É cedo para ver Russell favorito, mas Bottas errático indica briga apertada em Sakhir

George Russell liderou os dois treinos livres em Sakhir e dá calor em Valtteri Bottas, que errou aos montes na sexta-feira. O finlandês ainda tem chances concretas de ser pole, mas será bem mais difícil do que se imaginava. E essa é a primeira derrota do #77 no fim de semana

Já são anos cultivando a ideia de que Valtteri Bottas é um piloto talentoso, mas que deu o azar de dividir a equipe mais poderosa da história da Fórmula 1 com um monstro como Lewis Hamilton. Para muitos, o finlandês poderia até mesmo ser campeão, tivesse ele um companheiro de equipe menos exigente. Nesse sentido, o GP de Sakhir nos permite testar Bottas contra o ainda relativamente imaturo George Russell, consequência do coronavírus de Lewis Hamilton. Em primeira análise, após os treinos livres de sexta-feira (4), as impressões já jogam contra o finlandês: é que o jovem britânico está dando mais trabalho do que se imaginava.

Russell chegou no GP de Sakhir, em bom português, chutando o pau da barraca. Liderou o TL1 e, para não deixar dúvidas de que é veloz mesmo, liderou o TL2 também. Bottas, que tanto costuma brilhar nas sextas, não encontrou a mesma velocidade. Pior: foi muito errático. Valtteri sofreu para manter o carro no asfalto, escapando até dizer chega na atividade noturna. Dos 21 tempos deletados, seis foram do #77.

O melhor desses tempos de Bottas era 0s2 mais rápido que o de Russell. O problema é que o finlandês excedeu limites de pista por um triz. Certamente não ganhou esse tempo todo numa escapada só, indicando que ainda tem velocidade e ainda tem chances boas de conseguir uma pole-position em menos de 24 horas.

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Bottas terminou o dia atrás de Russell. A reação precisa vir (Foto: Mercedes)

Só que isso não basta para terminar o fim de semana com sensação de dever cumprido: levar calor de George já é, de certa forma, uma derrota para Valtteri. Bottas deveria ser o líder nato da equipe, conduzindo a busca por uma vitória provável no domingo. Não é o caso, porque um primeiro piloto não pode sofrer tanto para controlar um carro, ainda mais um tão dócil quanto a Mercedes W11. É difícil fazer análise psicológica, mas Bottas dá, sim, sinais de nervosismo. É como se a pressão de ter o sucesso como obrigação o tivesse tirado da zona de conforto de ser um ‘underdog’, uma zebra contra o já claramente superior Hamilton.

Se um dos dois tinha motivos para estar nervoso no GP de Sakhir, esse alguém é Russell. As condições não favorecem o britânico: convocado de última hora, compete com um carro que desconhece por completo e em que nem encaixa direito – compete com sapatilha um número menor, já que o tamanho tradicional não coube muito bem no carro. É o britânico quem tinha que temer resultados decepcionantes, é o britânico quem nunca esteve no centro das atenções e tenta cavar uma vaga na Mercedes no futuro. Ainda assim, deu sinais de que se porta com mais maturidade em um primeiro momento. E com a classificação, seu ponto forte, sendo o próximo desafio.

Este seria um fim de semana particularmente ruim para Bottas vacilar. Não só por conta da comparação direta com Russell no GP de Sakhir, mas porque o pelotão apertou. Um presente do já aprovadíssimo anel externo, que deixou o pelotão dianteiro está mais próximo. Um pouco pela volta curta, outro pouco porque mudou a divisão de forças tradicional da F1.

Se formos listar candidatos a superar a Mercedes, o mais óbvio segue sendo Max Verstappen. O holandês foi só 0s1 mais lento no TL2 e, mantendo essa toada, é candidato à pole-position, que seria a primeira do ano. Talvez não necessariamente pelo combo piloto-carro, mas por conta de uma classificação que promete confusão já vista na F2.

Pietro Fittipaldi fechou o dia em 18º, fazendo bom trabalho (Foto: Haas)

E olha que o ritmo em volta rápida nem é o ponto mais forte da Red Bull. A simulação de corrida foi o que realmente chamou atenção, com Verstappen e até Alexander Albon andando bem com tanque cheio. Quem destacou isso foi o próprio Russell, diga-se, analisando o que a sequência do fim de semana do GP de Sakhir reserva.

No pelotão médio, a McLaren teve um dia preocupante. Os dois carros sofreram problemas mecânicos no TL2 e foi impossível fazer uma simulação de corrida apropriada. E foi um momento bem ruim para isso acontecer: a Racing Point andou muito bem com Sergio Pérez, terceiro melhor do dia, e a Renault fez o mesmo com Esteban Ocon, quarto na tabela de tempos. As duas tem velocidade em voltas rápidas e vêm forte para garantir o Q3, base para uma corrida sólida. A McLaren, bem, talvez sofra já no Q2. E uma combinação dessas, se confirmada, leva a briga pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores ainda aberta para Abu Dhabi.

É uma decepção, mas daquelas que nem surpreendem mais, não falar da Ferrari como pelotão médio. A equipe italiana voltou a ficar um degrau abaixo, como o TL2 deixou bem claro. O TL1 até foi bem digno, mas a sessão complementar tem Sebastian Vettel fazendo cosplay de beyblade. O alemão rodou duas vezes, numa delas quase batendo com Kevin Magnussen. Ou seja, o carro segue tão difícil de pilotar quanto no GP do Bahrein da semana passada. Charles Leclerc, aquele que costuma fazer alguma coisa com a SF1000, teve problemas mecânicos e mal andou.

Chegando no fundão do grid, nos deparamos com uma Haas que ainda se recupera do enorme susto de domingo, quando Romain Grosjean flertou com a morte. O francês sobreviveu, mas com mãos queimadas e precisando ceder o carro para Pietro Fittipaldi. O brasileiro começou o fim de semana com expectativas bem baixas e, verdade seja dita, mandou bem. O piloto não cometeu erros e conseguiu bastante quilometragem, que é mais ou menos tudo que se poderia esperar de hoje. Ser 0s4 mais lento que Magnussen é feio, mas não é o fim do mundo – o brasileiro precisa seguir os passos do dinamarquês, não acreditar que pode vencer a briga interna após oito meses sem pilotar qualquer carro. Pietro tem uma base boa para superar Jack Aitken, que pouco fez na estreia pela Williams, e incomodar Nicholas Latifi. Qualquer coisa além disso será lucro.

Os olhos estão agora todos voltados para a classificação, que promete ser uma das melhores do ano. Não porque Hamilton está fora de combate e temos uma briga em pé de igualdade pela pole, mas porque o anel externo cumpre sua proposta. É simples e, ao mesmo tempo, desafiador. Ninguém parece 100% confortável com as características novas. Que bom. Já está quase na hora de ver quem vai sofrer menos e levar a melhor.

A Fórmula 1 volta a acelerar neste sábado em Sakhir. O treino livre 3 está marcado para 11h (de Brasília), enquanto o treino que vai definir o grid de largada da penúltima etapa da temporada 2020 está marcado para 14h, também hora de Brasília). O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do GP de Sakhir de Fórmula 1 AO VIVO e em TEMPO REALSiga tudo aqui.

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