Conta-giro: em 1992, Mansell venceu no México em final de semana de acidente de Senna e primeiro pódio de Schumacher

Nigel Mansell venceu numa dobradinha da Williams com Riccardo Patrese da última vez que a F1 passou pelo México, mais de 23 anos atrás. Foi também a primeira vez que Michael Schumacher foi ao pódio, e um fim de semana de reclamação de Ayrton Senna. O mundo era diferente, bem diferente, em 1992

1992. 23 distantes anos atrás, a Iugoslávia se desmanchava em tragédia com uma das mais brutais guerras da história moderna. A Bósnia se juntava à Croácia e Eslovênia como independentes de uma Sérvia que escolhia reeleger Slobodan Milošević, o maior incentivador de um genocídio com cerca de 150 mil mortes.
 
1992. Brasil. Eleito três anos antes – o primeiro presidente escolhido abertamente pelo povo brasileiro depois do fim da ditadura militar -, Fernando Collor de Melo via seu termo como comandante-chefe do país chegar ao fim em desgraça. O naufrágio do Plano Collor e as acusações que seguiram fizeram com que o presidente renunciasse e mesmo assim acabasse tendo o mandato impugnado logo depois. A inflação no Brasil se aproximou dos 1200%.
 
No México, em março, a F1 chegou para uma última corrida. O contrato terminava naquele ano. As exigências de melhorias feitas pela FISA, bem como o quase insuportável ar poluído da Cidade do México, jogavam contra uma renovação. Ainda não se sabia, mas era apenas o começo de uma temporada onde a Williams iniciaria a conquista de nove títulos – quatro de Pilotos e cinco de Construtores – em seis anos.
 
Três semanas antes, a temporada começara em Kyalami, na África do Sul. Já era evidente que a McLaren não era mais a dona da verdade depois dos anos de completo domínio, e a Williams, impulsionada pela Renault e especialmente por sua suspensão ativa, aparecia como a grande candidata a repaginar o grid.
Nigel Mansell foi o último vencedor do GP do México de F1 (Foto: LAT Photographic/Williams)
Com Nigel Mansell e Riccardo Patrese como pilotos, parecia a grande chance do 'Leão' ser, enfim, campeão mundial aos 38 anos de idade.
 
O sábado não foi um passeio para Mansell, que se viu com um problema no motor Renault. Mesmo assim, o inglês conseguiu bater Patrese por uma diferença diminuta de 0s016. Clamorosamente atrás, Benetton e McLaren formaram as fileiras dois e três. Michael Schumacher largou na terceira posição, 0s9 atrás. Mas daí em diante, um penhasco. Martin Brundle, o quarto, foi mais de 2s mais lento. Gerhard Berger, Ayrton Senna, JJ Lehto (Dallara), Maurício Gugelmin (Jordan), Pierluigi Martini (Dallara) e Jean Alesi (Ferrari), formaram as cinco primeiras filas.
 
Senna, aliás, voltava a ter problemas com o autódromo Hermanos Rodríguez. Foi bem vocal, inclusive. Como lembra o site inglês 'F1Fanatic.com', após sofrer o segundo acidente perigoso no México em dois anos, Ayrton expressou as preocupações.
 
"Não tenho algo contra o México, mas de verdade acho que não devíamos vir aqui até que a pista seja recapeada e as áreas de escape, melhoradas. Vamos a circuitos de rua com superfícies melhores que a que temos aqui", afirmou. A questão é que um trabalho de recapeamento havia sido feito após 1991, mas sem muita qualidade.
 
Nos Estados Unidos, 1992 foi o ano em que Bill Clinton levou o Partido Democrata de volta à presidência ao bater o então comandante-chefe, George H. W. Bush, nas urnas em sua tentativa de reeleição. Em Roma, João Paulo II reconhecia que a Igreja Católica havia errado ao condenar Galileu por heresia em 1633.
No Brasil, a ECO-92 reunia líderes de todo o planeta para discutir o futuro mundial com relação a questões sobretudo ambientais. Meses depois, 111 pessoas foram brutalmente assassinadas no maior presídio do Brasil após uma ação criminosa da Polícia Militar de São Paulo para conter um princípio de rebelião. O episódio ficou conhecido como o Massacre do Carandiru.
 
De volta na Cidade do México para a prova de 22 de março, a Williams foi dona completa da corrida. Não foi exatamente uma prova para se guardar na memória. Sem pit-stops necessários para os dez primeiros colocados, já que a Goodyear entregou pneus que duravam todas as 69 voltas, Mansell escapou e abriu. 
Nigel Mansell foi o último vencedor do GP do México de F1 (Foto: LAT Photographic/Williams)
 No fim, sem muitos esforços, venceu com mais de 12s de vantagem para o companheiro de equipe. Patrese, numa fácil dobradinha, veio na sequência. 
 
Depois de uma boa largada, Senna rapidamente pulou para o terceiro lugar. Caso alcançasse as Williams, seria um cartão de visita de que estaria à espreita para ao menos sonhar com o tetracampeonato. Mas após 12 voltas, Ayrton teve de abandonar. Culpa da transmissão, que parou de funcionar.
 
Embora a McLaren tivesse um ritmo até forte, Berger se viu numa longa briga com Brundle pelo quarto lugar que permitiu ao jovem Schumacher a se destacar como melhor do resto. Brundle também abandonou, assim como as duas Ferrari. Ivan Capelli nem passou perto, mas Alesi chegou a ser sexto colocado antes de de um vazamento de óleo forçar a saída do #27.
 
O final foi exatamente esse. Mansell, Patrese e Schumacher, no que foi seu primeiro pódio de 155 na F1 – mais do que qualquer outro piloto na história. E tudo começou naquele dia 22 de março no Hermanos Rodríguez. Berger, Andrea de Cesaris (Tyrrell) e Mika Häkkinen (Lotus) – indo aos pontos pela segunda vez na carreira – formaram o grupo dos seis pilotos que saíram de lá com mais tentos.
 
Uma prova entediante num autódromo que não estava acostumado a isso. Um ano antes, Mansell e Patrese já haviam dominado o GP do México, mas numa briga elétrica e vencida pelo italiano. Em 1990, a ultrapassagem de Mansell em Berger marcou história. Uma longa memória que singrava a Peraltada.
 
Era 1992. 23 anos atrás. O ano em que a seleção brasileira masculina de vôlei conquistou a primeira medalha de ouro de esportes coletivos nacionais em Olimpiadas. Também em Barcelona, Magic Johnson saía da aposentadoria forçada após a descoberta de que portava o vírus HIV para liderar o 'Dream Team' do basquete dos Estados Unidos na conquista olímpica. E que Dertartu Tutu se tornou a primeira mulher negra africana a ser medalha de ouro em Jogos Olímpicos, na prova dos 10 mil metros. Foi o ano em que a Dinamarca chocou o mundo ao vencer a Eurocopa. 
 
Foi o ano em que o Nirvana chegou ao primeiro lugar nas paradas da Billboard com o clássico álbum 'Nevermind' e também em que o Guns N' Roses lançou 'November Rain'. Na música e no cinema, Whitney Houston construiu sua lenda em 1992, com o lançamento de 'O Guarda-Costas' e do single 'I Will Always Love You'.
Mario Götze fez o gol do título da Alemanha na Copa do Mundo de 2014. Sequer era nascido no último GP do México (Foto: Footballgate)
Além de 'O Guarda-Costas', 'Quanto Mais Idiota Melhor' saiu da televisão e do SNL para ganhar o cinema. As franquias 'Batman', 'Esqueceram de Mim' e 'Máquina Mortífera' seguiam de vento em popa, enquanto uma das perguntas e respostas mais famosas do cinema entraram em voga quando Jack Nicholson perguntava se Tom Cruise queria saber da verdade, apenas para afirmar que ele não aguentaria a verdade em 'Questão de Honra'.
 
Tenha em mente que a última vez que a F1 correu no México, nomes como o de Kyrie Irving – estrela da NBA – Neymar, Mario Götze – responsável por decidir uma Copa do Mundo -, da supermodelo Kate Upton e inúmeras estrelas hollywoodianas, como Miley Cyrus, Demi Lovato e Josh Hutcherson, sequer haviam nascido – o que ainda aconteceria naquele ano. 
 
Pudera, Felipe Nasr, Daniil Kvyat, Carlos Sainz Jr e Max Verstappen ainda não haviam nascido. 1/5 do grid que volta ao autódromo neste final de semana.
 
A F1 está de volta ao México e ao mesmo autódromo Hermanos Rodríguez agora, em 2015, após pesadas reformas que custaram cerca de R$ 180 milhões. Entre as mudanças, o fim da Peraltada, a curva mais famosa da antiga versão. O que esperar é difícil saber – mas é justo que a expectativa por déjà-vu ao redor da pista seja baixa.
 
Afinal, é um novo século. Um sem a Peraltada.
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