Conta-giro: V6 turbo provam evolução e são mais rápidos e barulhentos em Jerez

Os tempos da primeira semana de testes da F1 em Jerez de la Frontera caíram vertiginosamente em relação à pré-temporada passada. A melhor marca dos treinos coletivos caiu 2s4, os carros quebraram pouco e os motores se mostraram mais barulhentos. Ainda assim, o atual conjunto de regras continua bastante criticado e pode mudar em breve

Tempos mais baixos, menos problemas e mais barulho. Dá para resumir assim, do ponto de vista dos motores V6 turbo, a semana de testes da F1 em Jerez de la Frontera, abrindo a pré-temporada de 2015. Introduzidas em 2014, essas unidades de força que atrelam sistemas híbridos ao motor de combustão interna vêm recebendo muitas críticas desde o princípio desta nova era.

Há cabos eleitorais fortes que pedem a mudança do regulamento — a alternativa mais defendida neste momento é a adoção de propulsores com 1000 cavalos de potência. Mas é incontestável como, com o passar do tempo, nota-se uma evolução.

A complexidade da tecnologia resultou uma apresentação caótica ao mundo quando a F1 foi a Jerez para testes há um ano. Os carros eram lentos, silenciosos e quebravam o tempo todo. A Mercedes acertou a mão por muito enquanto Ferrari e principalmente Renault sofriam demais. Se a primeira impressão é a que fica, é compreensível que muitos não tenham gostado.

Neste ano, não foram necessárias nem duas horas para se mostrar como a situação mudou desde então. Foi o tempo que Nico Rosberg esperou para superar o melhor tempo dos quatro dias de testes no circuito andaluz em 2014.

Foi, também, o tempo necessário para as pessoas começarem a se perguntar se o barulho estava mais alto. De fato, o som aumentou — nada dramático, mas aumentou.

Os motores V6 turbo evoluíram muito desde a 1ª vez que andaram, há um ano (Foto: Mercedes)

Jerez 2014 x Jerez 2015

A Mercedes, ao menos nesta breve comparação, é a que menos evoluiu. Mas também é verdade que tanto os alemães quanto seus clientes não se preocuparam muito com tempos de volta.

Todavia, ao observar os números de Ferrari e Renault, o total de voltas das duas marcas — mesmo indo à Andaluzia com menos equipes — cresceu vertiginosamente. A Renault mal andou em Jerez em 2014. Nesta semana, apesar de alguns problemas, a quilometragem percorrida já foi bem maior.

Também é possível ver que, embora a McLaren-Honda tenha andado muito pouco, o drama dos franceses era maior no ano passado — diga-se de passagem, a montadora japonesa já usara seu V6 turbo em um problemático teste em Abu Dhabi em novembro.

(Arte: Rodrigo Berton)

Como não houve uma mudança drástica no regulamento, a tendência é justamente a evolução dos carros. É por isso que, ao longo da semana, o que mais se ouviu é que o carro deste ano é um passo adiante em relação ao do ano passado. Foi a palavra de Kimi Räikkönen, dono do melhor tempo da semana, a respeito da nova SF15-T. “O equipamento é um tanto melhor que o do ano passado”, disse após seu primeiro dia do carro. E, também, dos pilotos da Williams, que destacaram como a equipe foi capaz de fazer um FW37 corrigindo os pontos fracos do FW36 sem prejudicar os pontos fortes.

Carros pouco espetaculares

Uma reunião do Grupo de Estratégia da F1 em Paris nesta quinta-feira (5) serviu para se discutisse, dentre outras coisas, a ideia de se introduzir motores de 1000 cavalos na temporada 2017. O tricampeão Niki Lauda, presidente não-executivo da Mercedes, foi um que veio a público recentemente para defender a proposta.

Lauda tem vociferado que os F1 estão muito fáceis de guiar — são quase como carros de rua. Diz que a potência fará com que os pilotos voltem a encarar um desafio próprio do nível da F1. “A F1 precisa ser mais rápida e mais difícil, como já foi”, afirmou Lauda ao jornal ‘Salzburger Nachrichten’ no mês passado.

Juntou-se a ele no coro Maurizio Arrivabene, o novo chefe da Ferrari, que quer bólidos que soem como “uma banda de heavy metal”.

"Em 2017, eu também gostaria de ver carros que ganhem os fãs, que os fãs possam se aproximar, que são mais atraentes esteticamente, talvez produzindo um barulho que deixe o cabelo em pé, como aquele de uma banda de heavy metal. Era assim que era quando Niki corria e eu era um entusiasta que comprava ingresso para as arquibancadas”, declarou Arrivabene.

Lauda quer que a F1 seja mais à moda antiga (Foto: LAT Photographic)

Mas não é tão simples assim. Dentre os fatores que se deve ponderar está a alta dos custos, e os V6 turbo já foram caros o suficiente — não o único motivo, mas um dos principais — para fazer com que duas equipes deixassem de disputar corridas em 2014. Até mesmo os times do pelotão intermediário começaram a sofrer, como a Lotus, a Force India e a Sauber. A falta de um teto para o desenvolvimento dos propulsores fez o custo praticamente triplicar.

Para o diretor-técnico da Williams, Pat Symonds, é muito cedo para que se pense em estabelecer um novo ciclo de regras. “Eu gosto da ideia de carros com 1000 cavalos, gosto da ideia de carros espetaculares, mas eu gosto da ideia de ter mais carros no grid. Acho que essa deveria ser a nossa principal preocupação no momento”, ressalta. Ele ainda salienta que foi alcançada uma “incrível melhora na eficiência dos carros, trazendo a tecnologia para o século XXI, tornando-a relevante para a sociedade e tentando fornecer expertise de engenharia que tenha um benefício de verdade para o público”.

Os 1000 cavalos do WEC

O protótipo TS040 da Toyota, campeão do Mundial de Endurance em 2014, tem 1000 cavalos de potência com seu motor de combustão interna V8 aspirado aliado a dois sistemas híbridos de recuperação da energia cinética, na dianteira e na traseira. O anúncio de que o modelo superaria os quatro dígitos de potência gerou enorme frenesi nos fãs.

A Toyota dos campeões Sébastien Buemi e Anthony Davidson tinha 1000 cavalos de potência (Foto: Gabriel Pedreschi)

Mas isso não quer dizer que a correlação entre potência e desafio é tão íntima assim. Com os largos pneus dos protótipos, que dão muito mais aderência do que os compostos usados na F1, não se vê tanto os carros de lado e os pilotos fazendo correções. A beleza está no fato de, mesmo com tanta potência, os carros possuírem tanta estabilidade.

O que é inegável, no entanto, é que um propulsor potente assim na F1 colaboraria com os esforços da FIA de propagar as tecnologias híbridas que tanto quer mostrar — hoje, o WEC é um ambiente muito mais propício para isso. Desde o princípio, a intenção da federação era colocar o Mundial de F1 na rota da sustentabilidade e enquadrá-la no século XXI, entretanto, dá para notar por todas as críticas que a mensagem não chegou tão facilmente ao receptor.

V6 turbo: causa perdida?

É o que acredita, Bernie Ecclestone, o chefão da F1, que afirmou que estes motores, apesar de toda a sua tecnologia, não foram feitos para a categoria.

Os resultados dos quatro dias de testes em Jerez se enquadraram dentro de uma previsão feita pela Pirelli antes do início dos trabalhos: os carros ficariam entre 2s e 3s mais rápidos.

Diante deste cálculo, em muitos dos circuitos, os tempos se aproximariam daqueles que eram anotados pelos carros com os V8 aspirados, ou até os superariam, em 10 de 12 circuitos. No Circuito das Américas, em Austin, e em Interlagos, novos recordes de pole-position já foram estabelecidos em 2014.

Ainda é possível mudar a imagem que se tem dos V6 turbo? (Foto: Getty Images)

Com os V6 turbo e também a redução na carga aerodinâmica dos carros, a velocidade final subiu bastante, o que faz a diferença em pistas com muitas retas. E foi só em um circuito que os carros ficaram mais perto da GP2 do que eram com os V8 aspirados até 2014: o do GP da Espanha, em Barcelona.

Confirmando-se a previsão de que os carros realmente estão mais velozes, é possível que a opinião pública mude de ideia? Symonds acredita que não.

“Eu acho que o que importa é a corrida ser boa. Relativamente falando, os carros são muito mais rápidos do que eram dez anos atrás. Não significa que são melhores. São coisas relativas: o espetáculo, a corrida, a competição. Não é uma questão tão determinista quanto um tempo de volta”, diz.

VERMELHO, VERMELHAÇO, VERMELHANTE…

A Ferrari, tanto como equipe quanto como fornecedora de motores, dominou a semana de testes da F1 em Jerez de la Frontera. A escuderia de Maranello liderou três dos quatro dias de atividades na Espanha. No outro, foi a Sauber, equipe que usa motores Ferrari, que terminou na frente. Nesta quarta-feira, Kimi Räikkönen marcou o melhor tempo da semana.

Leia a reportagem do último dia de testes da F1 no GRANDE PRÊMIO.

McLATA? McLENTA? McNADA… 

A McLaren tornou a demonstrar tranquilidade quanto às falhas apresentadas pelo MP4-30 e seu motor Honda nos testes de pré-temporada em Jerez de la Frontera, na Espanha. De acordo com o diretor de engenharia Matt Morris, os problemas constatados nos últimos dias foram relativamente pequenos — apenas um pouco demorados de se resolver — e não devem provocar atrasos no desenvolvimento do carro.

Leia a reportagem completa direto de Jerez no GRANDE PRÊMIO.

WALKING DEAD TEAM

A Marussia aparantemente vai voltar da terra dos mortos. Os administradores judiciais que passaram a controlar os rumos da equipe em outubro anunciaram que a Marussia vai deixar a situação de controle terceirizado no próximo dia 19 de fevereiro e planeja participar do Mundial de F1 desde o princípio. Agora se apresenta a notícia de que a Marussia vai conseguir se salvar quando tudo parecia perdido.

Leia a reportagem completa no GRANDE PRÊMIO.

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