Com propósito de maior igualdade, F1 apresenta revolução para 2021

Reunidos em Austin, palco do GP dos EUA, os líderes da Fórmula 1 anunciaram, enfim, as mudanças que a maior das categorias vai sofrer a partir da temporada 2021. Por um lado, o esporte vai trazer um carro de visual mais agressivo, com alterações bastante significativas, como os pneus de 18". No aspecto financeiro, a ideia é tornar a categoria mais igualitária e justa para os competidores

A Fórmula 1 busca uma revolução a partir de 2021. E o caminho para isso passa por uma significativa reformulação do esporte. Durante meses, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), o Liberty Media, grupo proprietário da categoria, e as equipes debateram propostas diversas, do orçamento a questões mais técnicas. Tudo fundamentado em quatro importantes pilares: tornar as corridas mais emocionantes e imprevisíveis, os carros mais velozes, o grid mais parelho e o campeonato financeiramente viável. E agora chega o momento de entender como a F1 vai, de fato, se parecer muito em breve.

 
Os principais dirigentes escolheram Austin, onde acontece o GP dos EUA neste final de semana, para apresentar todas as propostas de mudanças acordadas e que foram levadas ao Conselho Mundial da FIA, sendo aprovadas por unanimidade. Na sala de imprensa do Circuito das Américas, o chefão Chase Carey, o diretor-esportivo Ross Brawn, diretor-técnico Nikolas Tombazis e o presidente da entidade que rege o esporte, Jean Todt, em vídeo, revelaram, enfim, o novo regulamento. 
A F1 apresenta o modelo do carro para a 'revolução' de 2021 (Foto: Fórmula 1/Twitter)
Dentre as discussões, o carro da F1 sempre esteve entre os principais pontos. Isso porque os dirigentes desejam ver provas mais disputadas, independentemente dos circuitos, algo que ainda não acontece atualmente, especialmente pela dificuldade de ultrapassar. Para isso, engenheiros da FIA e também das equipes trabalharam em soluções aerodinâmicas e mecânicas para atingir essa meta. Os carros vão ter um visual mais futurista e, ao mesmo tempo, inspirado no passado. Ao que parece, a F1 foi numa linha de ‘o menos é mais’, mas sem mexer no seu DNA histórico. É o que garante Chase Carey, chefão da categoria.

"A F1 é um esporte incrível de história maravilhosa, heróis e fãs no mundo todo. Respeitamos muito o DNA da F1, que conta com grande combinação de ótima competição esportiva, pilotos unicamente talentosos e corajosos, equipes dedicadas e tecnologia de ponta. A meta sempre foi melhorar a competição e a ação na pista e, ao mesmo tempo, tornar o esporte mais saudável e um negócio mais atraente para todos. A aprovação das regras pelo Conselho Mundial da FIA é um divisor de águas que vai nos ajudar a entregar mais batalhas de roda com roda para os fãs”, explicou.

Jean Todt, que foi um dos grandes incentivadores deste processo de revolução da F1, comemorou a chance de ver o esporte caminhar rumo a uma nova era. "Após mais de dois anos de intensa pesquisa e desenvolvimento, de uma colaboração próxima com nossos parceiros da Fórmula 1 e com a ajuda de equipes e pilotos, projetistas de circuitos, a fornecedora única de pneus (Pirelli) e os acionistas da F1, a FIA está orgulhosa de publicar hoje uma série de regras que vão definir o futuro da F1 a partir de 2021. É uma mudança fundamental em como o pináculo do esporte será operado e, pela primeira vez na história, tocamos nos assuntos técnicos, esportivos e financeiros de uma vez só".
 

Com a intenção, então, de facilitar as ultrapassagens, diminuir as diferenças entre os carros do grid — abolindo assim as castas que vemos hoje no esporte, ou as chamadas F1 A e F1 B —, os carros surgem mais simples também. O objetivo foi o de tornar a aerodinâmica algo menos complexo, com a capacidade de que o fluxo de ar através do carro seja mais uniforme, limpo e que não prejudique a aproximação do carro que venha logo atrás, eliminando a turbulência. Recursos usados atualmente pelos times, como os bargeboards — aletas laterais dos carros —, vão ser extintos, enquanto a nova F1 vai ser dotada de uma nova versão de efeito-solo.

Um detalhe importante, na esteira de toda a reformulação técnica promovida para 2021, é que a F1 prevê que os novos carros sejam entre 3 e 3s5 mais lentos que os atuais.

A respeito dos pneus, a Pirelli, fornecedora única, vai entregar à Fórmula 1, a partir de 2021, uma nova configuração, de perfil baixo e 18". E ao contrário do que havia sido proposto, os aquecedores de pneus seguem permitidos. 
Detalhes da dianteira do novo carro da F1 para 2021 (Foto: Fórmula 1/Twitter)
A FIA e o Liberty Media também travaram discussões importantes com as equipes no que diz respeito aos limites de gastos. A ideia é que os times possam competir em igualdade com um orçamento menor. Para isso, diversos pontos foram acordados como peças padrão, proibição de sistemas de suspensão hidráulica, restrição de uso de certos materiais, radiadores padronizados, congelamento de parâmetros da caixa de câmbio.
 
Também houve um esforço para um controle mais efetivo dos custos que devem ser estabelecidos para limitar o tamanho das equipes, com o objetivo novamente de impedir que as grandes escuderias superem os times pequenos com recursos superiores.

Uma das novidades mais importantes, também cercada de polêmicas, é a do teto orçamentário por temporada. Cada equipe vai poder gastar o máximo de cerca de US$ 175 milhões (ou R$ 700 mi). A ideia é de promover um esporte onde o sucesso é determinado por quem melhor gasta o dinheiro, e não por maiores custos, além de deixar mais participativo para atrair novas entradas de equipes. Tudo para tornar o esporte em si mais justo e menos desigual do que tem sido nos últimos anos, com apenas três equipes compartilhando as chances de vitória e as demais se contentando com a chance de ser 'a melhor do resto'.

Brawn reforçou que "o crucial no aspecto financeiro é que se trata de um regulamento da FIA. Há punições em caso de quebra de regras. Antes, havia um acordo de cavalheiros entre as equipes, que não era tão de cavalheiros assim. Se você quebrar as regras, você perde o campeonato", salientou, garantindo que a FIA vai fazer jogo duro na fiscalização junto às equipes para que o teto orçamentário não seja violado.

Carey explicou que "as novas regras surgem após um detalhado processo de dois anos examinando problemas técnicos, esportivos e financeiros com o objetivo de desenvolver um pacote de regras. Fizemos mudanças diversas durante o processo conforme recebíamos informações das equipes e outros acionistas e acreditamos firmemente que atingimos as metas definidas. Estas regras são um importante e grande passo adiante, ainda que o processo ainda esteja em curso e que nós continuemos trabalhando para melhorar as regras e dar novos passos para permitir que nosso esporte cresça até o potencial máximo".

"O regulamento nunca vai agradar a todos, porque são muitas visões diferentes. Todavia, todos nós concordamos naquilo que é importante para o futuro da F1. Nós acreditamos que alcançamos aquilo que queríamos alcançar, incluindo o teto orçamentário", acrescentou.

 
O chefão da F1 não se furtou a falar sobre a oportunidade de entregar um esporte mais sustentável. "Uma das iniciativas mais importantes será, conforme seguimos para o futuro, tratar do impacto ambiental de nosso esporte. Já temos o motor mais eficiente do mundo e, nas próximas semanas, lançaremos os planos para reduzir – tendo a eliminação completa como objetivo final o impacto ambiental de nosso esporte e negócio. Sempre estivemos à frente da indústria automotiva e acreditamos que podemos ter papel de liderança neste assunto de importância crítica".

A importância do fator sustentabilidade foi reforçada por Todt. "Um elemento crucial para a FIA, pensando no futuro, são as considerações ambientais: a F1 já conta com os motores mais eficientes do mundo, mas vamos continuar a trabalhar em novas tecnologias e combustíveis que aumentem ainda mais esse limite. O que a FIA publica hoje é a melhor moldura que poderíamos ter para beneficiar competidores e acionistas, ao passo que garantimos um futuro animador para nosso esporte", explicou o dirigente francês.

Novas bases, novos tempos

Diretor-esportivo da F1, Ross Brawn, e Nikolas Tombazis, representante e consultor-técnico da FIA, destacaram os aspectos dos carros da nova fase do esporte. "Mudamos as bases da Fórmula 1. Aproximamos as equipes e tornamos o esporte mais sustentável. Quando falamos em aproximar, falamos em carros que podem correr uns contra os outros. Os atuais são terríveis nesse aspecto", destacou Brawn, citando a dificuldade que o competidor tem de acompanhar o carro da frente em razão da turbulência.

"Tentamos simplificar o formato dos carros e diminuir a sensibilidade de algumas áreas para facilitar que um siga o outro. Não temos mais bargeboards. Algumas peças serão restringidas [padronizadas]. Sentimos que, se não fizéssemos isso, as equipes poderiam superar o nosso objetivo", explicou Tombazis.

A nova F1 pretende ser mais competitiva, igualitária, emocionante e sustentável (Foto: F1/Twitter)

O engenheiro disse, ainda, que "os carros podem parecer diferentes uns dos outros, e vão parecer. As asas, as entradas de ar… Mas padronizamos algumas áreas para garantir o efeito das mudanças". Tombazis salientou que o peso dos novos carros vai subir de 743kg para 768kg. As suspensões vão ficar mais simples, e os custos do desenvolvimento das caixas de câmbio serão controlados.

No aspecto segurança, os carros devem ser também mais evoluídos. Um dos objetivos é melhorar a absorção de energia nos impactos, consequência do bico mais longo.

O formato do fim de semana, em termos de atividades de pista, continua como atualmente. Entretanto, a nova F1 vai compreender um dia a menos de trabalho no autódromo, com as entrevistas coletivas com os pilotos, hoje realizadas às quintas-feiras, sendo transferidas para sexta-feira, entre os treinos livres. A ideia é reduzir um dia de trabalho para permitir uma ampliação do calendário para um máximo de 25 GPs por temporada.

Chase Carey falou sobre a possibilidade de a F1 expandir o calendário, mencionou a chance de realizar uma segunda corrida nos EUA — o que vai acontecer, caso seja aprovada, com a entrada do GP de Miami —, e também valorizar praças tradicionais, como Silverstone, Monza e México, que tiveram seus respectivos contratos recentemente renovados. Sobre a volta da F1 ao Rio de Janeiro, nada foi falado pelo dirigente norte-americano.

Paddockast #39
O MELHOR SEM TÍTULO DA F1

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