Coluna Safety-car, por Felipe Giacomelli: Não há bom-mocismo no esporte

A única coisa que importa é quem cruza a linha de chegada em primeiro. Pergunte à Red Bull se ela está preocupada com toda a situação da Malásia, ao mesmo tempo vendo o seu melhor piloto no topo da tabela de pontos

Sempre achei que houvesse uma supervalorização do fair play no esporte. Talvez em uma partida entre gentlemans, no meio da Inglaterra, em alguma modalidade amadora, ainda haja espaço para esse tipo de iniciativa. No restante do esporte moderno, não.

No futebol, por exemplo, esses lances beiram a bizarrice. Se algum dia alguma equipe de fato colocou a bola para fora para que um adversário fosse medicamente atendido, hoje é mais comum ver um jogador se jogar propositalmente no chão, durante um contra-ataque da equipe rival, apenas para que o juiz e os demais atletas se vejam obrigados a paralisar a jogada.

Pergunte a Mark Webber como ele está feliz com o tal trabalho em equipe (Foto: Getty Images)

E se uma equipe, furiosa com a dissimulação rival, ignora a devolução da posse de bola, ela é punida com todo rigor pelo árbitro. Para piorar, ainda há sempre um troféu fair play no fim de cada competição, para o time mais leal. Quer dizer, se os jogadores são punidos por não serem adeptos dessas partes cavalheirescas, não deveriam todas as equipes dividirem a premiação?

A verdade é que, hoje, todo mundo quer vencer. E vencer a qualquer preço. Pouco importa se for se jogando no campo para simular uma lesão ou aproveitando uma bola ao chão para pegar o outro time despreparado e marcar um gol.

Na F1, claro, não é diferente. O problema é que há uma exacerbação do bom-mocismo na categoria. Ayrton Senna sempre ganhou porque era ético. Nelson Piquet era um crápula, pois falava o que pensava. Sebastian Vettel arruinou a carreira por desrespeitar as ordens da equipe e ultrapassar Mark Webber nas voltas finais do GP da Malásia. Nada disso é verdade.

A única coisa que importa é quem cruza a linha de chegada em primeiro. Pergunte à Red Bull se ela está preocupada com toda a situação da Malásia, ao mesmo tempo vendo o seu melhor piloto, atual tricampeão do mundo, no topo da tabela de pontos e tendo vencido uma corrida em que o maior rival – Fernando Alonso – abandonou. Lógico que não estão. E pelo contrário, comemoram.

O que deveria acometer os rubro-taurinos e as demais equipes do grid é a decisão de manter as posições no fim da prova, após o último pit-stop, o tal do Multi 21. Eu me sinto lesado por esses times ao assistir a uma corrida – ou parte dela – em que os resultados já estão previamente combinados.

Já pensou se isso acontece em outros esportes? No tênis, por exemplo, se Roger Federer e Rafael Nadal concordassem que quem ganhar o primeiro set da partida será o vencedor e poderá avançar à final para enfrentar um Novak Djokovic cansado após um duelo épico de cinco horas contra algum adversário. Isso não existe.

“É diferente! A F1 é um trabalho em equipe”, alguém vai bradar. Maior mentira. Neste momento veja como Webber está muito satisfeito com esse tal trabalho em equipe… O pior é que essa argumentação só é invocada toda vez que acontece um lance na pista em que nada tem a ver com beneficiar o coletivo. É sempre tirar de um piloto e dar a outro.

Por isso é mais fácil voltar ao básico. Ganha quem terminar na frente, de acordo com as regras estabelecidas e ponto final.

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