Como Honda correu contra tempo com novo motor para ajudar Red Bull a bater Mercedes

A Red Bull começou muito forte a temporada 2021 da Fórmula 1 e mostrou ser uma concorrente real da Mercedes na luta pelo título. Boa parte desta evolução se deve à Honda. A marca de Sakura iniciou o desenvolvimento do novo motor apenas em outubro. Uma corrida contra o tempo e um “sinal milagroso do trabalho tecnológico”

Hamilton vence na estratégia e pega Verstappen: assista como foi o GP do Bahrein (Vídeo: GRANDE PRÊMIO com Reuters)

Houve um tempo em que a Honda era motivo de chacota na Fórmula 1 em razão das inúmeras quebras, punições de grid às centenas, críticas e ironias. Impossível não lembrar do “motor de GP2” dito por um furioso Fernando Alonso no GP do Japão de 2016, em Suzuka, na casa da marca nipônica, no auge da crise da McLaren. Mas os tempos são outros desde que a Honda se uniu à Red Bull, a partir de 2019. Os seguidos fracassos deram lugar a vitórias e bons momentos. Só que a fábrica de Sakura quer mais do que algumas vitórias e poles aqui e ali: o objetivo é superar a Mercedes e buscar o título. Por isso, a montadora teve de correr contra o tempo para, a partir de outubro, produzir um motor completamente novo e entregá-lo à Red Bull e também à AlphaTauri.

A correria deu resultado. O novo motor não somente é muito melhor, mas também posicionou a Red Bull à frente da Mercedes nos testes de pré-temporada e também na primeira sessão classificatória do ano, no GP do Bahrein, em que Max Verstappen deixou Lewis Hamilton para trás por 0s388 para conquistar a pole-position. A título de comparação, no mesmo circuito de Sakhir, em 28 de novembro do ano passado, o heptacampeão foi 0s414 mais rápido que Max.

Houve, contudo, um trabalho de convencimento por parte do comando do projeto da Honda na F1, liderado por Masashi Yamamoto e Toyoharu Tanabe, para fazer com que Takahiro Hachigo, presidente da montadora, apostasse tudo em um novo motor para 2021. Só então que o trabalho começou de fato. Quem explica é Yasuaki Asaki, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Honda para a Fórmula 1.

A Honda tem como grande meta colocar a Red Bull à frente da Mercedes em 2021 (Foto: Beto Issa)

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“Explicamos que, com a unidade motriz anterior, não conseguiríamos bater a Mercedes e que precisaríamos de um novo motor para chegar lá. Para vencer, precisávamos implementar a nova unidade de potência e, portanto, começamos a trabalhar nisso”, lembrou o engenheiro em entrevista ao site oficial da Fórmula 1.

Só com o sinal verde ‘de cima’ é que a Honda começou a trabalhar na nova unidade motriz. A corrida contra o tempo havia começado. “Com ajuda da divisão de motores da Honda, tivemos algumas sugestões sobre os métodos de produção, conseguimos produzir determinadas peças com três vezes a velocidade que normalmente faríamos e conseguimos produzir as unidades necessárias para a primeira corrida”, comentou Asaki.

“Analisamos os motores antigos para ver onde estavam os limites, mas até outubro ninguém começou a trabalhar plenamente para ter esse motor pronto. Mudar a estrutura do motor em somente seis meses antes dos testes e deixá-lo pronto para a primeira corrida é algo incrivelmente complicado de ser feito. Mas, graças ao trabalho de todos, conseguimos”, destacou.

O trabalho da engenharia compreendeu a busca por maior potência e também a luta para tornar a nova unidade motriz mais compacta, reduzindo o centro de gravidade do motor de combustão interna. “Se tudo correr bem neste ano, acreditamos que esta unidade de potência pode contribuir muito para a Red Bull. Além disso, é um sinal milagroso do trabalho tecnológico que eles fizeram. Eles nos ajudaram muito para que possamos tirar o máximo deste novo motor”.

Com o trabalho todo feito neste último ano da Honda antes de entregar a tecnologia e o desenvolvimento do motor para a própria Red Bull a partir de 2022, os objetivos são bastante ambiciosos: simplesmente superar aquela que é, desde 2014, a força hegemônica da era híbrida da Fórmula 1.

“Com a unidade motriz do ano passado não pudemos bater a Mercedes e por isso precisávamos de uma nova para poder chegar lá. Nos falta um ano, e nosso objetivo é derrotar a Mercedes. E ainda que no ano passado estivéssemos perto deles, o fato é que eles também melhoraram muito. Temos de ter objetivos elevados e acho que temos a capacidade necessária para lugar contra eles”, salientou Asaki.

Um dos fatores que o chefe de pesquisa e desenvolvimento destaca como fundamental para a mudança de patamar da Honda neste último ciclo na Fórmula 1 está justamente a resiliência ao aprender com os erros e dar a volta por cima depois da fracassada nova união com a McLaren.

“Em primeiro lugar, acho que o fato de nossos engenheiros terem crescido muito desde então é um grande fator para isso. Também conseguimos construir sistemas usando monocilindros e outros métodos para garantir que, quando fizermos uma grande mudança como essa, em primeiro lugar não haja problemas antes de dar sequência. Acho que o fato de termos dificuldades no passado contribuiu para o crescimento que os nossos engenheiros mostraram”, complementou.

A Honda, no fim das contas, encampa uma das célebres frases do seu fundador, Soichiro Honda: “O sucesso é construído de 99% de fracasso”.

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