandeirada, respondeu um áspero “eu queria ter vencido”.
 
Trair o companheiro de equipe não é novidade, porém. No distante ano de 1989, em San Marino, a McLaren, equipe dominante da época, fez um combinado de que os pilotos não poderiam se ultrapassar na primeira volta, após a largada. Na primeira largada tudo foi seguido com rigor: Senna manteve a primeira posição, com Prost em segundo. Mas houve o acidente de Berger na Tamburello, e tudo foi paralisado. Na segunda, Ayrton largou mal e Prost foi para a liderança, mas não por muito tempo: o brasileiro reassumiu a ponta na Tosa, ainda na volta inicial, descumprindo o combinado e irritando o francês. O piloto do carro #1 alegou que o tratado só valia para a primeira partida, mas o piloto do #2 não engoliu. O relacionamento entre eles acabou nesse dia e resultou nos infames acidentes em Suzuka, em 1989 e 1990. Senna foi tão irracional e desleal quanto Vettel, seguindo essa vontade quase instintiva de sair passando todos e ganhando de qualquer jeito.
Caiu a máscara de Sebastian Vettel, que vai ser compaarado a Ayrton Senna e Michael Schumacher (Foto: Getty Images)
 
O outro jogo de equipe do dia ocorreu na Mercedes. Ross Brawn, ele mesmo, mandou Rosberg se aquietar atrás de Hamilton, que vinha poupando combustível. Nico obedeceu, mas estava contrariado: disse pelo rádio que “não iria esquecer isso”. Ficou claro que o alemão foi gentil com a equipe que o mantém há quatro anos e foi fiel a sua amizade com Hamilton, que vem desde os tempos do kart. Muitos o chamaram de bundão, mas é óbvio que esse maniqueísmo entre ousadia de quem desobedece e covardia de quem acata não faz sentido. Muitos dizem que o veterano da equipe assumiu a posição de segundo piloto dentro do time, o que é um grande exagero.
 
Sou contra essa política de preservar as posições e evitar brigas ditas ‘desnecessárias’. Isso acaba matando a essência desse espetáculo que é o automobilismo – ultrapassar. Estamos falando de pilotos de ponta, com um currículo sensacional e que tem alguma noção do que estão fazendo. Aquele acidente do GP da Turquia de 2010 entre as Red Bull é a exceção, não a regra – não é à toa que, na mesma corrida, Button e Hamilton proporcionaram ao público uma linda disputa pela primeira posição.
 
No fim das contas, caiu a máscara de ‘gente boa’ do alemão, que vai sofrer comparações cada vez mais diretas com Schumacher. Não é essa deslealdade que faz alguém vencedor ou perdedor, vide Button, campeão de 2009 e visto como um grande gentleman. Tais atos só sujam a já comprometida imagem ética da categoria, desde os tempos de Michael, passando por Alonso e chegando à corrida do último domingo.

VITOR FAZIOGaúcho de Porto Alegre, tem 17 anos e cursa Jornalismo na PUCRS – 1º semestre, mas está fazendo a loucura de cursar uma outra universidade: Economia na UFRGS. Fã assíduo de automobilismo desde os 14, já não consegue se ver sem acordar às 3h da manhã para ver uma corrida. Tem um blog, 'Caderno de Rascunho', onde escreve quando consegue conciliar o tempo entre universidades e estudo e tempo livre. No Twitter, @vitorfazio.