Conversas de rádio revelam emoção, agradecimentos e reverências nas despedidas de Massa e Webber

O GP do Brasil marcou a despedida de Felipe Massa da Ferrari e de Mark Webber da F1. Conversas de rádio entre os pilotos e os boxes incluíram declarações de amor e respeito pelas parcerias dos últimos anos

“O lembrete mais importante é para você apenas curtir a corrida de hoje”, falou o engenheiro da Red Bull Simon Rennie para Mark Webber, pelo rádio, antes da largada para o GP do Brasil.

“Não é fácil entrar no carro pela última vez”, respondeu o piloto.

A corrida do último domingo (24) marcou a aposentadoria de Webber da F1. Ele vai deixar a categoria para correr com a Porsche no Mundial de Endurance. Foi de maneira semelhante que o brasileiro Felipe Massa encarou seu oitavo GP do Brasil como piloto da Ferrari. Ao contrário de Webber, contudo, Massa vai continuar na F1 em 2014, mas em outra casa: a Williams.

Nos diálogos entre Felipe e os boxes da Ferrari que foram veiculados pela transmissão da FOM (Formula One Management), os momentos mais emotivos foram guardados para o fim da prova. Antes de a corrida começar, Rob Smedley se preocupou em tratar de questões técnicas com seu piloto, levando em conta que, pela primeira vez no fim de semana, a pista estaria seca. Disse para Massa se lembrar de “colocar o carro na posição correta”, entrando mais rápido nas curvas e saindo um pouco mais lento delas para poupar os pneus dianteiros.

As conversas de rádio, aliás, mostram como foi o último GP de Massa na Ferrari e de Webber na F1 por outra perspectiva.

Mecânicos homenagearam Massa quando ele deixou os boxes para o GP do Brasil (Foto: Ferrari)

“A pressão dos pneus está OK. Apenas precisamos encontrar o equilíbrio correto, pois a pista está escorregadia pra caralho”, avisou Smedley.

A corrida começou com Massa fazendo ótima largada e ganhando três posições. “Você já deve sair da bagunça. Foi uma grande primeira volta. P6 no momento”, elogiou Smedley.

Seguiram alguns lembretes básicos: na quinta volta, “tome cuidado com óleo onde você está, Grosjean estourou o motor”; na 11ª volta, “acelere com mais cuidado, saída da curva 12”, a popular Junção; na 12ª volta, “Rosberg reclamando dos pneus traseiros”.

Mais um pouco e Massa passou a Mercedes pela quinta posição. “OK, essa foi uma boa ultrapassagem, cara. Vamos lá, garoto. Vamos lá!”, vibrou o engenheiro.

Nesse meio tempo, o falatório na cabeça de Webber foi bem menor. Rennie se manifestou pouco enquanto via o australiano superar as Mercedes de Rosberg e Lewis Hamilton e a Ferrari de Fernando Alonso. “Lembre-se, pressão dos freios e pare”, falou Simon ao chamar o piloto para a primeira parada de boxes, no 24º giro.

Pouco antes da metade da prova, vieram as conversas que mais chamaram a atenção neste GP do Brasil: Smedley alertando Massa sobre a linha branca na entrada dos boxes. O brasileiro disputava o quarto lugar com Hamilton, que superou na rodada de pit-stops.

Massa se defendia de Hamilton quando foi punido (Foto: Beto Issa/GP Brasil F1)

O ritmo estava agradando. “Assim está bom. Eu acho que Hamilton está com um problema no Kers. Ele não está usando o Kers todo. Apenas continue assim que está bom”, disse Smedley na 30ª volta.

Na 31ª, a bronca: “OK, recebemos outro aviso. Por favor, tome cuidado com a entrada dos boxes. Não cruze a entrada dos boxes com as quatro rodas. Temos outro aviso.”

Aí apareceu na tela que o brasileiro estava sendo investigado pelos comissários. E que foi considerado culpado. “OK, cara, infelizmente temos um drive-through por cruzar a linha branca na entrada dos boxes. Então é isso. Você pode cumprir a punição no fim desta volta, por favor? Passe pelos boxes no fim da volta”, solicitou.

Massa respondeu aos berros, sabendo que eles chegariam aos ouvidos atentos dos comissários da FIA: “Isso é inaceitável! É simplesmente inacreditável. Inacreditável, FIA. Inacreditável! Inaceitável!”

Mark Webber durante seu último GP na F1 (Foto: Getty Images)

A punição de Massa fez Rennie alertar Webber sobre a mesma questão. “Você precisa ficar longe da linha branca na entrada dos boxes. Não vamos receber mais avisos”, afirmou, ouvindo como resposta um seco “OK”.

“No momento, o ritmo é bom. A posição é boa. Você está se distanciando de Alonso, mesmo ritmo de Vettel. Fazendo um bom trabalho, cara”, observou Rennie na sequência. O australiano estava em segundo.

Depois de cumprir o drive-through e voltar à corrida atrás de Sergio Pérez, Massa perguntou: “Como estão os pneus? Quantas voltas?”

“Errr, sim… Precisamos de outras cinco ou seis voltas. Situação de momento com o carro detrás, Hülkenberg está 5s atrás e não é uma ameaça. Ele está mais lento. Hülkenberg, o carro atrás, está mais lento no minuto”, enfatizou.

Passadas as cinco voltas pedidas, Smedley chamou Massa aos boxes.

“Está chovendo um pouco”, respondeu o piloto.

“Continue na pista. Continue na pista. Continue na pista”, corrigiu, então, Smedley.

Massa parou pela última vez na volta 43.

Era a hora de se preocupar em adminstrar o desgaste dos pneus para que eles durassem até o fim da 71ª passagem do GP do Brasil.

“A diferença é estável, em torno de 3s para Pérez. Rosberg e Button estão à frente. Então temos 18 voltas para o fim, comece a pensar em salvar um pouco os pneus e depois começamos a forçar em umas cinco voltas. Mistura P6. 16 voltas para o fim”, orientou o engenheiro de Massa.

Mensagem semelhante foi passada pela Red Bull. “OK, Mark, temos que começar a cuidar dos pneus traseiros neste stint”, disse Rennie. “Cuidado com a saída de traseira. Diferencial sete”, acrescentou.

A cena do dia: a despedida inusitada de Mark Webber em Interlagos (Foto: Getty Images)

Quando Webber passou pela reta dos boxes e abriu a 71ª volta, Rennie passou o rádio para o chefe da Red Bull, Christian Horner. O inglês mandou um recado bastante simpático: “Só mais uma volta, Mark. Aproveite.”

“É, obrigado, caras. Vou aproveitar a última volta. Obrigado.”

Bandeira quadriculada, e Horner se manifestou novamente: “Muito bem, cara. Você teve uma carreira fantástica. Foi brilhante trabalhar com você. Você pode se orgulhar de tudo o que fez, porque nós certamente estamos. Muito bem mesmo.”

Rennie completou: “Bom trabalho, amigo. Absolutamente brilhante. Eu sei que tornamos um pouco mais difícil para você, mas foi uma corrida muito boa. Bom ritmo. Bom trabalho, cara.” Não ficaram de lado os avisos de praxe. “Mistura 1, por favor, e use todo o Kers, se possível”, pediu.

Mas Webber estava mais preocupado é em tirar o capacete para sentir o vento na cara. Foi difícil fazê-lo com o carro em movimento, mas ele conseguiu, com algum esforço.

No pit-wall vermelho, o sangue latino dos italianos gerou conversas um pouco mais afetivas. Foi Stefano Domenicali quem se dirigiu a Massa depois que o brasileiro cruzou a linha de chegada pela última vez em um carro vermelho.

“Nós te amamos. Você sempre estará no nosso coração. E não se esqueça de uma coisa importante: você é um campeão mundial para nós. Obrigado, Feli”, disse o chefe da escuderia de Maranello.

“Obrigado, caras. Grazie mille. Não digam essas coisas, pois posso chorar ao volante!”, respondeu Massa, que também fez sua graça na reta dos boxes: zerinhos.

Massa se despediu da Ferrari com 'zerinhos' em Interlagos (Foto: Getty Images)

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