Coluna Superpole, por Victor Martins: Keep calm

O dilema de Eric Boullier tem como ponto chave a penúria financeira em que se encontra a Lotus. O fundo de investimento árabe e os patrocinadores são insuficientes para sanar as dívidas e sequer foram capazes de prover as garantias de que Räikkönen precisava para seguir mais um ano por lá. Assim, acaba sendo natural que a cúpula do time enxergue nos pilotos bons cifrões. Por outro lado, mais do que nunca, ser grande em 2014 requer ter a melhor dupla possível no mercado. Faz-se a dicotomia

Enquanto os serviçais de Maranello têm trabalho para limpar a poeira decorrente do redemoinho do anúncio de Kimi Räikkönen, o foco da F1 se concentra em quem se acostumou a estar no centro dos holofotes por sua irreverência nos últimos anos. A Lotus soube rir de si mesma até quando viu o finlandês assinando com a Ferrari, e da lúdica foto do coito dos coelhos que publicou nas redes sociais se vê, num lado não tão literal, que um grupo de pilotos vai se comer e aproveitar as migalhas para pegar as duas melhores vagas disponíveis para 2014.
 
O dilema de Eric Boullier tem como ponto chave a penúria financeira em que se encontra a Lotus. O fundo de investimento árabe e os patrocinadores são insuficientes para sanar as dívidas e sequer foram capazes de prover as garantias de que Räikkönen precisava para seguir mais um ano por lá. Assim, acaba sendo natural que a cúpula do time enxergue nos pilotos bons cifrões. Por outro lado, mais do que nunca, ser grande em 2014 requer ter a melhor dupla possível no mercado. Faz-se a dicotomia.
 
Porque o melhor piloto disponível no mercado é aquele que tem o maior índice de pobreza no grid. Nico Hülkenberg, 26, é de longe o mais promissor dos jovens que rezam para ter uma oportunidade de ouro. Com carros inconstantes, brilhou em vários momentos: da Williams, extraiu uma pole; com a Force India, quase venceu; e nesta Sauber piedosa, andou no ritmo das grandes na última corrida em Monza. Não fosse todo o conhecimento movimento originado por Fernando Alonso e as reações de Luca di Montezemolo para ter Kimi, era Hülkenberg quem estaria vestido de vermelho no ano que vem.
Massa pode se beneficiar do acordo entre Renault e Lotus para guiar o carro aurinegro em 2014 (Foto: Getty Images)
Quando a Lotus olha para a ficha de Felipe Massa, 32, sorri. Porque o piloto acaba sendo uma peça de encaixe quase que perfeita nos planos. Das conversas que já teve com a escuderia e do pouco que pôde revelar à imprensa, Felipe já entendeu que precisa levar alguns tutus. Mas, principalmente, depende muito do que a Renault quer da vida. A menor das conversas entre as partes indica que a montadora quer ser a patrocinadora principal para ter seu nome oficialmente na equipe – algo como Renault Lotus ou só Renault –, evitando que a escuderia tenha de pagar pelos agora caros motores V6 turbo. Se realmente voltar a acelerar com seu projeto na F1 – e fontes apontam para que um acordo para reassumir a Lotus esteja “bem encaminhado” –, Felipe passa a ter uma grandiosa vantagem. Porque a matriz francesa vê o mercado daqui com tamanha importância que seu radar está no aumento das vendas de carros no norte do país. E no mesmo sentido, a Renault Brasil, evidentemente, torce muito que o brasileiro vire seu ‘garoto-propaganda’.
 
Mesmo que tenha de contribuir, Massa não se encontra numa situação das piores. Por ser organizador de corridas do automobilismo nacional – o finado Racing Festival e o Desafio de Kart –, Felipe tem porta livre em empresas de grande porte. E outras companhias nacionais buscam entrar ou voltar à F1 e tenderiam entrar na carona do provável acordo Lotus-Renault. Há anos, a Petrobras, por exemplo, bate à porta para tornar a competir.
Romain Grosjean está numa situação dúbia: entre a óbvia continuidade e a perda na comparação entre os candidatos (Foto: Getty Images)
Quieto, de canto, está Romain Grosjean, 27. A princípio, o piloto seria garantia de continuidade na Lotus porque já conhece o grupo de trabalho e, francês, seria o maior beneficiado com a volta da Renault. Só que os resultados pesam contra. A equipe não tem como olhar para Grosjean com pinta de quem passaria a ser o comandante sendo que ele mal tem a metade dos pontos de Räikkönen – como no ano passado; e olha que seus acidentes e/ou culpas em incidentes tenham diminuído consideravelmente. Na questão de pilotagem e experiência, perde para os dois concorrentes. Até porque, num embate com Massa, a Lotus consideraria muito o fato de o brasileiro conhecer bem os macetes e as técnicas da Ferrari – que tem lhe roubado preciosos membros da engenharia e procura repô-los com gente lá de Maranello.
 
Qualquer formação que não tenha estes três pilotos apareceria como (outra) grande zebra para 2014. Até que não faça o anúncio, a Lotus provavelmente vai continuar destilando seu bom humor em formato de artes e imagens. Do mesmo jeito que fez o seu ‘keep calm and let Kimi decide what to do’, riscando a Red Bull e deixando as então duas chances que ele poderia escolher na carreira, há de contar assim os passos de seu futuro. A demora, possível, vai causar angústia em quem acompanha, mas muito mais nos três candidatos. A eles, sim, será necessário muito lembrar o importante mantra ‘keep calm’.

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Q1: Sem querer, a FIA pode ter dado uma indicação do futuro na Lotus. Ontem, na ficha oficial dos participantes da coletiva obrigatória das atividades antes do GP de Cingapura, o convocado Hülkenberg apareceu como piloto da equipe. 

Q2: Aí Juan Pablo Montoya descarta a Andretti e dias depois fecha com a Penske. Outro exemplo de que a vingança pode ter tido fator preponderante em sua volta pela Indy. A equipe de Roger é a principal adversária e rival da Ganassi, que o dispensou na Nascar. Juan Pablo, claro, já começou uma dieta rigorosa para entrar no carro #2. É mais um motivo para esperar 2014 com afinco.

Q3: Na McLaren, Jenson Button não sai. Mas que é estranho não terem confirmado Sergio Pérez até agora, é.

 
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