Deserção da McLaren deixa Renault sem clientes e com equipe em frangalhos. E agora?

A McLaren escolheu trocar os motores da Renault pelos da Mercedes e deixou a marca francesa sem clientes para suas unidades de força. A partir de 2021, salvo alguma mudança drástica, a Renault alimenta apenas a Renault - que, como equipe, fracassa de maneira retumbante em 2019. O que reserva o futuro? O plano de cinco anos termina na próxima temporada

A temporada 2019 da Fórmula 1 deveria ser a do salto da Renault. Após anos de experimentos e laboratório para crescer, a marca francesa vivia o quarto ano do plano de meia década: se as vitórias deveriam começar a vir em 2020, a ideia era que 2019 funcionasse como um reforço da fábrica como campeã do pelotão intermediário e que começasse a incomodar pontualmente as três principais equipes. E na parte de engenharia, de desenvolvimento de motor, perdeu a Red Bull e agora a McLaren – a partir de 2021. O que se vê é regressão. Se a história ensina alguma coisa é que a Renault não é um mar de paciência. 
 
Conforme Cyril Abiteboul bancou ainda no ano passado e ficou gravado no documentário 'Drive to Survive', a Renault tinha muito dinheiro. O suficiente para produzir boas unidades de força, manter a equipe em evolução e ainda pagar um astronômico salário para Daniel Ricciardo – terceiro maior salário da F1 entre os pilotos, diga-se. Então para onde foi essa grana toda?
 
Em primeiro lugar, é necessário que Abiteboul preste contas. Tais rios de dinheiros não são traduzidos na qualidade de trabalho e todas as decisões importantes são aparentemente tomadas de cabeça quente. O caso de Nico Hülkenberg merece destaque: três anos atrás chegou ao time francês como o cara que ia liderar o novo projeto. Com ele, a Renault cresceu nos dois primeiros anos e liderou a 'F1 B'. Ao primeiro sinal de um novo nome brilhante no mercado, foi claramente rebaixado nas preferências da equipe. Outro nome apareceu e, bom, Hülkenberg recebeu o bilhete azul.
Nico Hülkenberg perdeu o emprego (Foto: Renault)
É sabido que Nico tem seus problemas de tratamento e que a relação com a equipe ficou degradada em 2019 por conta das reclamações públicas. Mas parte dessas reclamações nasceram do tratamento de segundo piloto dispensado ao alemão com a chegada de Riccardo. O australiano é um peso pesado e muda de patamar o grupo de pilotos, evidentemente, mas o rendimento na pista não fazia às decisões saídas da garagem. Hülkenberg, com tempo de casa, foi tratado como um qualquer. O que pesa é esse tipo de tratamento, não tanto a contratação de Esteban Ocon. Ricciardo e Ocon formam uma ótima dupla, mas a Renault foi desrespeitosa com seu piloto mais antigo.
 
Há quem tenha a opinião de que a Renault faz um péssimo trabalho em seu retorno à F1, algo com que este jornalista não necessariamente concorda. O projeto de cinco anos foi honesto desde o começo, como foi o da McLaren com Zak Brown, e a Renault conseguiu evoluir a olhos vistos de 2016 para 2017 e de 2017 para 2018. Nada que seja dos sonhos de qualquer um, mas foi um trabalho razoável até o momento. Melhor que o pessoal do motor conseguiu executar, uma vez que os franceses não conseguem se equiparar aos rivais próximos.
 
E daí que vem o baque ainda maior aos planos franceses. Se anos atrás a Renault estudou deixar o Mundial – onde, naquele momento, apenas fornecia motores – após as discussões públicas com a Red Bull, o que seria a ideia agora? Naquela ocasião, a saída foi voltar a ter equipe própria, uma oportunidade aberta pelos problemas da Lotus. Mas e agora? O crescimento atingiu um muro. A McLaren, bem pior no ano passado, com dois pilotos mais jovens – um dos dois dispensado pela própria Renault – e com os mesmos motores passou de passagem. O novato Lando Norris tem mais pontos que Ricciardo e Hülkenberg na atual temporada.
 
Além disso, a Red Bull foi para a Honda neste ano: sobrava a McLaren como cliente restante – um acordo feito em 2018 com a força de Fernando Alonso, que agora não é mais um fator em Woking. Na última semana, a equipe inglesa anunciou que vai utilizar motores Mercedes quando as novas regras chegarem, em 2021. 
Lando Norris e Daniel Ricciardo (Foto: Renault)
A Renault fica com uma equipe própria e abaixo da meta que ela mesmo traçava – que já não era das mais ousadas, sejamos sinceros, para quem tem tantos euros à disposição. E com toda operação dos motores apenas para servir a si própria – ao menos até a segunda ordem. É o soneto de uma operação que dá prejuízo.
 
Com um plano de cinco anos, a Renault vê 2019 chegar ao fim como um ano perdido. E 2020 é um ano de pressão que já começou. Qual será o comprometimento da Renault com a F1 caso termine o plano de cinco anos isolada e abaixo da crítica, longe do top-3, sem clientes e vendo a McLaren escalar a ordem de forças? Especialmente uma vez que o antigo presidente, Carlos Ghosn – que decidiu pelo retorno à F1 como equipe apesar de não ser entusiasta do esporte – saiu da foto enrolado com acusações de corrupção
 
Como em 1985, quando definiu no meio do ano que sairia do grid dois anos após Alain Prost se mudar para a McLaren, e em 2011, passados os anos de glórias, não dá para saber qual será a decisão da fábrica. A palavra oficial é que a saída da McLaren significa menos distração, mas o momento é de enormes interrogações.


 
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